sexta-feira, 22 de julho de 2011

Ansiedade e nervosismo. O filho do coração chegou




Conheça a história de quem conseguiu obter a guarda do filho após anos na fila da adoção e de uma família que espera a mesma oportunidade

"Se não nasceu de mim, certamente nasceu para mim". O verso retirado de um trecho de um poema sobre a adoção, presente em vários sites que discutem o tema, reflete de maneira geral a descoberta de uma relação diferente do processo gestacional, em que cada passo da evolução do bebê é acompanhado ao longo de nove meses.

A "gestação emocional" de um filho adotivo começa desde a fase embrionária do trâmite burocrático e estende-se até o primeiro contato com a criança escolhida para o casal.

A maternidade, nesse caso, é substituída por uma sala reservada no Juizado da Infância e Juventude. No entanto, a expectativa e o coração acelerado pela curiosidade em conhecer o rostinho do filho, tão esperado, são iguais.

Foi o que aconteceu com os pais de L., de um ano e sete meses, a servidora pública Márcia Silva e o marido, o empresário José Alexandre da Silva.

Assim como uma bolsa que se rompe, um telefonema inesperado informando a disponibilidade de um menino para a adoção pegou o casal de surpresa. "Nós recebemos o telefonema da assistente social informando que havia saído uma criança na fila da adoção. Na hora teve aquele impacto, será que vamos dar conta... chegou a hora, é real mesmo? Toda a família ficou com ansiedade de conhecer. A criança estava lá no juizado, tem uma salinha para receber os pais e as crianças, e a assistente apresentou L.", contou.

Feita a apresentação, Márcia visitou L. durante uma semana no abrigo. Logo depois surgiu a liberação da guarda provisória. O sentimento, confessa, foi surgindo aos poucos, na exata medida que uma convivência proporciona.

"O amor é uma descoberta. É plantado a cada dia. Ele foi nos surpreendendo a cada dia. Todo dia nós íamos lá. Aí vimos realmente que era essa criança. E até hoje ele nos surpreende a cada dia. Ele nos proporciona momentos de felicidade. A cada gesto de carinho, a cada gracinha para chamar nossa atenção... isso para nós é muito gratificante. Hoje em dia ele é a nossa paixão", diz emocionada.

Márcia e José entraram na fila para adotar uma criança no final de 2007. Para isso, passaram por um curso de adoção. A servidora pública destaca a importância do aprendizado, já que mostra para os futuros pais como deve ser o comportamento para quem pretende adotar uma criança. Assim como o casal, outros 689 pretendentes encontram-se habilitados para a adoção no Estado. O número é referente a junho, informou a Gerência da Adoção e Abrigamento da Comissão Estadual Judiciária de Adoção (Ceja).

A juíza titular do Juizado da Infância e Juventude de Vila Velha, Patrícia Neves, confirma as palavras de Márcia, e reitera que o curso é o primeiro passo para descobrir as intenções de um casal que busca a adoção e também é uma maneira de "filtrar" aqueles que vêem no processo uma maneira de compensação na vida conjugal.

"As pessoas têm que ter a consciência de que vão ter que fazer este curso. E é através deste curso que a gente observa se as pessoas não estão com vontade de adotar para substituir um filho que faleceu, ou para tentar segurar um casamento que está indo mal, ou uma criança que já viva sob guarda com ela, mas que ela trata como uma empregada doméstica. Nesse curso há a possibilidade da gente fazer a avaliação. Depois da implantação desse curso, os casos de devolução de crianças durante o processo de adoção atualmente é quase zero", destacou a juíza.

A coordenadora pedagógica Carla Menor Fagundes dos Santos e o marido, o supervisor de vendas Reinilson Goulart dos Santos, já passaram pelo curso, e agora esperam pela oportunidade de adotar uma criança. Mesmo já tendo uma filha, a Rafaela, e com a oportunidade de ter outros filhos biológicos, o casal optou pela adoção com o objetivo de resgatar alguém do mundo com a necessidade de ser amparado, além de aumentar a família.

Visitando uma casa de passagem em Vila Velha conheceram e se apaixonaram por um menino de 9 meses. A partir dali passaram a fazer visitas frequentes e a relação se estreitou. Mesmo o menino ainda não estando apto à adoção, o casal se apega a fé e faz planos para o futuro.

"Hoje a gente tem trabalhado essa questão na casa com um menino. Ele está com nove meses, apesar de sabermos que nós não podemos escolher. Nós estamos preparados caso não seja ele e trabalhamos isso também com a Rafaela por ser criança e acabar se apegando também. Esse é o trabalho que a gente faz hoje. A gente espera que seja quem a gente estava visitando, mas se não for, vai ser o que Deus realmente quer", disse.

Mesmo com os pés no chão, o casal se prepara para uma possível chamada da cegonha, ou melhor nesse caso, da Vara da Infância. Sempre quando saem, eles compram roupinhas e acessórios para a criança. O guarda-roupa já conta com várias peças.

"Nós já estamos nos preparativos. É uma gestação, porém uma gestação diferente, a gente não sabe quanto tempo vai levar. A gestação normal costuma ser de nove meses, pode ser um pouquinho antes, mas essa a gente não sabe. Pode ser hoje, amanhã, daqui a seis meses...um ano, então a gente não tem esse prazo", revelou.



Brincando com o 'irmãozinho'
A expectativa pela chegada do irmão fez com que o assunto tomasse conta da sala de aula da filha do casal, a Rafaela. Tanto que a professora criou um boneco de pano chamado Eli Pereira. A cada final de semana, de posse de um termo de adoção, cada aluno leva para casa o boneco e conta como foi o processo de passar um dia com o "irmãozinho fictício", conscientizando assim, a importância da adoção para os mais novos.

A disseminação e orientação quanto à causa da adoção, desde as gerações mais novas, como é feita na sala de Rafaela, é importante para rediscutir e quebrar preconceitos quanto relacionados ao tema. Assim, paradigmas relativos à negativa de casais em adotarem crianças ditas "mais velhas" ou com alguma implicação física possam, com o tempo, deixar de ser uma triste realidade no Estado e no país.



Os números da adoção no Espírito Santo
- Existem 156 crianças aptas para adoção no Estado. A maioria tem
acima de 7 anos de idade e faz parte de grupo de irmãos. Apenas 4
crianças tem idade de até 2 anos.

- Pretendentes habilitados no Estado: 689. A maioria deseja criança de
no máximo 2 anos de idade, sem irmãos.

- Pretendentes estrangeiros habilitados no Estado: 124. A maioria
deseja irmãos entre 6 e 8 anos.

- Adoções no ano de 2010: 221 no Estado e 21 internacionais.

- Adoções em 2011: 92 no Estado e 7 internacionais, até a presente data.

*números referentes ao mês de junho

Gazeta Online

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