Relatos recentes de estupros coletivos praticados por gangues no Irã estão causando preocupação entre as mulheres e levantando questionamentos sobre valores sociais no país, informa Mohammad Manzarpour, do serviço persa da BBC.
Em uma aldeia religiosa e conservadora perto da cidade de Isfahan, mulheres que participavam de uma festa privada foram sequestradas no ano passado e foram vítimas de estupros coletivos perpetrados por criminosos que as ameaçaram com facas.
Uma semana depois, uma estudante universitária foi atacada e violentada por desconhecidos em um campus fortemente protegido na cidade sagrada de Mashhad.
Em ambos os casos, autoridades acusaram as vítimas de não usarem véus ou hijabs e de comportamento “não islâmico”.
Os casos recentes ganharam repercussão, e os subsequentes comentários pejorativos feitos pelas autoridades despertaram indignação entre grupos de defesa das mulheres, que há tempos se queixam do crescente número de casos de assédio sexual no país.
À medida que os estupros dominam as manchetes dos jornais iranianos, um debate público e político começa a se formar, a respeito das possíveis razões para o aparente aumento no número de crimes sexuais. O Estado islâmico iraniano também debate a maneira de prevenie e punir esse tipo de crime.
Festa
Na noite de 24 de maio, duas famílias do subúrbio de Khomeinishahr convidaram amigos para uma festa. No total, 14 pessoas se reuniram no evento, realizado em um jardim cercado de muros.
Relatos da imprensa dão conta de que um grupo com mais de 12 homens armados com facas entraram no jardim, trancaram alguns homens dentro de um quarto e amarraram outros a árvores.
As mulheres – incluindo uma em estágio avançado de gravidez, segundo os relatos – foram levadas a uma propriedade adjacente e estupradas.
Um convidado usou um celular para chamar a polícia. A maioria dos agressores havia fugido quando os policiais chegaram, mas quatro foram presos posteriormente.
Na cidade de porte médio, a notícia do estupro se espalhou rapidamente. Mas o episódio não foi coberto pela imprensa estatal, altamente controlada pelo governo, e nenhum comentário oficial sobre o caso foi feito por mais de uma semana.
O silêncio despertou preocupação e ira entre a população, que organizou um amplo protesto diante da corte judicial local.
Foi quando os comentários oficiais aumentaram ainda mais a polêmica.
“As que foram estupradas não eram dignas de elogio”, disse o imã de Khomeinishahr, Musa Salemi, em seu sermão. “Elas vieram para nossa cidade para festejar e provocaram os demais (os estupradores) ao beber vinho e dançar.”
O comandante da polícia local, Hossein Yardoosti, fez crítica semelhante.
“Acho que a culpa é das famílias das mulheres violentadas, porque, se elas tivessem (usando) roupas apropriadas e se a música que ouviam não estivesse tão alta, os estupradores não teriam imaginado que (a festa) era um encontro depravado”, ele teria dito à imprensa.
Há relatos de que o comandante estaria cogitando abrir um processo legal contra as vítimas dos estupros, por conta de seu “comportamento”.
A resposta das autoridades também foi polêmica no caso de estupro ocorrido dentro da universidade de Mashhad.
Estudantes citaram o fato de que o campus é altamente protegido e que o estupro dificilmente teria passado despercebido da polícia que patrulha o local.
Em uma vigília em apoio à vítima, os alunos acusaram a polícia de acobertar o agressor.
‘Consequências nefastas’
Agora, grupos de defesa das mulheres estão chamando atenção para os episódios.
Em entrevista ao serviço persa da BBC, a ativista e advogada iraniana Shadi Sadr advertiu que os comentários das autoridades – que deram a entender que o estupro seria justificado pelo comportamento das vítimas – poderiam ter “consequências nefastas” para a sociedade.
Alguns comentaristas argumentam que a onda de crimes sexuais está relacionada à extraordinária tensão sexual latente entre a crescente população jovem do Irã, que passa a maior parte da sua vida separada por gêneros e com pouca interação social entre homens e mulheres.
A oposição cita outras causas possíveis: sugere que os supostos ataques sexuais perpetrados por forças de segurança iranianas durante a onda repressiva pós-eleitoral, em 2009, podem ter legitimado atos semelhantes em certos segmentos da população.
Em meio às discussões sobre o assunto, três homens foram enforcados – dois deles publicamente – no último dia 9, condenados por estupro, numa tentativa das autoridades de desestimular a prática de abusos.
Mas os principais suspeitos dos estupros cometidos em Khomeinishahr e Mashhad continuam à solta.
Em uma aldeia religiosa e conservadora perto da cidade de Isfahan, mulheres que participavam de uma festa privada foram sequestradas no ano passado e foram vítimas de estupros coletivos perpetrados por criminosos que as ameaçaram com facas.
Uma semana depois, uma estudante universitária foi atacada e violentada por desconhecidos em um campus fortemente protegido na cidade sagrada de Mashhad.
Em ambos os casos, autoridades acusaram as vítimas de não usarem véus ou hijabs e de comportamento “não islâmico”.
Os casos recentes ganharam repercussão, e os subsequentes comentários pejorativos feitos pelas autoridades despertaram indignação entre grupos de defesa das mulheres, que há tempos se queixam do crescente número de casos de assédio sexual no país.
À medida que os estupros dominam as manchetes dos jornais iranianos, um debate público e político começa a se formar, a respeito das possíveis razões para o aparente aumento no número de crimes sexuais. O Estado islâmico iraniano também debate a maneira de prevenie e punir esse tipo de crime.
Festa
Na noite de 24 de maio, duas famílias do subúrbio de Khomeinishahr convidaram amigos para uma festa. No total, 14 pessoas se reuniram no evento, realizado em um jardim cercado de muros.
Relatos da imprensa dão conta de que um grupo com mais de 12 homens armados com facas entraram no jardim, trancaram alguns homens dentro de um quarto e amarraram outros a árvores.
As mulheres – incluindo uma em estágio avançado de gravidez, segundo os relatos – foram levadas a uma propriedade adjacente e estupradas.
Um convidado usou um celular para chamar a polícia. A maioria dos agressores havia fugido quando os policiais chegaram, mas quatro foram presos posteriormente.
Na cidade de porte médio, a notícia do estupro se espalhou rapidamente. Mas o episódio não foi coberto pela imprensa estatal, altamente controlada pelo governo, e nenhum comentário oficial sobre o caso foi feito por mais de uma semana.
O silêncio despertou preocupação e ira entre a população, que organizou um amplo protesto diante da corte judicial local.
Foi quando os comentários oficiais aumentaram ainda mais a polêmica.
“As que foram estupradas não eram dignas de elogio”, disse o imã de Khomeinishahr, Musa Salemi, em seu sermão. “Elas vieram para nossa cidade para festejar e provocaram os demais (os estupradores) ao beber vinho e dançar.”
O comandante da polícia local, Hossein Yardoosti, fez crítica semelhante.
“Acho que a culpa é das famílias das mulheres violentadas, porque, se elas tivessem (usando) roupas apropriadas e se a música que ouviam não estivesse tão alta, os estupradores não teriam imaginado que (a festa) era um encontro depravado”, ele teria dito à imprensa.
Há relatos de que o comandante estaria cogitando abrir um processo legal contra as vítimas dos estupros, por conta de seu “comportamento”.
A resposta das autoridades também foi polêmica no caso de estupro ocorrido dentro da universidade de Mashhad.
Estudantes citaram o fato de que o campus é altamente protegido e que o estupro dificilmente teria passado despercebido da polícia que patrulha o local.
Em uma vigília em apoio à vítima, os alunos acusaram a polícia de acobertar o agressor.
‘Consequências nefastas’
Agora, grupos de defesa das mulheres estão chamando atenção para os episódios.
Em entrevista ao serviço persa da BBC, a ativista e advogada iraniana Shadi Sadr advertiu que os comentários das autoridades – que deram a entender que o estupro seria justificado pelo comportamento das vítimas – poderiam ter “consequências nefastas” para a sociedade.
Alguns comentaristas argumentam que a onda de crimes sexuais está relacionada à extraordinária tensão sexual latente entre a crescente população jovem do Irã, que passa a maior parte da sua vida separada por gêneros e com pouca interação social entre homens e mulheres.
A oposição cita outras causas possíveis: sugere que os supostos ataques sexuais perpetrados por forças de segurança iranianas durante a onda repressiva pós-eleitoral, em 2009, podem ter legitimado atos semelhantes em certos segmentos da população.
Em meio às discussões sobre o assunto, três homens foram enforcados – dois deles publicamente – no último dia 9, condenados por estupro, numa tentativa das autoridades de desestimular a prática de abusos.
Mas os principais suspeitos dos estupros cometidos em Khomeinishahr e Mashhad continuam à solta.
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