sábado, 23 de julho de 2011

Transtorno bipolar atinge 3% das crianças


Temperamental, geniosa, pirracenta. São muitos os adjetivos usados para classificar crianças que oscilam freqüentemente de humor. Há dias em que elas estão bem, tranqüilas, verdadeiros anjos. Em outros, porém, nem parecem ser a mesma pessoa: agem como se estivessem 'endiabradas'. Doença até pouco tempo conhecida como psicose maníaco-depressiva, o transtorno bipolar de humor também atinge crianças de 6 a 12 anos.

"O temperamento dessas crianças é mais explosivo que o normal. Não raramente, elas ciclam várias vezes ao dia. Por isso, muitas sofrem exclusão social", afirma Fábio Barbirato, chefe do Setor de Psiquiatria Infantil da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.

A instituição atende cerca de 60 crianças com transtorno bipolar de humor. Jéssica Silva Lopes de Almeida, 8 anos, é uma delas. Segundo a dona-de-casa Andréia da Silva Lopes, 35 anos, a menina não sossega enquanto não tumultua a sala de aula.

"Minha filha conversa o tempo todo e vive botando apelido nos colegas. O pior é que a Jéssica não faz o trabalho dela e ainda atrapalha os que querem fazer", confessa. Com uma fama dessas, Jéssica já se acostumou a chegar perto dos colegas e eles saírem correndo. "Quando implicam comigo, bato mesmo. Tem um lá que vive levando tapa na mão", diz.


Gangorra de emoções
Se Jéssica vive numa agitação que parece não ter fim, Yago de Pereira Tupper, de 10 anos, chama a atenção pelo jeito calado e introspectivo. Desde pequeno, conta a mãe, ele chora sem nenhum motivo aparente. "Às vezes, Yago fica acabrunhado quando menos se espera e não quer mais falar com ninguém. Por isso, sempre penso duas vezes antes de falar algo, para não magoá-lo", admite Rita de Cássia de Oliveira Pereira, 45 anos, mãe de Yago.

O transtorno bipolar de humor, porém, tem tratamento: medicação à base de estabilizadores de humor e sessões de psicoterapia. O vice-presidente da Associação Psiquiátrica do Rio de Janeiro, Lúcio Simões de Lima, alerta que, quanto mais cedo a criança receber o tratamento adequado, melhor.

"Só assim evitaremos transtornos de conduta mais sérios na fase adulta, como violência e agressividade. Os limites de adultos bipolares são quase sempre nulos. Por causa disso, eles acham que podem tudo na vida", adverte o médico.

Médicos alertam para diagnóstico certo
O caso da oficial de cartório Carla Bigal, a policial que matou com um tiro o ex-namorado policial, chocou o País. Na infância, Carla infernizou a vida da irmã. Até que, quando ela tinha 6 anos, os pais a levaram ao médico. Ela sofria de transtorno bipolar de humor, mas o especialista disse que era "problema da idade".

"Se os sintomas não forem tratados corretamente, as crianças bipolares fatalmente se transformarão em adultos bipolares. Com isso, poderão apresentar quadros de promiscuidade e uso de drogas", enumera Fábio.

Em alguns casos, os sintomas de transtorno bipolar de humor podem até ser confundidos com os de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. "A diferença é que as crianças hiperativas são assim 24 horas por dia. Já as bipolares oscilam de humor: podem ser quietinhas em casa, mas agitadas no colégio e vice-versa", observa Lúcio.

A dona-de-casa Valéria Cortopassos, 37 anos, sempre desconfiou do comportamento agitado do filho. Quando saía às ruas com ele, vivia ouvindo que o garoto não passava de "anti-social" e "mal-educado". Hoje, dois anos de tratamento depois, Erick de Aquino Vogel, 8 anos, é outra criança. "Aprendi a olhar meu filho com outros olhos. Ele se tornou meu maior companheiro", emociona-se a mãe.

O Dia

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