sexta-feira, 2 de julho de 2010

Feira de drogas resiste à UPP da Cidade de Deus


RIO - Principal programa de segurança pública do estado para resgatar a paz nas favelas do Rio, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) conseguiram acabar com a exposição de armas nos morros, mas não com o comércio de drogas. O flagrante de uma feira para a venda de maconha e cocaína, em plena luz do dia, na Cidade de Deus, segunda comunidade a ganhar uma UPP no estado, confirma isso.
O GLOBO teve acesso, com exclusividade, a imagens feitas em maio deste ano, que mostram a livre comercialização de entorpecentes na localidade de Vila Nova Cruzada, conhecida como Rocinha 2, na Cidade de Deus. O local sempre foi considerado pela Polícia Militar como a região de maior resistência ao policiamento comunitário, junto com a localidade vizinha do Karatê. Foi justamente lá que o Batalhão de Operações Especiais (Bope), montou sua base em novembro de 2008.

Comércio ilegal enquanto durarem os estoques
De acordo com o vídeo, é possível ver adolescentes e um homem, que se passa por pedreiro, vendendo cocaína e maconha. O "feirão" da droga, como é conhecido o ponto de venda de entorpecentes da Rocinha 2, começa por volta das 15h e só acaba quando termina o estoque. As cenas mostram ainda um consumo interno forte, onde adolescentes e até senhoras compram as drogas, enquanto crianças e idosos passam pelo local, fingindo normalidade. A cerca de cem metros do lugar, fica um carro da PM.
As imagens já estão sendo analisadas pelo subsecretário de Segurança, Rivaldo Barbosa, que verificará se há omissão por parte dos policiais da UPP da Cidade de Deus, em funcionamento desde fevereiro do ano passado. À frente da pacificadora está o capitão José Luís de Medeiros, o quarto comandante da UPP local.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, alegou não ter visto ainda as imagens, mas disse que determinou uma investigação séria, para saber se não há uma conspiração contra a pacificadora da Cidade de Deus. Ele lembra que um dos principais interessados em acabar com o policiamento por lá é traficante Ederson José Gonçalves Leite, o Sam. Apesar de preso, ele ainda controlava a venda de drogas utilizando a família, como a sua própria mãe, presa em dezembro do ano passado.
- Já recebemos algumas denúncias deste tipo. Não podemos nos esquecer que fizemos mais de 200 prisões na Cidade de Deus, desde que instalamos lá uma UPP. A missão básica sempre foi desarmar os traficantes e levar paz aos moradores. O vídeo parece que não mostra gente armada.
O secretário ressaltou a dificuldade de controlar a Cidade de Deus, a maior área ocupada pela polícia com uma única UPP.
- São mais de 100 mil moradores circulando por lá. A Cidade de Deus é maior do que muitos municípios do interior. É difícil controlar cada ponto, pois a comunidade é muito complicada, com muitas saídas e entradas. Além disso, são mais de 40 anos sob o domínio do tráfico. Não temos pretensão de acabar com o tráfico de uma hora para outra - disse o secretário.
Ao ser perguntado se ele tem conhecimento sobre a conivência de policiais da UPP da Cidade de Deus para o funcionamento da feira, Beltrame disse que a inteligência já havia recebido informações que estão sendo analisadas:
- Acho difícil um policial de uma unidade de pacificadora fazer vista grossa para algum crime. Uma filmagem numa esquina onde há a venda de 10 ou 15 papelotes, considerando que são viciados, doentes, é factível. É um caso de saúde pública. São pessoas que precisam de tratamento - avaliou Beltrame.
De qualquer forma, o secretário disse ser inadmissível o policial presenciar a venda e não agir.
- Não descarto que haja a venda, num lugar ermo, numa área imensa que é a Cidade de Deus, mas não vamos tolerar que o tráfico não seja combatido pela polícia. É difícil extirpar este tipo de conduta, mas estamos nos empenhando. O resultado positivo é infinitamente mais importante que a venda meia dúzia de papelotes - concluiu o secretário



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