segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Depoimento de babá de Joanna no Rio durou 40 minutos


Pai e madrasta da menina são acusados de tortura e homicídio qualificado.
Depoimento da mãe de Joanna durou pouco mais de duas horas.

A babá Gedires Magalhães de Freitas, que trabalhou na casa do pai da menina Joanna, André Marins prestou depoimento à Justiça na tarde desta segunda-feira (10). Ela participou da primeira audiência de instrução e julgamento do pai da menina André Rodrigues Marins, e da madrasta da criança, Vanessa Maia Furtado.
Eles são acusados de tortura com dolo direto e homicídio qualificado por meio cruel. Ao todo, devem ser ouvidas sete testemunhas de acusação. Joanna morreu em agosto, aos 5 anos, após uma meningite contraída pelo vírus da herpes. O episódio da morte da menina envolve acusações de maus-tratos à criança e ainda erro médico, já que Joanna chegou a ser atendida por um falso médico.
Na época das investigações, Gedires foi à polícia e contou que encontrou Joanna suja de fezes, com as mãos amarradas e deitada sob um colchão. Nesta segunda-feira, a babá voltou a afirmar que a menina vivia em condições precárias de higiene.
“Eu me assustei quando vi aquela cena, logo no meu primeiro dia de trabalho, e quando perguntei ao André porque a Joanna estava naquelas condições ele me disse que era por ordens médicas. Ele também pediu que eu não limpasse a menina e nem chegasse perto”, relatou a babá.
Gedires afirmou ainda que trabalhou no apartamento do casal por 15 dias e que foi demitida por não aceitar dormir na casa. Ela disse que se pudesse voltar no tempo, levaria a menina embora da casa do pai.
“Se eu pudesse, eu teria colocado a Joanna no colo e saído correndo. Tenho netos da mesma idade e fiquei muito chocada quando tudo o que vi. A Joanna estava muito abatida e falava bem pouco, quase não tive contato com ela”, relatou.
Apesar das condições em que contou que a menina vivia, Gedires afirmou que André Marins era um pai carinhoso e que chamava as filhas de “minhas princesas”. Ela também falou que durante o período em que trabalhou não presenciou cenas de agressão física contra Joanna.

Mãe de Joanna prestou depoimento por mais de 2 horas
Durou pouco mais de duas horas o depoimento de Cristiane Marcenal, mãe da menina Joanna.
Cristiane reafirmou que André era negligente e que a menina sofria maus-tratos. “Para mim já não é mais pai da minha filha com quem eu me relacionei. Para mim ele é um criminoso que tem que ser julgado”, disse ela.
Segundo Cristiane, foi em outubro de 2007 que ela teria percebido os primeiros sinais de maus-tratos quando a filha teria chegado com hematomas e roupas rasgadas de uma visita da casa do pai. Cristiane afirmou que foi preciso fazer exame de corpo de delito e a que a filha, então com 2 anos e meio de idade, sofreu síndrome de espancamento. No mesmo ano, a visitação do pai foi suspensa e retomada em agosto de 2008.
De acordo com Cristiane, até 2007 a menina ia chorando para a casa do pai. “Ela chegava a gritar quando o via ”, disse. Cristiane contou ainda que ouviu da filha que o pai batia nela e que a madrasta, Vanessa, só dava banho gelado em Joanna.
Além disso, Cristiane afirmou que Vanessa batia e gritava com a menina e que era impossível manter um contato porque a madrasta sempre usava palavras de baixo calão com Cristiane. A mãe de Joanna afirmou que a juíza que concedeu a guarda da menina para o pai, alegando que a menina sofria alienação parental, será testemunha de defesa do casal acusado.

Encontro emocionante
Após o depoimento, Cristiane contou que antes da audiência conheceu a diarista de André, Gedires Magalhães de Freitas, e que o encontro foi emocionante. “Ela veio sozinha, achei de muita coragem. Sem filho, sem marido, sem ninguém. Saiu da casa dela só com a intimação na mão. Ela me disse: ‘Vou testemunhar porque vi o jeito que estava sua filhinha’”, disse Cristiane. A diarista é a segunda testemunha a ser ouvida pela Justiça nesta segunda.

Audiência
A audiência começou por volta das 13h40 desta segunda-feira (10), no Tribunal de Justiça do Rio. André chegou sem algemas e não falou com a impresa.
Cristiane chorou antes de entrar na sala. "Eu estou aqui e não vou desistir de brigar pela justiça da minha filha. O corpinho dela estava muito machucado, muito marcado para eu desistir. Espero que hoje a gente consiga essa justiça", disse ela.
A mãe de Joanna, antes de iniciar o depoimento, afirmou que tinha "medo" de falar na presença do casal. O juiz, então, pediu que os dois fossem retirados da sala.
O pai de Joanna está preso em Bangu 8 desde o dia 25 de outubro. No dia 14 de dezembro a Justiça concedeu um parecer favorável à soltura de André, que é técnico judiciário. Na época, a promotoria pública justificou o parecer alegando que ele tinha residência fixa, presunção de inocência, não tinha condenações anteriores e era funcionário do judiciário.
O advogado dele, Francisco Santana, afirmou que pedirá ao juiz a revogação da prisão de André. Alé disso, ele também criticou o fato de as testemunhas de defesa não terem sido intimadas. Santana alegou que fracionar a audiência seria ilegal. "Os dois lados devem ser ouvidos na mesma audiência, é o que está na lei. Mesmo que isso demore dias. Fracionar a audiência é uma anulidade", disse ele.
Outro processo corre na Justiça por conta do caso Joanna. Os réus são a médica Sarita Fernandes Pereira e o falso médico, Alex Sandro da Cunha, contratado por ela.


G1

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