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domingo, 15 de maio de 2011
Irmã de jovem assassinada luta por justiça contra o crime de homofobia
SÃO PAULO - Kezia Camacho, de 20 anos, chora toda vez que se lembra da irmã, Adriele Camacho de Oliveira, morta no mês passado, aos 16 anos, numa emboscada que teria sido preparada pelos irmãos e o pai da então namorada da adolescente. Há centenas de quilômetros de Brasília, onde quarta-feira acontece a Marcha Nacional contra a Homofobia, Kezia luta em busca de justiça na cidade de Cassilândia, no interior de Mato Grosso do Sul, onde mora a família de Adriele. Inconformada com os rumos da investigação, ela tenta que a polícia faça outra reconstituição do crime, sob argumento de que há falhas da perícia.
Funcionária de uma loja de eletrodomésticos, casada, mãe de um menino de 2 anos, Kezia pouco tem informação sobre o movimento que se alastra pelo país na luta pelas garantias dos direitos dos homossexuais. Sabe "por alto" da decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a união entre pessoas do mesmo sexo e não tem ideia de que Brasília será palco de protesto contra crimes de intolerância.
Ela tenta colocar na cadeia o pai da namorada de Adriele, um fazendeiro que chegou a ser preso na época, mas foi solto. Para ela, as informações do laudo pericial - hematomas e perfurações a faca e estrangulamento - são suficientes para provar que Adriele não foi morta por uma só pessoa, como tentam provar os advogados da família do fazendeiro.
'Minha irmã foi morta por puro preconceito'
Até agora só o filho do fazendeiro assumiu o crime. Ele espera julgamento preso na única delegacia de Itarumã, local do assassinato, onde os 5 mil habitantes permanecem em choque desde o início de abril, quando ocorreu a morte. Há suspeita de que o rapaz tenha assumido a responsabilidade para livrar de eventual prisão o pai, de 36 anos. O filho mais novo do fazendeiro, de 13 anos, também teria envolvimento no crime.
Para a polícia, não há dúvidas de que o homicídio foi motivado por preconceito.
- A motivação é homofóbica, sem dúvida. O crime será tipificado como homicídio qualificado por motivo torpe, a homofobia, e ocultação do cadáver - disse o delegado Samer Agi.
Kezia reforça:
- Minha irmã foi morta por puro preconceito. Nada mais explica o que fizeram com ela. Eles (a família da ex-namorada) fizeram uma emboscada. Mesmo sob ameaças, não vou deixar de lutar - diz Kezia, que já recebeu recados para "parar de mexer com o perigo".
A mãe das meninas, Ednalva Camacho, está em depressão.
- Está difícil para minha mãe porque quase sempre tem alguém que para ela no meio da rua e pergunta sobre o crime. Ela, claro, não aguenta e começa a chorar. Foi uma crueldade o que fizeram - diz Kelly, 18 anos, outra irmã de Adriele.
Ednalva diz que é difícil conceber a ideia de que alguém matou a filha por causa de um preconceito que ela nunca teve.
- Era uma questão pessoal da minha filha, ninguém tinha nada a ver com isso - diz.
A mesma praça onde a mãe das meninas vende sorvete era o lugar onde Adriele e a namorada passeavam de mãos dadas. Lésbicas assumidas, nunca tentaram esconder a opção sexual. Moraram juntas três meses, mas a pressão da família da namorada tornou tudo insustentável.
Ao ligar para o celular da ex-namorada de Adriele, na última quinta-feira, O GLOBO foi atendido por um homem que se identificou como parente dela. Ele perguntou o interesse da reportagem, disse, em tom ríspido, que conversaria com os familiares e retornaria a ligação, o que não aconteceu.
Em páginas de relacionamento na internet, a ex-namorada de Adriele diz que está namorando, agora com um rapaz.
- Imagina o medo que uma menina de 16 anos tem de assumir sua sexualidade depois que a namorada foi morta? Ninguém quer morrer por amor, né? - diz uma adolescente que conviveu com o casal.
O Globo
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