Ela não perde a esperança de encontrar a filha e dá detalhes do caso no livro que será lançado na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, a partir desta sexta-feira (2)
Sua fala é pausada e a voz parece estar constantemente embargada por um choro prestes a romper. É difícil mensurar a dor e a tristeza sentidas por Kate McCann, quatro anos depois do desaparecimento de sua filha Madeleine. Hoje com 43 anos, a britânica não desistiu da procura pela primogênita. Ela abandonou a medicina e, desde o dia 3 de maio de 2007, se dedica exclusivamente a reunir informações enviadas por pessoas de todo o mundo que acreditam ter encontrado a menina – se estiver viva, ela tem 8 anos (no site www.findmadeleine.com, há uma projeção de sua atual fisionomia).
A polícia arquivou oficialmente o caso em julho de 2008. Mas Kate e sua família, não. O livro que leva o nome "Madeleine" foi lançado na Inglaterra e em Portugal em maio e agora chega ao Brasil (Editora Prumo, 440 págs., R$ 49,90). Baseado no diário escrito por Kate ao longo dos anos e no inquérito policial, o livro levanta a hipótese de sequestro por uma rede de pedofilia, critica a investigação conduzida pela polícia portuguesa (e a falta de ação da britânica) e fala da crise que se instalou no casamento entre Kate e Gerry, pai de Madeleine. Os filhos mais novos, os gêmeos Sean e Amelie, hoje com 6 anos e meio, continuam perguntando sobre a irmã mais velha e explicam aos amiguinhos que “a mamãe costumava ser médica, mas agora está procurando por Madeleine”.
“Ainda há esperança. Vivemos numa espécie de limbo desde que ela sumiu, mas não podemos desistir”, diz Kate, na entrevista exclusiva que ela concedeu a Marie Claire.
Marie Claire - Como você se sente hoje? E como estão Gerry e os gêmeos?
Kate McCann - Muito bem, se considerarmos tudo o que passamos. Estamos muito mais fortes. Agora, procuramos pelo equilíbrio. Gerry trabalha em tempo integral e o meu trabalho tem sido continuar a busca por Madeleine. Agora também temos a chance de fazer várias coisas normais, de família, como levar Sean e Amelie para a escola.
MC - Os gêmeos fazem perguntas frequentes sobre Madeleine?
KM - Não todos os dias, mas com uma certa frequência. O desaparecimento dela também faz parte da vida deles. Eles entendem o que aconteceu e o que estamos tentando fazer. No entendimento deles é muito simples: “Madeleine está desaparecida e temos de encontrá-la.” Conversamos sempre sobre o resgate, sobre o que vamos fazer quando ela voltar para casa, sobre esperança.
MC - A esperança de encontrar Madeleine se tornou a razão de sua vida. Qual será a sua reação se descobrir que ela está morta?
KM - Infelizmente, eu considero todas as possibilidades. Nos últimos dias, só consigo pensar no pior. Mas ainda temos esperança, de qualquer modo. Eu li sobre muitos outros casos, de famílias que conseguiram recuperar seus filhos após décadas de desaparecimento. Não podemos desistir. É duro não saber sobre o paradeiro dela – estamos vivendo numa espécie de limbo desde que ela sumiu. E é tão difícil de sacudir a poeira e se reeguer. Temos de continuar à procura.
MC - Você não trabalha mais? Dedica-se o tempo todo à busca de Madeleine?
KM - Eu não exerço mais a medicina. Os últimos quatro anos provavelmente foram os anos em que estive mais ocupada da minha vida “profissional”. Passei muito tempo visitando os arquivos da polícia, escrevendo o meu livro e também lançando campanhas de busca por Madeleine. Até mesmo para abrir o Gmail, leva-se muito tempo. Sean e Amelie entenderam e sempre dizem aos amiguinhos: “a mamãe costumava ser médica, mas agora está procurando por Madeleine”. Enquanto não a encontramos, há ainda muito trabalho a ser feito.
MC - Você continua contando com a polícia na busca por ela?
KM - O trabalho oficial da polícia foi encerrado em julho de 2008. Seguimos com uma investigação particular e temos contado com a incrível ajuda das pessoas, que tiram férias, continuam procurando por ela, fotografam quem pensam que é Madeleine e nos enviam.
MC - A notícia mais recente, de que Madeleine poderia ter sido encontrada na Índia, te trouxe alguma esperança maior?
KM - Nós recebemos dezenas de notícias diariamente sobre supostos paradeiros de Madeleine. Neste caso, a diferença foi que essa informação acabou chegando à mídia, que acompanhou e levou à repercussão. No entanto, o fato de ela supostamente ter sido encontrada na Índia me dá mais força: até mesmo a essa distância, eu posso contar com a ajuda das pessoas, que continuam procurando por ela.
MC - Existe algum motivo para você sorrir hoje?
KM - Por um bom tempo, não me permiti desfrutar da vida e me sentia culpada se o fizesse. Mas o fato é que se eu não tivesse dado um tempo, não teria de onde mais tirar forças para continuar as buscas. Tenho outras duas crianças e agora estou mais forte. Sinto-me mais capaz de curtir a vida – e faço isso por Madeleine.
MC - Você consegue sentir a presença de Madeleine?
KM - Eu não acho que ela morreu. Qualquer mãe se sentiria assim. Sinto-me próxima a ela. Madeleine é parte da nossa família. Não sentimos que esse será o fim.
MC - Como você lida com as lembranças deixadas por Madeleine? Consegue rever fotos e vídeos?
KM - São muitas boas lembranças. Quando eu começo a revisitá-las, às vezes sinto muita tristeza, outras vezes me deixa feliz e me reconforta, me traz tranquilidade. Ela está na nossa vida. Há fotos dela por toda a nossa casa. A Amelie sempre se refere a ela como “a minha irmã mais velha”.
MC - Em um determinado momento, vocês foram acusados de serem suspeitos. Como lidou com isso?
KM - (voz embargada) Eu achei inacreditável. Quando você imagina que nada pior pode acontecer... A busca por Madeleine se tornou a minha maior obsessão. E muita gente não entendeu isso. É como um pesadelo, um sonho ruim do qual você não consegue acordar.
MC - Por outro lado, você recebeu apoio de pessoas de todo o mundo...
KM - Eu seria incapaz de descrever a importância do apoio que venho recebendo desde o desaparecimento de Madeleine. Isso me ajudou enormemente. As pessoas foram muito boas e cuidadosas – e isso também nos fortaleceu para continuar na luta. Nós tivemos inclusive um apoio grande do Brasil, de uma família muito querida que acabou se tornando muito próxima de nós.
MC - Como é a sua relação com a imprensa hoje?
KM - Nós precisamos da mídia. Madeleine precisa dela para ser encontrada. Nós enfrentamos maus bocados com a imprensa. Mas ainda espero que ela ajude a encontrar Madeleine. Apenas pedimos para que os jornalistas sejam responsáveis com as informações, pois é a nossa pequena que está desaparecida.
MC - É muito doloroso ou cansativo continuar dando entrevistas? Ou você acredita que isso é o que tem de ser feito para que as buscas por Madeleine continuem?
KM - No início achava tudo isso bem intimidador. As perguntas me pareciam muito difíceis e mexiam demais com os meus sentimentos. Sempre procurei preservar a minha privacidade. Mas como já dei dezenas e dezenas de entrevistas nos últimos quatro anos, me acostumei um pouco. Sei que a mídia é poderosa e alcança milhões de pessoas. E se isso for necessário para trazer a minha Madeleine de volta, eu farei isso.
MC - Você visita Portugal com frequência?
KM - Sim. Vamos bastante a Lisboa para conversar com advogados. Vou também a Praia da Luz umas 5 vezes por ano (local do resort onde a família passava férias e de onde Madeleine foi raptada). Logo depois de seu desaparecimento, eu não conseguia voltar para lá, mas agora vou com alguma frequência porque lá me sinto mais próxima dela.
MC - Quais são os seus próximos passos agora?
KM - Continuo escrevendo um diário. O livro foi lançado em maio na Inglaterra e em Portugal. Na próxima semana será lançado no Brasil, em setembro na Alemanha, no meio de outubro na Espanha e em alguns outros países até o fim do ano. As pessoas lerão o livro e vão saber que ainda existem várias perguntas que continuam sem respostas – e que elas podem ser capazes de responder. Nós acreditamos nas informações que nos são enviadas e esperamos reuni-las para que cheguemos até ela. Tenho fé que vamos encontrar a informação-chave que está faltando para encontrá-la. Continuem procurando e rezando por Madeleine, que continua desaparecida. Não podemos desistir.
Marie Claire
Sua fala é pausada e a voz parece estar constantemente embargada por um choro prestes a romper. É difícil mensurar a dor e a tristeza sentidas por Kate McCann, quatro anos depois do desaparecimento de sua filha Madeleine. Hoje com 43 anos, a britânica não desistiu da procura pela primogênita. Ela abandonou a medicina e, desde o dia 3 de maio de 2007, se dedica exclusivamente a reunir informações enviadas por pessoas de todo o mundo que acreditam ter encontrado a menina – se estiver viva, ela tem 8 anos (no site www.findmadeleine.com, há uma projeção de sua atual fisionomia).
A polícia arquivou oficialmente o caso em julho de 2008. Mas Kate e sua família, não. O livro que leva o nome "Madeleine" foi lançado na Inglaterra e em Portugal em maio e agora chega ao Brasil (Editora Prumo, 440 págs., R$ 49,90). Baseado no diário escrito por Kate ao longo dos anos e no inquérito policial, o livro levanta a hipótese de sequestro por uma rede de pedofilia, critica a investigação conduzida pela polícia portuguesa (e a falta de ação da britânica) e fala da crise que se instalou no casamento entre Kate e Gerry, pai de Madeleine. Os filhos mais novos, os gêmeos Sean e Amelie, hoje com 6 anos e meio, continuam perguntando sobre a irmã mais velha e explicam aos amiguinhos que “a mamãe costumava ser médica, mas agora está procurando por Madeleine”.
“Ainda há esperança. Vivemos numa espécie de limbo desde que ela sumiu, mas não podemos desistir”, diz Kate, na entrevista exclusiva que ela concedeu a Marie Claire.
Marie Claire - Como você se sente hoje? E como estão Gerry e os gêmeos?
Kate McCann - Muito bem, se considerarmos tudo o que passamos. Estamos muito mais fortes. Agora, procuramos pelo equilíbrio. Gerry trabalha em tempo integral e o meu trabalho tem sido continuar a busca por Madeleine. Agora também temos a chance de fazer várias coisas normais, de família, como levar Sean e Amelie para a escola.
MC - Os gêmeos fazem perguntas frequentes sobre Madeleine?
KM - Não todos os dias, mas com uma certa frequência. O desaparecimento dela também faz parte da vida deles. Eles entendem o que aconteceu e o que estamos tentando fazer. No entendimento deles é muito simples: “Madeleine está desaparecida e temos de encontrá-la.” Conversamos sempre sobre o resgate, sobre o que vamos fazer quando ela voltar para casa, sobre esperança.
MC - A esperança de encontrar Madeleine se tornou a razão de sua vida. Qual será a sua reação se descobrir que ela está morta?
KM - Infelizmente, eu considero todas as possibilidades. Nos últimos dias, só consigo pensar no pior. Mas ainda temos esperança, de qualquer modo. Eu li sobre muitos outros casos, de famílias que conseguiram recuperar seus filhos após décadas de desaparecimento. Não podemos desistir. É duro não saber sobre o paradeiro dela – estamos vivendo numa espécie de limbo desde que ela sumiu. E é tão difícil de sacudir a poeira e se reeguer. Temos de continuar à procura.
MC - Você não trabalha mais? Dedica-se o tempo todo à busca de Madeleine?
KM - Eu não exerço mais a medicina. Os últimos quatro anos provavelmente foram os anos em que estive mais ocupada da minha vida “profissional”. Passei muito tempo visitando os arquivos da polícia, escrevendo o meu livro e também lançando campanhas de busca por Madeleine. Até mesmo para abrir o Gmail, leva-se muito tempo. Sean e Amelie entenderam e sempre dizem aos amiguinhos: “a mamãe costumava ser médica, mas agora está procurando por Madeleine”. Enquanto não a encontramos, há ainda muito trabalho a ser feito.
MC - Você continua contando com a polícia na busca por ela?
KM - O trabalho oficial da polícia foi encerrado em julho de 2008. Seguimos com uma investigação particular e temos contado com a incrível ajuda das pessoas, que tiram férias, continuam procurando por ela, fotografam quem pensam que é Madeleine e nos enviam.
MC - A notícia mais recente, de que Madeleine poderia ter sido encontrada na Índia, te trouxe alguma esperança maior?
KM - Nós recebemos dezenas de notícias diariamente sobre supostos paradeiros de Madeleine. Neste caso, a diferença foi que essa informação acabou chegando à mídia, que acompanhou e levou à repercussão. No entanto, o fato de ela supostamente ter sido encontrada na Índia me dá mais força: até mesmo a essa distância, eu posso contar com a ajuda das pessoas, que continuam procurando por ela.
MC - Existe algum motivo para você sorrir hoje?
KM - Por um bom tempo, não me permiti desfrutar da vida e me sentia culpada se o fizesse. Mas o fato é que se eu não tivesse dado um tempo, não teria de onde mais tirar forças para continuar as buscas. Tenho outras duas crianças e agora estou mais forte. Sinto-me mais capaz de curtir a vida – e faço isso por Madeleine.
MC - Você consegue sentir a presença de Madeleine?
KM - Eu não acho que ela morreu. Qualquer mãe se sentiria assim. Sinto-me próxima a ela. Madeleine é parte da nossa família. Não sentimos que esse será o fim.
MC - Como você lida com as lembranças deixadas por Madeleine? Consegue rever fotos e vídeos?
KM - São muitas boas lembranças. Quando eu começo a revisitá-las, às vezes sinto muita tristeza, outras vezes me deixa feliz e me reconforta, me traz tranquilidade. Ela está na nossa vida. Há fotos dela por toda a nossa casa. A Amelie sempre se refere a ela como “a minha irmã mais velha”.
MC - Em um determinado momento, vocês foram acusados de serem suspeitos. Como lidou com isso?
KM - (voz embargada) Eu achei inacreditável. Quando você imagina que nada pior pode acontecer... A busca por Madeleine se tornou a minha maior obsessão. E muita gente não entendeu isso. É como um pesadelo, um sonho ruim do qual você não consegue acordar.
MC - Por outro lado, você recebeu apoio de pessoas de todo o mundo...
KM - Eu seria incapaz de descrever a importância do apoio que venho recebendo desde o desaparecimento de Madeleine. Isso me ajudou enormemente. As pessoas foram muito boas e cuidadosas – e isso também nos fortaleceu para continuar na luta. Nós tivemos inclusive um apoio grande do Brasil, de uma família muito querida que acabou se tornando muito próxima de nós.
MC - Como é a sua relação com a imprensa hoje?
KM - Nós precisamos da mídia. Madeleine precisa dela para ser encontrada. Nós enfrentamos maus bocados com a imprensa. Mas ainda espero que ela ajude a encontrar Madeleine. Apenas pedimos para que os jornalistas sejam responsáveis com as informações, pois é a nossa pequena que está desaparecida.
MC - É muito doloroso ou cansativo continuar dando entrevistas? Ou você acredita que isso é o que tem de ser feito para que as buscas por Madeleine continuem?
KM - No início achava tudo isso bem intimidador. As perguntas me pareciam muito difíceis e mexiam demais com os meus sentimentos. Sempre procurei preservar a minha privacidade. Mas como já dei dezenas e dezenas de entrevistas nos últimos quatro anos, me acostumei um pouco. Sei que a mídia é poderosa e alcança milhões de pessoas. E se isso for necessário para trazer a minha Madeleine de volta, eu farei isso.
MC - Você visita Portugal com frequência?
KM - Sim. Vamos bastante a Lisboa para conversar com advogados. Vou também a Praia da Luz umas 5 vezes por ano (local do resort onde a família passava férias e de onde Madeleine foi raptada). Logo depois de seu desaparecimento, eu não conseguia voltar para lá, mas agora vou com alguma frequência porque lá me sinto mais próxima dela.
MC - Quais são os seus próximos passos agora?
KM - Continuo escrevendo um diário. O livro foi lançado em maio na Inglaterra e em Portugal. Na próxima semana será lançado no Brasil, em setembro na Alemanha, no meio de outubro na Espanha e em alguns outros países até o fim do ano. As pessoas lerão o livro e vão saber que ainda existem várias perguntas que continuam sem respostas – e que elas podem ser capazes de responder. Nós acreditamos nas informações que nos são enviadas e esperamos reuni-las para que cheguemos até ela. Tenho fé que vamos encontrar a informação-chave que está faltando para encontrá-la. Continuem procurando e rezando por Madeleine, que continua desaparecida. Não podemos desistir.
Marie Claire
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