No Estado, a situação é inversa, segundo levantamento do Ipea
Bernadete Cruz acabou de entrar em férias, mas espera ansiosa pelo início das aulas. Ela está orgulhosa porque passou para o segundo ano e agora já sabe ler. Bernadete tem 47 anos, mas há apenas três conseguiu voltar para os bancos da escola.
O sorriso dela quando lembra dos aplausos em sala de aula que os colegas davam a quem conseguia ler as primeiras palavras não cabe em estatísticas, mas ela faz parte do grupo de adultos em Joinville que está procurando educação e contribuindo para a diminuição do índice de analfabetos em Joinville.
Segundo uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o número de analfabetos no Brasil está diminuindo, mas a redução acontece em ritmo lento. O estudo compara dados da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio (Pnad), realizado entre 2004 e 2009, e mostra que o analfabetismo entre maiores de 15 anos diminuiu em todas as regiões do Brasil.
A região Sul foi a que teve a menor queda em relação às outras - apenas 20% - e Santa Catarina tem um aumento no índice de analfabetos, que cresceu 14% - a redução pode ser explicada pelo aumento populacional, que foi maior que a média nacional.
Mas Bernadete mora em Joinville e planeja seguir em frente com os estudos. Da mesma forma, nos últimos seis anos mais de 5 mil jovens e adultos tomaram essa decisão e procuraram os centros de educação de jovens e adultos e programas de alfabetização do governo, reduzindo o índice de analfabetismo na cidade de 6% em 2004 para 0,75% em 2010.
A maioria das pessoas na idade de Bernadete não retorna para a escola ou desiste no meio - na turma dela, este ano, metade dos alunos não chegou ao fim do período letivo.
— A partir dos 45 anos, é difícil fazer alguém voltar para a escola para aprender a ler, porque a pessoa começa a se afastar do mercado de trabalho —, conta Vanessa da Rosa, coordenadora do Ensino de Jovens e Adultos da Secretaria de Educação de Joinville.
Só nos programas do município, 480 pessoas com mais de 16 anos estão matriculadas nas séries iniciais do ensino fundamental, mas a idade de quem estuda à noite fica entre 16 e 30 anos.
Os mais velhos costumam procurar os programas de voluntários, como o Mutirão da Alfabetização, no qual um professor vai até a casa ou à Igreja para dar aulas de escrita e leitura.
Nos programas do governo do Estado, são 200 alunos matriculados, formando sete turmas com alunos de Joinville, São Francisco do Sul, Araquari e Garuva.
— O foco do programa é levar a alfabetização às regiões onde o acesso é mais difícil, em bairros mais afastados do Centro da cidade —, afirma Maristela Kühl, diretora geral do Centro de Educação de Jovens e Adultos.
Exceção a todas as regras, Bernadete foi a primeira a se matricular quando ficou sabendo que o Mutirão de Alfabetização estava chegando ao bairro em que mora, o Paranaguamirim.
Os dois primeiros anos de ensino foram uma espécie de pré-escola, mas ela não perdeu o fôlego. E quando aprendeu a ler, conseguiu emprego na igreja que frequenta, auxiliando o pastor e colaborando na organização da igreja. Toda essa satisfação faz com que ela queira continuar estudando.
— Conseguir ler tudo o que você vê é muito bom. Quem não sabe ler parece que vive fora da realidade —, diz.
EM SC, ÍNDICE DE ANALFABETOS ESTÁ 14% MAIOR
Mesmo o Estado sendo considerado um dos mais escolarizados do País, o número de analfabetos catarinenses cresceu 14% entre 2004 e 2009. A análise é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, feita anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No País, o número de analfabetos caiu 7%, segundo a pesquisa. Aproximadamente 1 milhão a menos de analfabetos. No período analisado, as maiores quedas na taxa de analfabetismo foram registradas no Nordeste – de 22,4% para 18,7% –, e Norte – de 12,7% para 10,6%. Com uma redução de 66%, o Amapá passou a ter a menor taxa de analfabetismo do Brasil: 2,8%.
Apesar da queda nacional, cinco Estados tiveram crescimento no número de analfabetos: Rondônia, Acre, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Santa Catarina.
Em 2004, eram 208.874 analfabetos catarinenses. Até o ano passado, o número aumentou em 29.339, totalizando 238.213 pessoas que não sabem ler, nem escrever no Estado. Porém, o crescimento foi registrado somente na faixa de idosos com 65 anos ou mais.
Para o pesquisador do Ipea Paulo Corbucci, há surpresa no fato de o Estado figurar entre os cinco Estados com o maior aumento de analfabetismo no País. Ele explica que nos outros quatro – Rondônia, Acre, Mato do Grosso do Sul e Mato Grosso –, o panorama é compreensível por se tratarem de Estados essencialmente agrícolas e em expansão.
— Santa Catarina remete ao perfil de ser mais escolarizada e esse resultado parece ilógico. Isso só mostra que os programas de alfabetização são ineficazes ou o acesso a essas iniciativas é falho. Quando se tem aumento no número de analfabetos, é preciso aumentar mais o investimento nessa área —, explica.
Segundo ele, dois fatores podem ter contribuído para esse crescimento ter sido maior na faixa etária de pessoas com 65 anos ou mais. A primeira seria o aumento na expectativa de vida da população e o consequente envelhecimento daquelas pessoas que em 2004 estavam na faixa de 60 a 64 anos. Outro motivo seria a migração de pessoas de outros Estados para as cidades catarinenses.
A AVALIAÇÃO DO GOVERNO DE SC
A avaliação da Secretaria de Educação de Santa Catarina sobre o resultado da pesquisa é de que o número de analfabetos idosos aumentou por causa do crescimento na expectativa de vida catarinense.
Para a coordenadora de Educação de Jovens e Adultos do Estado, Maria das Dores Pereira, os catarinenses que não foram alfabetizados estão vivendo mais tempo.
Ela explica que, mesmo com o Programa Brasil Santa Catarina Alfabetizado, a meta de alfabetização – que é de pelo menos 30 mil por ano – está longe de ser alcançada. Em cinco anos, somente 45 mil pessoas concluíram o programa no Estado. O investimento do governo federal para o programa, que atua desde 2003 no Estado, é de R$ 1,5 milhão para 2011.
Maria das Dores argumenta ainda que o resultado da pesquisa apontando o crescimento de analfabetos em Santa Catarina se dá também pelo investimento federal ter sido superior nos Estados com índices mais baixos de escolaridade.
— O investimento foi maior nos Estados mais pobres do País. Por isso, a redução no número de analfabetos foi superior ao nosso —, conta.
Cláudia Morriesen
AN.COM.BR
Zero Hora
Bernadete Cruz acabou de entrar em férias, mas espera ansiosa pelo início das aulas. Ela está orgulhosa porque passou para o segundo ano e agora já sabe ler. Bernadete tem 47 anos, mas há apenas três conseguiu voltar para os bancos da escola.
O sorriso dela quando lembra dos aplausos em sala de aula que os colegas davam a quem conseguia ler as primeiras palavras não cabe em estatísticas, mas ela faz parte do grupo de adultos em Joinville que está procurando educação e contribuindo para a diminuição do índice de analfabetos em Joinville.
Segundo uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o número de analfabetos no Brasil está diminuindo, mas a redução acontece em ritmo lento. O estudo compara dados da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio (Pnad), realizado entre 2004 e 2009, e mostra que o analfabetismo entre maiores de 15 anos diminuiu em todas as regiões do Brasil.
A região Sul foi a que teve a menor queda em relação às outras - apenas 20% - e Santa Catarina tem um aumento no índice de analfabetos, que cresceu 14% - a redução pode ser explicada pelo aumento populacional, que foi maior que a média nacional.
Mas Bernadete mora em Joinville e planeja seguir em frente com os estudos. Da mesma forma, nos últimos seis anos mais de 5 mil jovens e adultos tomaram essa decisão e procuraram os centros de educação de jovens e adultos e programas de alfabetização do governo, reduzindo o índice de analfabetismo na cidade de 6% em 2004 para 0,75% em 2010.
A maioria das pessoas na idade de Bernadete não retorna para a escola ou desiste no meio - na turma dela, este ano, metade dos alunos não chegou ao fim do período letivo.
— A partir dos 45 anos, é difícil fazer alguém voltar para a escola para aprender a ler, porque a pessoa começa a se afastar do mercado de trabalho —, conta Vanessa da Rosa, coordenadora do Ensino de Jovens e Adultos da Secretaria de Educação de Joinville.
Só nos programas do município, 480 pessoas com mais de 16 anos estão matriculadas nas séries iniciais do ensino fundamental, mas a idade de quem estuda à noite fica entre 16 e 30 anos.
Os mais velhos costumam procurar os programas de voluntários, como o Mutirão da Alfabetização, no qual um professor vai até a casa ou à Igreja para dar aulas de escrita e leitura.
Nos programas do governo do Estado, são 200 alunos matriculados, formando sete turmas com alunos de Joinville, São Francisco do Sul, Araquari e Garuva.
— O foco do programa é levar a alfabetização às regiões onde o acesso é mais difícil, em bairros mais afastados do Centro da cidade —, afirma Maristela Kühl, diretora geral do Centro de Educação de Jovens e Adultos.
Exceção a todas as regras, Bernadete foi a primeira a se matricular quando ficou sabendo que o Mutirão de Alfabetização estava chegando ao bairro em que mora, o Paranaguamirim.
Os dois primeiros anos de ensino foram uma espécie de pré-escola, mas ela não perdeu o fôlego. E quando aprendeu a ler, conseguiu emprego na igreja que frequenta, auxiliando o pastor e colaborando na organização da igreja. Toda essa satisfação faz com que ela queira continuar estudando.
— Conseguir ler tudo o que você vê é muito bom. Quem não sabe ler parece que vive fora da realidade —, diz.
EM SC, ÍNDICE DE ANALFABETOS ESTÁ 14% MAIOR
Mesmo o Estado sendo considerado um dos mais escolarizados do País, o número de analfabetos catarinenses cresceu 14% entre 2004 e 2009. A análise é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, feita anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No País, o número de analfabetos caiu 7%, segundo a pesquisa. Aproximadamente 1 milhão a menos de analfabetos. No período analisado, as maiores quedas na taxa de analfabetismo foram registradas no Nordeste – de 22,4% para 18,7% –, e Norte – de 12,7% para 10,6%. Com uma redução de 66%, o Amapá passou a ter a menor taxa de analfabetismo do Brasil: 2,8%.
Apesar da queda nacional, cinco Estados tiveram crescimento no número de analfabetos: Rondônia, Acre, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Santa Catarina.
Em 2004, eram 208.874 analfabetos catarinenses. Até o ano passado, o número aumentou em 29.339, totalizando 238.213 pessoas que não sabem ler, nem escrever no Estado. Porém, o crescimento foi registrado somente na faixa de idosos com 65 anos ou mais.
Para o pesquisador do Ipea Paulo Corbucci, há surpresa no fato de o Estado figurar entre os cinco Estados com o maior aumento de analfabetismo no País. Ele explica que nos outros quatro – Rondônia, Acre, Mato do Grosso do Sul e Mato Grosso –, o panorama é compreensível por se tratarem de Estados essencialmente agrícolas e em expansão.
— Santa Catarina remete ao perfil de ser mais escolarizada e esse resultado parece ilógico. Isso só mostra que os programas de alfabetização são ineficazes ou o acesso a essas iniciativas é falho. Quando se tem aumento no número de analfabetos, é preciso aumentar mais o investimento nessa área —, explica.
Segundo ele, dois fatores podem ter contribuído para esse crescimento ter sido maior na faixa etária de pessoas com 65 anos ou mais. A primeira seria o aumento na expectativa de vida da população e o consequente envelhecimento daquelas pessoas que em 2004 estavam na faixa de 60 a 64 anos. Outro motivo seria a migração de pessoas de outros Estados para as cidades catarinenses.
A AVALIAÇÃO DO GOVERNO DE SC
A avaliação da Secretaria de Educação de Santa Catarina sobre o resultado da pesquisa é de que o número de analfabetos idosos aumentou por causa do crescimento na expectativa de vida catarinense.
Para a coordenadora de Educação de Jovens e Adultos do Estado, Maria das Dores Pereira, os catarinenses que não foram alfabetizados estão vivendo mais tempo.
Ela explica que, mesmo com o Programa Brasil Santa Catarina Alfabetizado, a meta de alfabetização – que é de pelo menos 30 mil por ano – está longe de ser alcançada. Em cinco anos, somente 45 mil pessoas concluíram o programa no Estado. O investimento do governo federal para o programa, que atua desde 2003 no Estado, é de R$ 1,5 milhão para 2011.
Maria das Dores argumenta ainda que o resultado da pesquisa apontando o crescimento de analfabetos em Santa Catarina se dá também pelo investimento federal ter sido superior nos Estados com índices mais baixos de escolaridade.
— O investimento foi maior nos Estados mais pobres do País. Por isso, a redução no número de analfabetos foi superior ao nosso —, conta.
Cláudia Morriesen
AN.COM.BR
Zero Hora
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