VERDADE: FAÇA A SUA ESCOLHA!
“Cada segundo é tempo para mudar tudo para sempre”. Charles Chaplin
O caso do menino das “agulhas” de 2 anos, que teve dezenas de agulhas inseridas em seu corpo, “chocou” o Brasil, entretanto este não é o único caso registrado em nosso país. Em 1993, uma criança ficou internada no Hospital São Paulo com 13 agulhas pelo corpo e foi submetida a uma cirurgia para a retirada de apenas uma delas. Em 2000, ao menos quatro casos foram registrados no país, um no Recife e três em São Luís. O pediatra Sérgio Schettini, 63 anos, professor associado da Escola Paulista de Medicina e chefe do serviço de cirurgia pediátrica do Hospital Infantil Menino Jesus, participou do atendimento ao menino que foi internado com agulhas sob a pele do pescoço, peito e abdome em 1993, em São Paulo. A criança tinha 1 ano e 8 meses na época. “Fizemos um procedimento simples, no pronto-socorro mesmo, apenas para a retirada de uma das agulhas que estava mais superficial. As outras ficaram no corpo por não haver risco ao paciente” – relata Sérgio Schettini.
Para o pediatra Sérgio Schettini, os casos em que agulhas são encontradas nos corpos de crianças, com exceção dos acidentes, podem ser diagnosticados como síndrome de Munchausen "by proxy" (por aproximação).
"É uma doença psiquiátrica que se caracteriza quando um adulto simula um sintoma, um acidente para obter carinho. É um indivíduo com carência afetiva patológica. O caso é mais grave e raro quando ele vitimiza uma criança."
Segundo Schettini, a literatura médica aponta que a síndrome de Münchausen "by proxy" ocorre quase sempre pelos pais ou pessoas próximas da família e de forma persistente. "Isso se confunde muito com rituais de magia negra, mas não é. Essa situação é bastante rara na medicina no país."
A síndrome de Münchausen é um transtorno mental em que compulsivamente (ou impulsivamente) o paciente causa ou simula sintomas de doenças, sem lucro secundário aparente para esta atitude, a não ser obter cuidados especiais de outros (parentes, amigos, profissionais do campo psi).
Como relatei na matéria sobre “Traumas Infantis”, a síndrome de Münchausen, é um tipo de trauma infantil, sendo assim, tem as suas conseqüências e deve ser tratado adequadamente. A síndrome de Münchausen by proxi (por procuração) ocorre quando um parente, geralmente a mãe (85 a 95%), de forma persistente, simula, de forma pseudo-intencional, a apresentação de sintomas em seu filho, fazendo com que este seja visto como doente grave, ou mesmo, provocando ativamente a doença, colocando a criança em risco e numa situação que requer atendimento urgente.
A mãe é levada a essa conduta com o objetivo de obter alguma atenção para si e/ou para seu filho, seja em ambiente institucional ou familiar, principalmente do marido ou companheiro, ou se afastar de um lar marcado pela violência. Nas formas clássicas, entretanto, a atitude de simular/produzir a doença não tem um objetivo lógico, parecendo ser uma necessidade intrínseca (impulsiva), ou compulsiva, de assumir o papel de doente ou da pessoa que cuida de um doente.
O comportamento é considerado como compulsivo no sentido de ser imperiosa a sua realização, mesmo tendo consciência de seus riscos. Apesar de compulsivos, não havendo transtorno de consciência, os atos são lúcidos, conscientes, intencionais e premeditados.
O comportamento pode ser considerado "semi-voluntário", até certo ponto, a fim de alcançar um objetivo que é primariamente involuntário e, portanto, compulsivo. Esta doença é um grave transtorno da personalidade, de tratamento difícil e prognóstico reservado. Estes atos são descritos nas classificações como transtornos factícios (caracterizam-se por sintomas físicos ou psicológicos intencionalmente produzidos ou simulados).
A síndrome de Münchausen por procuração é uma forma de abuso infantil. Além da forma clássica por simulação, existem duas outras formas de Münchausen: por intoxicação, e asfixia, onde o filho é repetidamente intoxicado com alguma substância (medicamentos, plantas etc.) ou asfixiado até quase a morte.
No belo filme O Sexto Sentido, quando o garoto protagonista desvenda a causa mortis de uma menina, achando e entregando ao pai da vítima um DVD que mostra a mãe colocando uma substância suspeita em sua comida. Um típico caso de Münchausen.
Outro caso recente em nosso país foi na região metropolitana de Porto Alegre, onde uma técnica de enfermagem injetou uma alta dosagem de sedativos em 11 recém-nascidos. Quando um caso é suspeito, descobre-se que há uma história com anos de evolução e os eventos, apesar de grosseiros, não terem sido considerados quanto à possibilidade de abuso infantil.
Quando existem outros filhos, em 42% dos casos, outro filho também já sofreu o abuso - pesquisa de 1996. É importante não confundir a Síndrome de Münchausen com a de Ganser (doença simulada para se obter afastamento do trabalho, aposentar-se por invalidez, receber um seguro, não se engajar no serviço militar, e, principalmente, tornar-se inimputável em um delito cometido).
Alguns adolescentes apresentam quadro clínico de Münchausen semelhantes aos dos adultos. A doença pode ser considerada um tipo de abuso infantil, concomitantemente a outras formas de abuso, principalmente o sexual.
Quando a criança cresce, desenvolve uma tendência a que participe da fraude, e na adolescência se torne portadora da síndrome de Münchausen clássica típica em que os sintomas são inventados, simulados ou produzidos nela mesma.
Ao contrário do abuso e da violência clássica contra crianças, as mães portadoras da síndrome de Münchausen by proxy não são violentas nem negligentes com os filhos. Esta síndrome foi descrita pela primeira vez por Meadow, em 1977. Ainda hoje é pouco conhecida. Sua abordagem deve envolver especialistas na doença simulada, psiquiatras e psicólogos, enfermagem, assistentes sociais e, mais tarde, advogado e diretor clínico do hospital e profissionais de proteção da criança agredida (Conselhos Tutelares e Juízes da Infância).
Esses casos, como o das “agulhas” muito se é confundido com “Magia Negra”, aqui não quero entrar em questões “religiosas”, entretanto já se fica muito “claro” que se uma pessoa, ou grupo de pessoas são capazes de realizar “magias” como essa, é porque demonstra problemas de ordem psiquiátrica que podem ter sido desencadeadas por “n” situações ocorridas ao longo de sua vida.
Obs: utilizei como base de estudo sobre essa síndrome matérias do colunista Adalberto Tripicchio do site: www.redepsi.com.br. CAMILA LEMES ALVES Psicóloga
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