Mãe bonobo brinca com seu filhote no Zoológico de San Diego, na Califórnia. Algumas das sensações não servem apenas para satisfazer necessidades imediatas
Um biólogo inglês coleciona flagrantes de prazer entre animais. E quer provar que eles se emocionam como nós
O que há em comum entre um casal de leitões tocando os focinhos e um esquilo estatelado sobre um tijolo? A sensação de prazer. Essas manifestações quase humanas, de carinho ou de bem-estar, despertam o interesse de pessoas comuns e intrigam os cientistas. Para os pesquisadores, as sensações positivas estariam ligadas a necessidades biológicas imediatas. Os animais sentiriam prazer em se alimentar para matar a fome. Gostariam do sexo para perpetuar a espécie. Mas esse consenso científico está sendo questionado. De acordo com o biólogo inglês Jonathan Balcombe, da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, os animais também buscam outros prazeres, desvinculados de necessidades básicas, como acontece com os humanos. “Podem surgir em situações banais, como uma brisa fresca, um banho de rio ou um abraço apertado”, diz. A tese é defendida no livro The exultant ark (algo como A arca exultante), publicado no mês passado. Além de argumentos científicos, ele traz belas imagens de 75 fotógrafos de natureza.
Balcombe se baseia em estudos científicos sobre o cérebro dos vertebrados. O prazer está ligado a uma região conhecida como núcleo acumbente, que nós, humanos, temos em comum com outros animais. Isso mostraria que esses bichos sentem prazer de forma parecida com a nossa. “Há indícios na expressão facial e nos movimentos do corpo”, diz Balcombe. Em última instância, esses prazeres também têm uma função evolutiva. Deixam os indivíduos mais felizes, o que faz bem à saúde e aumenta as chances de encontrar parceiros. Para alguns pesquisadores, porém, será um desafio entender como os animais sentem. “Cada pessoa sente prazer de um jeito. Imagine se compararmos espécies diferentes”, diz Mauro Lantzman, veterinário da Pontifícia Universidade Católica (PUC), em São Paulo.
Mesmo que seja difícil humanizar as emoções animais, as pesquisas de Balcombe têm interesses que vão além da ciência. Seu objetivo é estimular os estudos de comportamento animal para criar argumentos que ajudem a combater práticas cruéis, como as de alguns zoológicos ou circos. “Essas revelações mudariam a forma como tratamos os bichos”, diz.
Época
E o ser humano ainda não aprendeu a tratá-los
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