domingo, 24 de julho de 2011

Mulher que sequestrou bebê em São Gonçalo pede perdão e diz que se arrependeu



RIO - 'Minha pequena está aqui e não vai sair nunca mais. Sem mim, ela não vai nem para tomar banho'. Assim a auxiliar administrativa Elisa Silva Barbosa resumiu, no início da madrugada deste domingo, o alívio ao reencontrar a filha recém-nascida, Ayana Mlila, sequestrada de dentro do Hospital São José dos Lírios, em São Gonçalo, na noite de sexta-feira . O pai da criança, Joffre Lazarius, foi até a cidade de Cordeiro, onde mora Tanit Cardoso Peixoto, de 27 anos, a ex-estagiária de enfermagem que raptou a criança e, se dizendo arrependida, se apresentou à polícia horas depois.

Usando um jaleco branco e um carteira profissional falsa (não há a informação se de médica ou de enfermeira), Tanit entrou no hospital e se apresentou aos pais de Ayana como pediatra. Afirmou que precisava levar o bebê para fazer exames e fugiu com a criança dentro de uma bolsa, pela porta da frente da unidade.

Já com a filha nos braços, Eliza, muito emocionada, afirmou que tinha certeza de que a criança seria encontrada. Comparou o episódio a um pesadelo e afirmou que ela e a filha nasceram de novo. Não poupou críticas à segurança do hospital e, principalmente, à Tanit. A sequestradora, mãe de dois meninos (3 e 6 anos), pediu perdão à família de Ayana e justificou sua atitude argumentando que sempre sonhou em ter uma filha. Segundo ela, até dois meses atrás, ela criava uma menina, que lhe foi dada pela mãe biológica. A mulher, porém, se arrependeu e exigiu que Tanit devolvesse a criança. A explicação, porém, não comoveu Eliza.

- Jamais vou perdoar essa mulher. Não quero saber se ela perdeu uma filha ou não. O que ela fez foi coisa de monstro, não de ser humano. Minha outra filha (de um casamento anterior), de 4 anos, ficava perguntando onde estava a maninha dela, por que o monstro levou a maninha dela - lembrou Eliza, no hall do hospital.

Com o 'coração a mil', como ela mesmo definiu a sensação de receber a filha de volta, criticou o hospital São José, uma unidade particular, no bairro do Zé Garoto, em São Gonçalo.

- Entraram e saíram pessoas (do hospital) sem nenhuma identificação. Essa mulher (Tanit) não apresentou nem um crachá. Uma funcionária desconfiou, mas não fez nada. Minha filha estava aqui dentro, e foi daqui que a tiraram. Fiquei muito triste com a questão da segurança.

Pai da recém-nascida, Joffre também afirmou não ser capaz de perdoar Tanit e fez coro à esposa ao comentar a facilidade com que a criança foi raptada.



- Se ela (Tanit) sabe a dor de perder uma filha, como é capaz de fazer isso com o filho dos outros? Se eu a encontrasse, não sei do que seria capaz. E me incomodou muito como ela conseguiu levar minha filha. Antes de entrar aqui, ela tentou fazer a mesma coisa em dois hospitais públicos, mas foi barrada na porta. A gente imagina que isso acontece em hospital público, mas não num privado, como a São José. Pagamos um plano de saúde caro e temos que passar por isso - criticou.

Mãe e filha deixaram o Hospital São José dos Lírios neste domingo. Com a menina nos braços, os pais deixaram o hospital sob aplausos. A doméstica Benedita de Souza, de 41 anos, foi uma das que vibraram pelo desfecho feliz da história.

- Estou com meu marido internado aqui e acabei fazendo amizade com eles. Todos estavam torcendo para que encontrassem a menina. Foi uma vitória - comemora ela, enquanto fotografa a bebê.


Tanit sustenta que não premeditou o sequestro. Ela disse ter ido a São Gonçalo visitar amigos que fez no hospital quando trabalhava como estagiária de enfermagem. Segundo ela, ao entrar no quarto em que estavam Ayana e os pais, pediu para ver se estava tudo bem com a criança, mas ao pegá-la nos braços,"se apaixonou" pelo bebê, o colocou numa bolsa e saiu pela porta da frente da São José. Em seguida, embarcou num táxi até Itaboraí, onde comprou roupas e artigos para bebê, como fraldas e mamadeira, antes de ir para Cordeiro. No dia seguinte, foi à casa do pai, na mesma cidade, e, se dizendo arrependida, prometeu que se apresentaria à polícia.

Tanit contou ainda, que pouco antes de ir à polícia, assistiu na televisão a uma reportagem sobre o sequestro da criança. Só então se apresentou à delegacia de Cordeiro, onde confessou o crime. Ela foi trazida para a 72ªDP (São Gonçalo), responsável pelo caso.

- Eu tenho dois filhos e estava criando uma menina. Mas como não tinha documentação, há dois meses, a mãe biológica pediu a criança de volta. Pelo amor de Deus, quero pedir perdão à família. Ao passar pela guarita do hospital, me arrependi. No dia seguinte, vi que não podia fazer essa família passar pela mesma dor que eu passei quando levaram minha filha. Fui à delegacia por vontade própria e estou aqui para pagar pelo que fiz - chorando, afirmou Tanit, que disse ser adotada.

De acordo com Jofre, o pai da criança, assim que Tanit saiu da loja de Itaboraí, o proprietário do comércio, que conhece os donos do Hospital São José, entrou em contato para contar que a sequestradora havia feito compras. A partir dessa pista, a polícia chegou à Tanit, que garante não ter feito qualquer mal à criança:

- Dei banho, perfumei a criança e a coloquei no bebê-conforto do meu carro para levá-la à delegacia.

O Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Verbratec© Desktop.