O júri do rumoroso caso da menina Isabella Nardoni, que morreu aos cinco anos após sofrer uma queda do sexto andar do apartamento em que morava, foi acompanhado pela autora e pesquisadora de crimes violentos Ilana Casoy.
No livro "A Prova é a Testemunha", Casoy recria os cinco dias de julgamento e mostra como a perícia técnica conseguiu incriminar o casal Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni no assassinato de Isabella.
Uma série de indícios colocou em xeque a versão do pai e da madrasta: havia vestígios de sangue no apartamento, Isabella tinha marcas de asfixia e quebrou apenas um pulso na queda. Havia também o relato de vizinhos que teriam ouvido a menina gritar "Para, pai! Para, pai!" e marcas da tela do apartamento foram encontradas na camiseta de Alexandre.
A linha do tempo feita pelo promotor Francisco Cembranelli e o depoimento dos peritos que trabalharam no caso foram considerados, pela autora, os pontos fortes da acusação para condenar o casal Nardoni. A dupla foi condenada por homicídio triplamente qualificado e fraude processual (por ter alterado a cena do crime). De acordo com a sentença, no total, Alexandre foi condenado a 31 anos, um mês e dez dias de prisão por homicídio triplamente qualificado, pelo fato de ter sido cometido contra menor de 14 anos e agravado por ser contra descendente. Ele também foi condenado a oito meses pelo crime de fraude processual, em regime semiaberto.
Já Anna Carolina foi condenada a 26 anos e oito meses de prisão, por homicídio triplamente qualificado, cometido contra menor de 14 anos, e mais oito meses pelo crime de fraude processual, também em regime semiaberto.
Em entrevista à Livraria da folha, Ilana Casoy conta que Alexandre Nardoni é seguro, dominante no casal, tem um discurso mais preparado. Já Anna Jatobá é mais nervosa.
Veja entrevista:
Livraria da Folha -O que a senhora destacaria do júri da menina Isabella?
Ilana Casoy- A imprensa observou o julgamento em partes, porque havia um rodízio a ser obedecido pelos jornalistas. Minha observação do júri foi ininterrupta, de forma que pude contá-lo na sua totalidade, fazendo com que o leitor "assista" por inteiro o que aconteceu no plenário durante os cinco dias do julgamento. Assim, cada um pode ouvir defesa e acusação, sendo também jurado dessa história.
Livraria da Folha - Você teve contato com as famílias envolvidas? Qual foi a reação diante da sentença final?
Casoy- Não gostaria de falar sobre a família na divulgação do livro. Contei apenas o que aconteceu no júri, fazendo com que o meu leitor participasse de tudo. Cada dia constitui um capítulo do livro, e o momento da sentença é o epílogo.
Livraria da Folha -Qual era o ambiente do júri?
Casoy- O ambiente do júri é sempre de muita tensão e emoção, mesmo naqueles em que não há plateia. Vidas serão decididas, provas apresentadas, respostas dadas. Ali ninguém está feliz, todos perdem ou perderam, são vidas marcadas para sempre.
Livraria da Folha - Como você define Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá?
Casoy- Alexandre é seguro, dominante no casal, tem um discurso mais preparado e muitas vezes se insurgiu quanto a essa ou aquela pergunta. Anna Carolina é mais ansiosa, nervosa, fala muito depressa, se atropela nas palavras e explicações. Alexandre é mais razão, Anna Carolina mais emoção.
Livraria da Folha - A comoção da sociedade com o caso foi muito grande, isso era claramente percebido dentro do júri?
Casoy- O júri é um mundo separado. Quando você entra no plenário, tudo em volta silencia, as pessoas prestam concentrada atenção no que está sendo perguntado e respondido por quem esta sendo ouvido. Os jurados ficam "sequestrados", não sabem o que se passa lá fora. E como a decisão é unicamente deles, é isso que importa, que possam decidir com tranquilidade. Só souberam o que aconteceu do lado de fora da sala quando acabou o julgamento, o juiz jamais permitiria que houvesse qualquer tipo de interferência dentro do plenário. Apesar da emoção que cada pessoa pudesse carregar consigo, qualquer manifestação estava fora de cogitação.
Livraria da Folha - O que você acha do júri ter se tornado um "evento"?
Casoy- Não sabemos por que certos casos ganham o interesse público e outros não. Na mesma época do caso Isabella eu estava naquele mesmo fórum estudando o caso do menino Elvis, no qual a mãe era acusada de tê-lo assassinado. Não saiu uma linha sequer nos noticiários, mas também tratava-se de crime onde a linha do sagrado é rompida. Esses crimes são particularmente chocantes, porque a pessoa que deveria amar e proteger a vítima é o seu algoz. São situações difíceis de compreender e aceitar.
Livraria da Folha - De todos os crimes que já tenha pesquisado, acredita que esse tenha sido o mais complexo?
Casoy- A complexidade pode ter várias facetas: emocionais, periciais, técnico-jurídicas e etc. Nenhum caso é "o mais" em tudo, cada um é um e tem sua particularidade. A dificuldade maior talvez tenha sido mostrar aos jurados seis mil páginas de informações em apenas 5 dias, em um caso em que os réus negavam autoria e a perícia os apontava como culpados através de provas técnicas, além de todos os casos de crimes em família serem especialmente dolorosos. Este não fugiu a regra.
Livraria da Folha - Foi feito justiça no caso Isabella?
Casoy- Sempre que um caso é julgado pelo júri popular, acredito sim que justiça foi feita. São sete pessoas do povo, completamente leigas, que votam em segredo e não tem que explicar porque absolveram ou condenaram. Hoje em dia, para protegê-los ainda mais, são contados apenas os votos até que se tenha maioria, de forma que nós nem ficamos sabendo quantos votaram de cada maneira. Assim ninguém pode ser cobrado por ter acreditado na culpa ou inocência de alguém.
No livro "A Prova é a Testemunha", Casoy recria os cinco dias de julgamento e mostra como a perícia técnica conseguiu incriminar o casal Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni no assassinato de Isabella.
Uma série de indícios colocou em xeque a versão do pai e da madrasta: havia vestígios de sangue no apartamento, Isabella tinha marcas de asfixia e quebrou apenas um pulso na queda. Havia também o relato de vizinhos que teriam ouvido a menina gritar "Para, pai! Para, pai!" e marcas da tela do apartamento foram encontradas na camiseta de Alexandre.
A linha do tempo feita pelo promotor Francisco Cembranelli e o depoimento dos peritos que trabalharam no caso foram considerados, pela autora, os pontos fortes da acusação para condenar o casal Nardoni. A dupla foi condenada por homicídio triplamente qualificado e fraude processual (por ter alterado a cena do crime). De acordo com a sentença, no total, Alexandre foi condenado a 31 anos, um mês e dez dias de prisão por homicídio triplamente qualificado, pelo fato de ter sido cometido contra menor de 14 anos e agravado por ser contra descendente. Ele também foi condenado a oito meses pelo crime de fraude processual, em regime semiaberto.
Já Anna Carolina foi condenada a 26 anos e oito meses de prisão, por homicídio triplamente qualificado, cometido contra menor de 14 anos, e mais oito meses pelo crime de fraude processual, também em regime semiaberto.
Em entrevista à Livraria da folha, Ilana Casoy conta que Alexandre Nardoni é seguro, dominante no casal, tem um discurso mais preparado. Já Anna Jatobá é mais nervosa.
Veja entrevista:
Livraria da Folha -O que a senhora destacaria do júri da menina Isabella?
Ilana Casoy- A imprensa observou o julgamento em partes, porque havia um rodízio a ser obedecido pelos jornalistas. Minha observação do júri foi ininterrupta, de forma que pude contá-lo na sua totalidade, fazendo com que o leitor "assista" por inteiro o que aconteceu no plenário durante os cinco dias do julgamento. Assim, cada um pode ouvir defesa e acusação, sendo também jurado dessa história.
Livraria da Folha - Você teve contato com as famílias envolvidas? Qual foi a reação diante da sentença final?
Casoy- Não gostaria de falar sobre a família na divulgação do livro. Contei apenas o que aconteceu no júri, fazendo com que o meu leitor participasse de tudo. Cada dia constitui um capítulo do livro, e o momento da sentença é o epílogo.
Livraria da Folha -Qual era o ambiente do júri?
Casoy- O ambiente do júri é sempre de muita tensão e emoção, mesmo naqueles em que não há plateia. Vidas serão decididas, provas apresentadas, respostas dadas. Ali ninguém está feliz, todos perdem ou perderam, são vidas marcadas para sempre.
Livraria da Folha - Como você define Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá?
Casoy- Alexandre é seguro, dominante no casal, tem um discurso mais preparado e muitas vezes se insurgiu quanto a essa ou aquela pergunta. Anna Carolina é mais ansiosa, nervosa, fala muito depressa, se atropela nas palavras e explicações. Alexandre é mais razão, Anna Carolina mais emoção.
Livraria da Folha - A comoção da sociedade com o caso foi muito grande, isso era claramente percebido dentro do júri?
Casoy- O júri é um mundo separado. Quando você entra no plenário, tudo em volta silencia, as pessoas prestam concentrada atenção no que está sendo perguntado e respondido por quem esta sendo ouvido. Os jurados ficam "sequestrados", não sabem o que se passa lá fora. E como a decisão é unicamente deles, é isso que importa, que possam decidir com tranquilidade. Só souberam o que aconteceu do lado de fora da sala quando acabou o julgamento, o juiz jamais permitiria que houvesse qualquer tipo de interferência dentro do plenário. Apesar da emoção que cada pessoa pudesse carregar consigo, qualquer manifestação estava fora de cogitação.
Livraria da Folha - O que você acha do júri ter se tornado um "evento"?
Casoy- Não sabemos por que certos casos ganham o interesse público e outros não. Na mesma época do caso Isabella eu estava naquele mesmo fórum estudando o caso do menino Elvis, no qual a mãe era acusada de tê-lo assassinado. Não saiu uma linha sequer nos noticiários, mas também tratava-se de crime onde a linha do sagrado é rompida. Esses crimes são particularmente chocantes, porque a pessoa que deveria amar e proteger a vítima é o seu algoz. São situações difíceis de compreender e aceitar.
Livraria da Folha - De todos os crimes que já tenha pesquisado, acredita que esse tenha sido o mais complexo?
Casoy- A complexidade pode ter várias facetas: emocionais, periciais, técnico-jurídicas e etc. Nenhum caso é "o mais" em tudo, cada um é um e tem sua particularidade. A dificuldade maior talvez tenha sido mostrar aos jurados seis mil páginas de informações em apenas 5 dias, em um caso em que os réus negavam autoria e a perícia os apontava como culpados através de provas técnicas, além de todos os casos de crimes em família serem especialmente dolorosos. Este não fugiu a regra.
Livraria da Folha - Foi feito justiça no caso Isabella?
Casoy- Sempre que um caso é julgado pelo júri popular, acredito sim que justiça foi feita. São sete pessoas do povo, completamente leigas, que votam em segredo e não tem que explicar porque absolveram ou condenaram. Hoje em dia, para protegê-los ainda mais, são contados apenas os votos até que se tenha maioria, de forma que nós nem ficamos sabendo quantos votaram de cada maneira. Assim ninguém pode ser cobrado por ter acreditado na culpa ou inocência de alguém.
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