segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Os nossos gremlins


Não sei quantos de vocês viram "Gremlins", mas a figura das simpáticas criaturinhas - que se transformavam em feras terríveis quando tinham seus desejos atendidos - anda rondando minha cabeça como uma metáfora da criação dos nossos filhos. Será que estamos criando monstrinhos? No filme, os bichinhos não podiam ter contato com água, ficar sob luz forte e, principalmente, eram proibidos de comer após à meia noite - mas, para driblar essa regra, imploravam, choravam, faziam carinha de desconsolo e outras chantagens emocionais, convencendo seus donos a realizar suas vontades. Aí, viravam mostrinhos que comiam e destruíam o que encontravam pela frente. No fundo (e aqui entendam como um mea culpa), acho que muitos de nós fazemos o mesmo com nossos filhos. São vontades e mais vontades satisfeitas, às custas, não raras vezes, de um desgaste emocional, físico e financeiro. Férias? Viajar é obrigatório - e, sem saudosismo algum, lembro da minha alegria em, simplesmente, não fazer nada, poder dormir tarde, andar de bicicleta e almoçar fora de hora... Fim de semana? É festinha, teatro, lanche na casa dos amigos (ou amigos para brincar em casa), passeio diurno, passeio noturno, almoço fora, pizza, cinema... Aniversário? Lógico que tem festa. Bom, eu já andava elaborando essa questão e dois exemplos recentes me deram a certeza que queria compartilhar com vocês. O primeiro foi de um amiguinho do João Pedro que ao saber que viajaria mais ou menos uma hora e meia de carro até um hotel (onde, sim, teria amigos, passeio, diversões e etc...) perguntou à mãe se não poderia ir de avião, porque andar de carro era chato e cansativo! O outro caso é doméstico mesmo: voltando do fim de semana no tal hotel maravilhoso, João Pedro quis saber o que faríamos à noite. Respondi: nada. Vamos, simplesmente, ficar em casa, ver um pouquinho de TV e etc... Inconformado, ele ainda tentou nos convencer a passar na locadora! Neguei, mais uma vez e, sinceramente, vou começar a botar um limite nessa história de atividades-24-horas-por-dia. Acho que estamos criando necessidades que eles simplesmente não têm - e eles vão crescer, vão ter exigências cada vez maiores e vão virar monstrinhos que não sabem aceitar um não. Ou, pior, vamos continuar satisfazendo nossos gremlinzinhos e, aí sim, criar monstrinhos que não dão valor a nada porque sabem que têm tudo o que querem, num estalar de dedos.

Enviado por Leticia Helena


Mães em rede

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