segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Medicina legal está sucateada em Alagoas


Diante do caos imediato, o diretor do IML defende a importância da medicina legal “como ciência e arte” para elucidar crimes

A perícia criminal nunca esteve tão em evidência na mídia. Seja em crimes de repercussão, como nos casos Mércia Nakashima, Eliza Samudio e Isabella Nardoni, ou em seriados de TV e filmes policiais. Apesar de a medicina legal despertar certa repulsa, não deixa de ser tema palpitante e instiga debates entre cidadãos comuns que se imaginam “experts”. Mas existe um abismo de diferenças entre os roteiros mirabolantes, as superproduções da ficção e a vida real. Quando se trata do Instituto Médico Legal (IML) de Maceió então, a comparação seria um ultraje.
Após a necropsia, corpos são largados no chão, nus, por não haver espaço onde colocá-los. Agentes funerários lavam cadáveres a céu aberto, numa rampa aos fundos do IML, visível para vizinhos. A água podre forma poças. A câmara frigorífica é velha, tem até uma porta emperrada que precisa ser escorada por uma cadeira de rodas. Janelas sem telas de proteção permitem a entrada de insetos voadores que saem contaminados. Serrotes, facas, tesouras, pinças e bisturis sujos são deixados num armário enferrujado, aberto, com portas amassadas.

Falta de estrutura prejudica os trabalhos
A promessa da construção de um novo prédio do Centro de Perícias Forenses (CPFor), num terreno adquirido próximo ao Distrito Industrial, surge como a esperança de debelar tantas mazelas. A área de 31.500 m² seria dividida em três módulos (IML, Instituto de Criminalística e Instituto de Identificação). Os R$ 4 milhões para a execução do projeto já chegaram, mas ainda não se tem notícia da obra. Talvez comece ainda este ano.
Diante dessa expectativa, nada mais crucial do que expor os problemas da velha sede para sensibilizar a opinião pública e os poderes constituídos. A direção do IML aceitou o desafio proposto pela reportagem da Gazeta e teve a coragem de abrir todas as portas do órgão, de uma forma que nunca foi mostrada antes na imprensa alagoana. Acompanhado da assessoria de comunicação da Secretaria de Defesa Social, Gerson Odilon mostrou por que as siglas IML e CSI (Crime Scene Investigation, do seriado de TV americano) estão tão distantes.

Obra do novo IML deve iniciar este ano
O cartão de visitas do IML não é nada agradável. Quem já vive o drama de ter de ir ao local, toma o primeiro choque na recepção. Só há uma sala de atendimento, onde vítimas de estupro e de acidentes se deparam com bandidos algemados para fazer o exame de corpo de delito. Parentes de vítimas de assassinatos e mortes violentas também esperam no mesmo ambiente com crianças abusadas sexualmente, conselheiros tutelares, mulheres espancadas e policiais armados.
Vivendo a ansiedade de acabar com isso, o diretor do IML, Gerson Odilon, está discutindo com o Serviço de Engenharia do Estado de Alagoas (Serveal) as adaptações finais do projeto de construção do módulo do novo IML. De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), a obra será iniciada ainda este ano. Devem ser investidos R$ 2 milhões para a construção do prédio e outros R$ 2 milhões para o reaparelhamento dos três órgãos que compõem o CPFor: IML, Instituto de Criminalística (IC) e Instituto de Identificação.

Perícia médica é tema de palestra
O diretor do IML soube prender a atenção da plateia na palestra promovida pela Associação de Polícia (Apocal). Tanto por detalhar como a medicina legal pode ser útil nas investigações, como pelas orientações que passa aos agentes da lei para colaborar com o trabalho de perícia. Mas o ápice da apresentação acontece quando o legista começa a apontar a estrutura precária que fere a dignidade humana.
Mostrando os problemas em slides, ele aponta o sistema hidráulico falho, que até pouco tempo dispunha de caixas d’água no chão. “Um funcionário lavava uma lata de sangue e deixava a caixa suja, a mesma água era canalizada para as torneiras. Depois que descobriu o problema, um legista falou: ‘pôxa, quantas vezes escovei meus dentes com essa água?”, profere Gerson Odilon, diante do público estupefato.


Um comentário:

  1. Advogados defensores ainda contratam legista desse Instituto que nem recurso tem para fazer perícia em favor de seus clientes?
    Só pode ser para tirar mais um pouquinho dos réus.

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