Vídeo mostra devastação logo após enxurrada em Itaipava, no RJ

Rio Santo Antônio cobriu casas e arrastou carros e móveis.
Inspetor escolar e o tio dele resgataram pessoas ilhadas.

Na manhã de 12 de janeiro de 2011, uma quarta-feira, a advogada Anna Benevides, de 55 anos, filmou a maior enchente que ela já viu na vida. Moradora do bairro de Benfica, em Itaipava, distrito de Petrópolis, na Região Serrana do Rio, Anna conta que já presenciou outras enxurradas, mas nenhuma comparável à daquela manhã, às margens do Rio Santo Antônio.

“Eu vi carros e móveis sendo arrastados e uma casa rachando. Mas não tinha consciência de que desciam corpos levados pela correnteza”, recorda. Mais de 800 pessoas morreram em enchentes e deslizamentos na Região Serrana.
Durante as filmagens, a advogada foi narrando o que estava presenciando, como uma oficina mecânica que ficou completamente inundada, com os carros cobertos por água e lama. “Eu filmei o desespero das pessoas ilhadas no telhado. E senti uma total impotência de estar filmando e não poder fazer nada”, conta ela.
Anna impressionou-se com a dedicação de dois homens que resgataram várias pessoas que estavam ilhadas dentro de casa. “Eu só posso agradecer a coragem dos rapazes que entraram na água para ajudar às pessoas”, diz a advogada.

Rapaz conta como resgatou pessoas
O inspetor escolar Fernando Pinheiro Abi Daud, de 28 anos, é nascido e criado no bairro de Benfica. Ele conta que foi acordado quando uma amiga da mãe dele ligou avisando que a casa tinha sido invadida pela água.
“Pulei da cama e fui ver o que houve. Ouvia muitas pessoas gritando: ‘Salva! Salva!”, recorda. Imediatamente, ele pegou um colchão inflável. “Nunca enchi o colchão tão rápido em toda a minha vida”, conta.
Fernando chamou o tio dele, o caminhoneiro Jorge Henrique da Silva Gomes, de 41 anos, e começaram a resgatar quem puderam. “Eu ia com o colchão e a corda. Pegava a pessoa, botava no colchão e meu tio puxava”, conta o inspetor escolar. “Meu medo não era de as pessoas se afogarem, mas de as casas desabarem. Na beira do rio, os alicerces podiam ser destruídos”, acrescenta.
“Eu salvei um senhor, amigo da minha mãe, que tinha recém-operado a vista. Ele não enxergava nada por causa do curativo. Só escutava a fundação da casa trincando”, recorda Fernando. Ele conta que, junto com o tio, salvou umas 15 pessoas que ficaram ilhadas em telhados, ou dentro de casa. O inspetor escolar contou que uma aluna do colégio onde trabalha morreu na enxurrada.
“Apesar de tudo, me senti gratificado. Além do risco de vida, tem o risco de doenças. Mas já fui ao médico, tomei vacina e antibiótico. Fora os arranhões, estou 100%”, conta Fernando. ”Todo ano tem enchente. Mas a desse ano foi a pior. Espero não ver isso de novo. Gostaria de não ver essas cenas novamente”, finalizou.


G1