domingo, 9 de janeiro de 2011

Peixonauta: a aventura de descobrir o mundo

Série de animação infantil brasileira é exportada para 65 países; investimentos em projetos nacionais chegam a R$ 135 milhões

O Peixonauta é um simpático peixinho viajante, que sai mundo afora em busca de aventuras. Literalmente. A produção brasileira virou líder de audiência no canal Discovery Kids Brasil, e foi além. Hoje, crianças de 65 países vibram com as missões do agente secreto da Ostra, a Organização Secreta para Total Recuperação Ambiental, e interagem em frente à TV para ajudar o peixinho a preservar a natureza. Do Ocidente ao Oriente, o Peixonauta segue descobrindo e sendo descoberto pelo mundo.
Mas chegar nesse ponto foi uma “verdadeira aventura”, com direito a muitas missões desafiadoras. “Fomos os primeiros a produzir uma série de animação inteiramente no Brasil. Antes não havia parâmetro. Aliás, o que tinha era parâmetro ruim, pessoas de peso que tentaram e não deram certo. Por isso tivemos que ir descobrindo o caminho aos poucos”, conta Kiko Mistrorigo, sócio fundador da TVPinguim, criada em 1989.
A ideia da série surgiu em 2003, mas só depois de seis anos o primeiro episódio foi ao ar na Discovery Kids Brasil. A maior dificuldade foi encontrar parceiros para o projeto, mas sem abrir mão da propriedade intelectual e autoral da série. Segundo Mistrorigo, a conversa com as redes brasileiras de televisão sempre foi difícil.
Com o elevado custo de produção, emissoras nacionais preferem comprar licenças de séries já consagradas no exterior a entrar como parceiras de produtoras independentes. Ou então compram o projeto e produzem elas mesmas, diz Mistrorigo. O cenário é bem diferente com as grandes redes de TV no exterior. “Sabe quantas câmeras a Discovery tem? Nenhuma. A grade deles é toda de licença de programas que eles compram de produtoras independentes”, afirma.
Produzir uma série de 26 episódios com duração média de 15 minutos não sai por menos de R$ 10 milhões, segundo estimativa da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão (ABPI-TV). O Brasil possui aproximadamente 30 empresas especializadas em animação, e contabiliza investimentos totais de cerca de R$ 135 mihões em projetos nacionais em 2009. “Somos a bola da vez para ideias originais e projetos bem elaborados. Em 2011, vamos ter ainda mais visibilidade”, afirma a Eliana Russi, gerente executiva do Projeto Internacional da ABPI.



Made in Brazil
Para que a série fosse 100% nacional, os criadores do Peixonauta saíram em busca de parceiros no mercado externo. Inspirados no que viam em países emergentes com uma realidade econômica não muito diferente do Brasil – “o pessoal conseguia produzir conteúdo interessante que viajava pelo mundo” – Mistrorigo e sua sócia, Célia Catunda, foram a feiras e eventos internacionais do setor audiovisual para fazer contatos e procurar quem também acreditasse no projeto.
Iniciaram as conversas com a Discovery em 2005, que entrou como parceira na série, conseguiram linha de financiamento no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), contaram com recursos próprios e de empresas como a Bunge, que apoiaram o projeto amparadas na lei de renúncia fiscal. “Quase uma saga. Foi uma soma de dinheiros que no fim resultou em um projeto totalmente brasileiro”, diz Mistrorigo. A produção da série começou em 2007 e, dois anos depois, o programa foi ao ar pela primeira vez na Discovery, no dia 20 de abril de 2009.
O dono da TVPinguim não revela o faturamento da empresa, por conta do contrato firmado com a emissora. Mas segundo o BNDES, a série Peixonauta gerou receitas de pouco mais de R$ 110 mil no mês passado (65 mil dólares canadenses). “Estamos começando a ter retorno com a série e com o licenciamento dos produtos agora”, diz Mistrorigo.
Parte importante das receitas vem com a venda de licenças de veiculação para emissoras no mundo todo – incluindo a Al Jazeera, que exibe o programa para países árabes do Oriente Médio. Nas estimativas da ABPI-TV, uma série de sucesso com dez horas de duração pode alcançar faturamento de até R$ 12 milhões só com a venda dos direitos de exibição. “Está acontecendo um fenômeno interessante agora. Antes o Brasil só pagava royalties para fora para poder exibir os programas aqui. Hoje, estamos vendo uma inversão disso, estamos começando a receber royalties por produção nacional”, diz Mistrorigo.
Além disso, o licenciamento da marca Peixonauta para produtos como DVDs, brinquedos, material escolar, mercado editorial, vestuário, itens para festas e alimentos também dará um bom reforço nos ganhos da TVPinguim. Até agora, a produtora fechou 18 contratos deste tipo. Em nota, o BNDES afirma que “além do potencial de exportação das obras, é possível gerar receitas com licenciamento”.

Mais expansão pela frente
Com o crescimento das oportunidades de negócio com a marca, Mistrorigo planeja uma mudança na estrutura organizacional. “A TVPinguim vai focar em produção mesmo, mas vamos criar um braço só para administrar a marca Peixonauta”, diz. Com a nova divisão, os brasileirinhos e crianças no mundo todo podem esperar o lançamento de novos produtos – um site inteiramente dedicado ao peixinho, aplicativos para smartphones e tablets, por exemplo.
O ano já começou agitado para os fãs da série. Neste final de semana, estreia no Rio de Janeiro uma adaptação do Peixonauta para o teatro, projeto idealizado pelo casal de apresentadores Luciano Huck e Angélica. O investimento total para levar o peixinho aventureiro ao teatro ficou em R$ 2 milhões. Também neste ano será produzido o primeiro longa do Peixonauta, na que deve ser a primeira animação brasileira em 3D. E também está em preparação a segunda temporada da série para a TV.


“O produto audiovisual tem de ser concebido já com todas as suas possibilidades de distribuição. Não se pode mais pensar em um projeto somente para uma mídia. A animação é o carro-chefe, mas o produto é multiplataforma. É preciso pensar na viabilidade de produtos como games, plataforma web e celular”, diz Russi, da ABPI.
Ela acredita que projetos de co-produção com outros países também são a saída para conseguir mais espaço no mercado internacional – nesse modelo, uma série possui ‘dupla nacionalidade’ e tem acesso livre a ambos países e conta com diversos benefícios fiscais. Atualmente, o Brasil tem mais de 40 acordos bilaterais deste tipo, mas apenas dois – Canadá e Alemanha – permitem a produção para qualquer plataforma, enquanto os outros só valem para cinema.
Na avaliação do BNDES, “a produção nacional de obras de animação encontra-se em fase de consolidação, buscando inserir-se em um mercado ainda dominado por produções estrangeiras”. Em nota, o banco afirma que “apesar de ser um mercado novo para o Brasil, já existem alguns exemplos de sucessos nacionais”. Além do Peixonauta, outras duas séries de animação estão em exibição em emissoras no Brasil e no exterior: a Escola Pra Cachorro, da produtora Radar, e Meu Amigãozão, da 2D Lab.
O BNDES, por meio do Programa para o Desenvolvimento da Economia da Cultura (Procult), repassou um total de R$ 7,3 milhões para as três produções, sendo R$ 4,2 milhões em financiamento e um montante não reembolsável de R$ 3,1 milhões, como incentivo previsto na Lei do Audiovisual. Do grupo, o Peixonauta foi o primeiro a firmar acordo com o banco e recebeu o menor montante - R$ 1,75 milhão. Outra fonte de incentivo ao setor é a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), que desenvolve com a ABPI-TV o projeto Brazilian TV Producers, com objetivo de impulsionar as exportações. Com um orçamento de R$ 6,5 milhões, entre 2004 e 2009 o projeto alavancou um total de US$ 85 milhões em negócios fechados, de acordo com as empresas associadas.



iG

Um comentário:

  1. Muito lindo, educativo sem cansar e acima de tudo BRASILEIRO!

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