A maioria das mulheres teria dificuldades em lidar com seis pares de gêmeos, mas para a queniana Gladys Bulinya isso é ainda mais complicado – em seu país, muitas pessoas creem que o nascimento de gêmeos é uma maldição.
Sua família não quer mais contatos com ela e até seu marido a deixou após o nascimento do sexto par de gêmeos, temendo que ela estivesse amaldiçoada.
Bulynia, de 35 anos, vive sozinha com 10 de seus 12 filhos em uma casa de sapé de um cômodo a poucos quilômetros do lago Victoria.
Sentada em frente à pequena casa no vilarejo de Nzoia, ela conta que seus primeiros filhos, John e James, nasceram em 1993.
Ela explica que ficou grávida quando ainda era uma estudante secundarista, mas seu namorado era jovem demais para se casar com ela. Sua família então ordenou que ela deixasse os bebês no hospital local para adoção.
Eles explicaram a ela que o povo Bukusu, ao qual sua família pertence, acredita que os gêmeos trazem azar e que, a não ser que ao menos um deles morra, isso significa morte certa para um ou para ambos os pais.
A tradição Bukusu de eliminar o segundo gêmeo não é mais praticada, apesar de casos ocasionais de infanticídio ainda serem registrados em áreas rurais do oeste do Quênia.
Expulsão
Por sorte, diz Bulynia, quando o pai de seu namorado soube que os gêmeos haviam sido abandonados, ele os tomou e vem cuidando de ambos desde então. Ele é de um grupo étnico diferente, os Kalenjin.
Mas seus problemas não acabaram aí. Cinco anos depois ela se apaixonou e se casou com um professor de escola primária.
Ela vivia com a família do marido quando deu à luz seu segundo par de gêmeos, Duncan e Dennis.
Temendo que ela trouxesse a eles um mau agouro e que alguém da família morresse, seus sogros a expulsaram de casa.
“Fui colocada em um mototáxi com meus gêmeos e mandada para a casa do meu pai”, conta ela.
Sua família, porém, teve pouca simpatia por ela. Novamente temendo que ela estivesse amaldiçoada, seus pais não permitiram que ela ficasse na casa da família.
Em vez disso, eles rapidamente arrumaram um novo casamento para ela, com um homem 20 anos mais velho.
O homem concordou porque já não esperava se casar em sua idade.
Mas outros gêmeos vieram. “Mercy e Faith nasceram em 2003, Carren e Ivy em 2005, e Purpose e Swin em 2007”, conta Bulyinia.
Mas foi a chegada de Baraka e Prince, no ano passado, que levou o marido a deixá-la.
“Eu agora tenho que fazer vários trabalhos para alimentar meus dez filhos, porque eu não sei onde ele (o marido) está, e mesmo se ele estivesse por perto, estaria muito velho para trabalhar”, diz.
Ração de milho
Algumas das crianças mais velhas frequentam a escola local. As meninas de cinco anos se revezam para cuidar de Baraka e Prince, de cinco meses, enquanto sua mãe está fora cuidando de jardins ou lavando roupas para os vizinhos.
Dennis, de 11 anos, recebeu uma bolsa para frequentar uma escola privada próxima, enquanto seu irmão gêmeo, Duncan, cuida da criação de gado de um professor aposentado.
Duncan recebe uma ração mensal de milho como pagamento por seu trabalho, e isso é o que alimenta o resto da família.
Apesar de ajudar a família com a bolsa a Dennis, a diretora da escola St Iddah Academy critica a mãe.
“Esta senhora deveria ter feito uma esterilização após descobrir que os homens a estavam usando e descartando”, afirma Margaret Khanyunya.
Bulynia diz que não se arrepende de nada e que considera seus filhos como “uma bênção de Deus”.
Mas ela admite que passou, sob relutância, por uma esterilização, por não poder lidar com mais nenhuma criança. “Foi contra o desejo de minha igreja”, conta.
“Sou católica. Quando tomei a decisão, pedi o perdão de Deus. Estou segura de que Deus entende e vai me perdoar por fazer isso”, disse.
O que realmente a deixa contrariada, ela diz, é a ausência de seus gêmeos mais velhos, hoje com 17 anos.
Ela chora ao relatar seu último encontro com os filhos, há dois anos, quando eles foram circuncidados, em uma cerimônia que marca o rito de passagem da adolescência à vida adulta.
Na cerimônia, cada pai precisa entregar o filho para os anciões da comunidade fazerem a circuncisão.
“Fui convidada ao evento e me pediram duas vezes para apontar meus filhos entre o grupo de 30 garotos”, diz.
“Nas duas vezes apontei para os garotos errados, e meu coração ainda aperta a cada vez que penso naquele dia.”
Sua família não quer mais contatos com ela e até seu marido a deixou após o nascimento do sexto par de gêmeos, temendo que ela estivesse amaldiçoada.
Bulynia, de 35 anos, vive sozinha com 10 de seus 12 filhos em uma casa de sapé de um cômodo a poucos quilômetros do lago Victoria.
Sentada em frente à pequena casa no vilarejo de Nzoia, ela conta que seus primeiros filhos, John e James, nasceram em 1993.
Ela explica que ficou grávida quando ainda era uma estudante secundarista, mas seu namorado era jovem demais para se casar com ela. Sua família então ordenou que ela deixasse os bebês no hospital local para adoção.
Eles explicaram a ela que o povo Bukusu, ao qual sua família pertence, acredita que os gêmeos trazem azar e que, a não ser que ao menos um deles morra, isso significa morte certa para um ou para ambos os pais.
A tradição Bukusu de eliminar o segundo gêmeo não é mais praticada, apesar de casos ocasionais de infanticídio ainda serem registrados em áreas rurais do oeste do Quênia.
Expulsão
Por sorte, diz Bulynia, quando o pai de seu namorado soube que os gêmeos haviam sido abandonados, ele os tomou e vem cuidando de ambos desde então. Ele é de um grupo étnico diferente, os Kalenjin.
Mas seus problemas não acabaram aí. Cinco anos depois ela se apaixonou e se casou com um professor de escola primária.
Ela vivia com a família do marido quando deu à luz seu segundo par de gêmeos, Duncan e Dennis.
Temendo que ela trouxesse a eles um mau agouro e que alguém da família morresse, seus sogros a expulsaram de casa.
“Fui colocada em um mototáxi com meus gêmeos e mandada para a casa do meu pai”, conta ela.
Sua família, porém, teve pouca simpatia por ela. Novamente temendo que ela estivesse amaldiçoada, seus pais não permitiram que ela ficasse na casa da família.
Em vez disso, eles rapidamente arrumaram um novo casamento para ela, com um homem 20 anos mais velho.
O homem concordou porque já não esperava se casar em sua idade.
Mas outros gêmeos vieram. “Mercy e Faith nasceram em 2003, Carren e Ivy em 2005, e Purpose e Swin em 2007”, conta Bulyinia.
Mas foi a chegada de Baraka e Prince, no ano passado, que levou o marido a deixá-la.
“Eu agora tenho que fazer vários trabalhos para alimentar meus dez filhos, porque eu não sei onde ele (o marido) está, e mesmo se ele estivesse por perto, estaria muito velho para trabalhar”, diz.
Ração de milho
Algumas das crianças mais velhas frequentam a escola local. As meninas de cinco anos se revezam para cuidar de Baraka e Prince, de cinco meses, enquanto sua mãe está fora cuidando de jardins ou lavando roupas para os vizinhos.
Dennis, de 11 anos, recebeu uma bolsa para frequentar uma escola privada próxima, enquanto seu irmão gêmeo, Duncan, cuida da criação de gado de um professor aposentado.
Duncan recebe uma ração mensal de milho como pagamento por seu trabalho, e isso é o que alimenta o resto da família.
Apesar de ajudar a família com a bolsa a Dennis, a diretora da escola St Iddah Academy critica a mãe.
“Esta senhora deveria ter feito uma esterilização após descobrir que os homens a estavam usando e descartando”, afirma Margaret Khanyunya.
Bulynia diz que não se arrepende de nada e que considera seus filhos como “uma bênção de Deus”.
Mas ela admite que passou, sob relutância, por uma esterilização, por não poder lidar com mais nenhuma criança. “Foi contra o desejo de minha igreja”, conta.
“Sou católica. Quando tomei a decisão, pedi o perdão de Deus. Estou segura de que Deus entende e vai me perdoar por fazer isso”, disse.
O que realmente a deixa contrariada, ela diz, é a ausência de seus gêmeos mais velhos, hoje com 17 anos.
Ela chora ao relatar seu último encontro com os filhos, há dois anos, quando eles foram circuncidados, em uma cerimônia que marca o rito de passagem da adolescência à vida adulta.
Na cerimônia, cada pai precisa entregar o filho para os anciões da comunidade fazerem a circuncisão.
“Fui convidada ao evento e me pediram duas vezes para apontar meus filhos entre o grupo de 30 garotos”, diz.
“Nas duas vezes apontei para os garotos errados, e meu coração ainda aperta a cada vez que penso naquele dia.”
Murilo Telewa
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