domingo, 26 de abril de 2009

Pessoas se 'deletam' com mais facilidade, diz psicanalista


Vivemos uma epidemia de crimes inusitados que não dá sinais de diminuir. A avaliação é do psicanalista e médico psiquiatra Jorge Forbes, que há alguns anos estuda e trabalha com situações de violência extrema envolvendo famílias e amigos. Entre outras barbaridades, já escreveu e tentou entender os casos de Isabella Nardoni e Suzane Von Richthofen, para ficar em dois episódios de grande repercussão.
Para Forbes, as mudanças na sociedade impostas pela globalização refletiram no surgimento de um novo tipo de violência: o crime inusitado. Que é diferente do crime "situado", onde há uma motivação mais aparente (por vingança, por ódio, para poder roubar). Para empresar um jargão da internet, o psicanalista compara o estado das relações sociais hoje com a vida no mundo virtual.
"Hoje, a possibilidade de uma pessoa deletar a outra, tanto metafórica quanto literalmente, é muito freqüente. Passa-se da amizade pra indiferença absolutamente sem cerimônia nessa sociedade", avalia. Os crimes de família ou inusitados, como Forbes os chama, vêm daí. "Nós começamos a ver uma série de casos que não correspondem ao que nós estávamos habituados a conhecer na teoria do crime." O choque gerado por esse crime é maior que o dos crimes 'normais', explica Forbes, porque o inimigo pode ser quem menos se imagina ¿ nestes casos, alguém da família. "Esse tipo de crime aflige muito mais a sociedade por isso, porque você não consegue prever que uma menina loira bonitinha da classe média alta participe do assassinato do pai e da mãe de maneira fútil e inconseqüente."

Sociedade em xeque

Com a entrada em cena dos tais crimes inusitados, a própria sociedade é posta em questão - com conclusões até indigestas, no entender do psicanalista. "Se Suzane fez o que fez, os pais olham pros filhos e pensam 'meus filhos também podem fazer isso comigo!' A sociedade começa a pedir detectores de meNtais (o trocadilho com metais é intencional)."
Apesar das perspectivas que traça, o estudioso das psicopatologias da vida cotidiana vê sintomas que indicam melhora. "Estes crimes inusitados devem diminuir à medida que nós aprendemos a habitar o mundo globalizado. Hoje, estamos tentando entender o mundo novo com a cartilha antiga. Ainda tateamos novos conceitos", acredita. Como comparativo, Forbes cita os avanços da medicina. "Hoje em dia ninguém se assusta mais com o Bacilo de Koch, mas anos atrás era um pega pra capar."

Por Fabrício Calado Moreira
Redação Terra

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