Recentemente tivemos contato com uma família na qual os filhos gêmeos nasceram com condições físicas diferentes. Ambos meninos, um deles apresentava uma limitação física congênita.
Por conta dessa situação, o outro filho, saudável, foi colocado na função de “guardião” do irmão; os pais o encarregavam de cuidar dele em festas, na escola e quando estivessem com outras crianças.
Desse modo, em pouco tempo, o irmão com dificuldade começou a ter um comportamento autoritário, submetendo o seu “guardião” a todas as suas vontades. E este, por sua vez, nunca o contrariava, provavelmente pela culpa que sentia por ser mais saudável.
Ao filho especial não eram dados limites; os pais satisfaziam seus desejos e não o deixavam frustrar-se. O outro, por ser visto como uma criança sem problemas, não era motivo de preocupações. Seus anseios, desejos e expectativas eram pouco percebidos pelos pais.
Entretanto, essa dinâmica começou a se evidenciar na escola, e os pais foram chamados para uma conversa. Ficou claro o quanto os dois estavam impedidos de se manifestar como indivíduos singulares, providos de aspectos e potenciais diferentes.
Os pais aceitaram a sugestão da orientadora, para que procurassem a orientação de um psicólogo que os ajudasse a lidar com o sofrimento dos filhos.
À medida que o trabalho transcorria, os pais entraram em contato com as próprias dificuldades: culpas, medos e inseguranças. Conseguiram falar sobre esses sentimentos entre si e com os meninos. O diálogo abriu um espaço de ventilação, de circulação de idéias; as emoções começaram a ser tratadas na família sem constrangimento.
Perceberam que não era apenas o filho especial que possuía limitações e sofria. Ao reconhecer que todos tinham seus próprios limites e seu quinhão de dor, passaram a lidar mais naturalmente com a situação.
Esse novo olhar os aproximou, fortaleceu os laços de amor e confiança e permitiu que iniciassem o importante aprendizado que é conviver com as diferenças.
Embora a maioria das gestações e partos gemelares transcorram sem intercorrências, não é raro encontrarmos situações em que um dos gêmeos nasce com necessidades especiais.
Essa é uma situação delicada, que assusta e gera uma série de dúvidas e sentimentos negativos.
Muitos se culpam pela situação e têm dificuldades na forma de se relacionar com cada filho.
Quem vive esta experiência, além de ter que encarar suas próprias dores, precisa dar conta de ajudar cada um dos filhos a lidar da melhor forma possível.
Acreditamos ser importante que os pais não neguem o impacto que esse fato da realidade causa dentro de cada um. Expressar as dores, medos e inseguranças é a melhor forma de encontrar um caminho verdadeiro e acessar os recursos internos necessários para lidar com a situação. Recursos fundamentais também para que se consiga uma aceitação mais serena. Dizemos isso pois, se os pais estiverem em contato com seus próprios sentimentos e lidando com eles, certamente ajudarão os filhos a fazer o mesmo.
Não negar as dificuldades do irmão que tem necessidades especiais e permitir que os filhos se manifestem com liberdade é a melhor forma de ajudá-los a trilhar os próprios caminhos.
Sabemos que momentos como esses, que desestabilizam a família, são muito difíceis. Mas, por outro lado, mobilizam as pessoas a enfrentarem os conflitos que surgem. Isso pode se acentuar quando o gêmeo saudável mudar de fase ou fizer uma conquista que o outro ainda não atingiu, ou que não atingirá por sua limitação. Quando esse tipo de coisa acontece, os pais precisam, de alguma maneira, garantir que o filho usufrua do seu crescimento, sem se culpar por isso ou limitar-se em função do irmão. Talvez seja preciso dizer a ele que pode continuar sendo solidário, amigo e companheiro de seu irmão, apesar de suas diferenças. E lembrar o outro gêmeo, com necessidades especiais, sobre seu potencial, incentivando-o a dar o melhor de si, mas sempre tomando cuidado para não negar ou minimizar as suas limitações.
Tratar a realidade como uma inimiga, ou como algo a ser evitado e silenciado, não nos parece uma boa opção. As limitações impostas por ela precisam ser respeitadas, evitando que prevaleçam sobre todas as oportunidades e expectativas.
Claudia Arbex e Sâmara Jorge
Crescer
Por conta dessa situação, o outro filho, saudável, foi colocado na função de “guardião” do irmão; os pais o encarregavam de cuidar dele em festas, na escola e quando estivessem com outras crianças.
Desse modo, em pouco tempo, o irmão com dificuldade começou a ter um comportamento autoritário, submetendo o seu “guardião” a todas as suas vontades. E este, por sua vez, nunca o contrariava, provavelmente pela culpa que sentia por ser mais saudável.
Ao filho especial não eram dados limites; os pais satisfaziam seus desejos e não o deixavam frustrar-se. O outro, por ser visto como uma criança sem problemas, não era motivo de preocupações. Seus anseios, desejos e expectativas eram pouco percebidos pelos pais.
Entretanto, essa dinâmica começou a se evidenciar na escola, e os pais foram chamados para uma conversa. Ficou claro o quanto os dois estavam impedidos de se manifestar como indivíduos singulares, providos de aspectos e potenciais diferentes.
Os pais aceitaram a sugestão da orientadora, para que procurassem a orientação de um psicólogo que os ajudasse a lidar com o sofrimento dos filhos.
À medida que o trabalho transcorria, os pais entraram em contato com as próprias dificuldades: culpas, medos e inseguranças. Conseguiram falar sobre esses sentimentos entre si e com os meninos. O diálogo abriu um espaço de ventilação, de circulação de idéias; as emoções começaram a ser tratadas na família sem constrangimento.
Perceberam que não era apenas o filho especial que possuía limitações e sofria. Ao reconhecer que todos tinham seus próprios limites e seu quinhão de dor, passaram a lidar mais naturalmente com a situação.
Esse novo olhar os aproximou, fortaleceu os laços de amor e confiança e permitiu que iniciassem o importante aprendizado que é conviver com as diferenças.
Embora a maioria das gestações e partos gemelares transcorram sem intercorrências, não é raro encontrarmos situações em que um dos gêmeos nasce com necessidades especiais.
Essa é uma situação delicada, que assusta e gera uma série de dúvidas e sentimentos negativos.
Muitos se culpam pela situação e têm dificuldades na forma de se relacionar com cada filho.
Quem vive esta experiência, além de ter que encarar suas próprias dores, precisa dar conta de ajudar cada um dos filhos a lidar da melhor forma possível.
Acreditamos ser importante que os pais não neguem o impacto que esse fato da realidade causa dentro de cada um. Expressar as dores, medos e inseguranças é a melhor forma de encontrar um caminho verdadeiro e acessar os recursos internos necessários para lidar com a situação. Recursos fundamentais também para que se consiga uma aceitação mais serena. Dizemos isso pois, se os pais estiverem em contato com seus próprios sentimentos e lidando com eles, certamente ajudarão os filhos a fazer o mesmo.
Não negar as dificuldades do irmão que tem necessidades especiais e permitir que os filhos se manifestem com liberdade é a melhor forma de ajudá-los a trilhar os próprios caminhos.
Sabemos que momentos como esses, que desestabilizam a família, são muito difíceis. Mas, por outro lado, mobilizam as pessoas a enfrentarem os conflitos que surgem. Isso pode se acentuar quando o gêmeo saudável mudar de fase ou fizer uma conquista que o outro ainda não atingiu, ou que não atingirá por sua limitação. Quando esse tipo de coisa acontece, os pais precisam, de alguma maneira, garantir que o filho usufrua do seu crescimento, sem se culpar por isso ou limitar-se em função do irmão. Talvez seja preciso dizer a ele que pode continuar sendo solidário, amigo e companheiro de seu irmão, apesar de suas diferenças. E lembrar o outro gêmeo, com necessidades especiais, sobre seu potencial, incentivando-o a dar o melhor de si, mas sempre tomando cuidado para não negar ou minimizar as suas limitações.
Tratar a realidade como uma inimiga, ou como algo a ser evitado e silenciado, não nos parece uma boa opção. As limitações impostas por ela precisam ser respeitadas, evitando que prevaleçam sobre todas as oportunidades e expectativas.
Claudia Arbex e Sâmara Jorge
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