segunda-feira, 13 de junho de 2011

João Ubaldo Ribeiro lança o livro infantil Dez Bons Conselhos de Meu Pai


Em entrevista para a CRESCER, o autor baiano João Ubaldo Ribeiro, um dos nomes mais importantes da literatura brasileira, fala sobre a criação de sua obra direcionada aos pequenos

Lançar um livro infantil nunca foi uma pretensão para João Ubaldo Ribeiro, mas quando a ideia foi sugerida por sua editora, ele aceitou de bate pronto o desafio. O resultado desse trabalho é Dez Bons Conselhos de Meu Pai (Editora Objetiva), obra que apresenta ilustrações fortes e criativas que encantam e frases curtas que despertam reflexões. O conteúdo foi inspirado na educação que o escritor recebeu de seu pai, homem muito culto e amante da literatura, mas também sério e rígido na educação dos filhos. Dez Bons Conselhos é um livro que não conta uma história, mas apresenta pistas sobre como viver bem em sociedade. Uma delas é “Não seja ignorante”.

O texto foi escrito há mais de 30 anos, mas só agora chega às livrarias em formato de livro e dirigido às crianças. Na entrevista a seguir, o autor conta o porquê dessa demora e sua expectativa sobre o impacto de seus escritos.

CRESCER- Por que resolveu lançar esse livro somente agora?
João Ubaldo Ribeiro - Esse livro tem uma história diferente. Escrevi os Dez bons conselhos de meu pai como apêndice de um livro meu sobre política, publicado há uns 30 anos. Botei no fim desse livro não sei por que, ou, se sabia me esqueci. Esses Conselhos foram saindo nas subsequentes edições, até que alguma editora os tirou. Quando eu passei pra editora Objetiva Alfaguara, eu pedi para que voltassem a publicar o livro com os Conselhos. Aí voltaram e o texto chamou a atenção de Isa Pessoa, minha editora, que pensou em transformá-lo num livro infantil, e também passou essa ideia para a Bruna Assis Brasil, a responsável pela concepção gráfica do projeto e pelas ilustrações. Por isso ficou um livro tão bonito. Mas não foi tão intencional, aconteceu assim como eu lhe contei.

CRESCER- Qual o tipo de impacto que acredita que irá criar nos leitores, nas crianças de hoje? Qual a diferença delas e de como você era quando criança?
JUR- Não sei, nunca pensei nisso. Mas imagino que esses conselhos, não que eles sejam acatados na íntegra, mas acho que eles servem como tópicos de discussão em classe, numa época em que se questionam padrões éticos, morais, etc. Se questiona a participação do indivíduo na vida pública, os políticos e assim por diante. Eu acho que se esses conselhos levarem a algum debatezinho, entre estudantes e professores ou pais e estudantes, pode ser útil, mas eu não tenho certeza.

CRESCER
- Vivemos hoje a maior onda de politicamente correto voltado para crianças. Estamos mudando até as cantigas infantis e as manifestações acontecem nas mais variadas situações. Da sua bela obra há diversos pontos que poderiam ser apontados como politicamente incorretos. Você pensou nisso na hora de escrever ou houve alguma manifestação nesse sentido após o lançamento do livro?
JUR - Eu nunca fui politicamente correto. Sempre fui muito politicamente incorreto, não tenho a menor ideia se o livro vai ser considerado politicamente incorreto ou não. Eu não dou importância a essa frescura (risos), a essa onda que nos assola.

CRESCER - O que pensou na hora de escrever um livro voltado para crianças? Teria algum jeito especial para isso, uma diferença fundamental na hora de escrever?
JUR – Eu não pensei estar escrevendo para crianças. Quando estava para sair o livro, fiquei meio na dúvida. Mas quando pensei na possibilidade de ele ser debatido em classe, de algumas dessas coisas serem discutidas, achei que talvez fosse estimulante. Porque se discute tão pouco certos problemas hoje, da formação ética do cidadão, que é bem possível que esse livro tenha essa utilidade.

CRESCER - Você acompanha a produção de literatura infantil no Brasil hoje? O que acha? Tem algum escritor que gostaria de destacar?
JUR – Hoje em dia não acompanho. O meu último escritor infantil foi o de gerações como a minha, o Monteiro Lobato. Mas sou amigo de uma escritora para jovens que é de primeiríssimo time, a Ana Maria Machado.

CRESCER - Você conta que seu pai era um homem austero, o que pode assustar em um modelo de educação de hoje, mas, ao mesmo tempo, ele exercia uma educação com base em "valores de um homem que defende a dignidade humana, a liberdade e a igualdade de direitos e deveres", como você declarou ao jornal O Estado de S. Paulo. Você acredita que hoje é possível passar esses valores sem precisar de tanta rigidez?
JUR - Eu acho que a rigidez de meu pai era exagerada até para o tempo dele. Conheci pais severos, que exigiam dos filhos e que não chegavam nem perto da performance de meu pai. Passar valores dessa forma não cabe mais na sociedade de hoje. Seria uma anomalia. Não vou dizer que impossível, mas seria muito difícil educar filhos naquelas normas, naquele quadro autoritário e quase totalitário. Já era difícil no meu tempo, quanto mais agora.

CRESCER
- Acho que o conselho que eu mais gostei foi o "alegre-se com a diversidade humana". Você tem um preferido? Ou algum que seria mais "necessário" para hoje?
JUR - Não, eu não tenho um preferido. Também acho esse bom. Acho que o “não seja ignorante” também é um bom conselho.

CRESCER - Há algum outro projeto seu para crianças a caminho?
JUR - Não. Estou querendo escrever um romance há praticamente dois anos e não consigo sossego para isso. Estou até considerando a hipótese de me esconder fora do Brasil. Não tenho condição para ter apartamento, nem casa fora do Brasil, mas talvez eu consiga dar um jeito.


* Colaborou Erika Araujo


Crescer

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