segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Número de analfabetos é cada vez menor em Joinville


No Estado, a situação é inversa, segundo levantamento do Ipea
Bernadete Cruz acabou de entrar em férias, mas espera ansiosa pelo início das aulas. Ela está orgulhosa porque passou para o segundo ano e agora já sabe ler. Bernadete tem 47 anos, mas há apenas três conseguiu voltar para os bancos da escola.
O sorriso dela quando lembra dos aplausos em sala de aula que os colegas davam a quem conseguia ler as primeiras palavras não cabe em estatísticas, mas ela faz parte do grupo de adultos em Joinville que está procurando educação e contribuindo para a diminuição do índice de analfabetos em Joinville.
Segundo uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o número de analfabetos no Brasil está diminuindo, mas a redução acontece em ritmo lento. O estudo compara dados da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio (Pnad), realizado entre 2004 e 2009, e mostra que o analfabetismo entre maiores de 15 anos diminuiu em todas as regiões do Brasil.
A região Sul foi a que teve a menor queda em relação às outras - apenas 20% - e Santa Catarina tem um aumento no índice de analfabetos, que cresceu 14% - a redução pode ser explicada pelo aumento populacional, que foi maior que a média nacional.
Mas Bernadete mora em Joinville e planeja seguir em frente com os estudos. Da mesma forma, nos últimos seis anos mais de 5 mil jovens e adultos tomaram essa decisão e procuraram os centros de educação de jovens e adultos e programas de alfabetização do governo, reduzindo o índice de analfabetismo na cidade de 6% em 2004 para 0,75% em 2010.
A maioria das pessoas na idade de Bernadete não retorna para a escola ou desiste no meio - na turma dela, este ano, metade dos alunos não chegou ao fim do período letivo.
— A partir dos 45 anos, é difícil fazer alguém voltar para a escola para aprender a ler, porque a pessoa começa a se afastar do mercado de trabalho —, conta Vanessa da Rosa, coordenadora do Ensino de Jovens e Adultos da Secretaria de Educação de Joinville.
Só nos programas do município, 480 pessoas com mais de 16 anos estão matriculadas nas séries iniciais do ensino fundamental, mas a idade de quem estuda à noite fica entre 16 e 30 anos.
Os mais velhos costumam procurar os programas de voluntários, como o Mutirão da Alfabetização, no qual um professor vai até a casa ou à Igreja para dar aulas de escrita e leitura.
Nos programas do governo do Estado, são 200 alunos matriculados, formando sete turmas com alunos de Joinville, São Francisco do Sul, Araquari e Garuva.
— O foco do programa é levar a alfabetização às regiões onde o acesso é mais difícil, em bairros mais afastados do Centro da cidade —, afirma Maristela Kühl, diretora geral do Centro de Educação de Jovens e Adultos.
Exceção a todas as regras, Bernadete foi a primeira a se matricular quando ficou sabendo que o Mutirão de Alfabetização estava chegando ao bairro em que mora, o Paranaguamirim.
Os dois primeiros anos de ensino foram uma espécie de pré-escola, mas ela não perdeu o fôlego. E quando aprendeu a ler, conseguiu emprego na igreja que frequenta, auxiliando o pastor e colaborando na organização da igreja. Toda essa satisfação faz com que ela queira continuar estudando.
— Conseguir ler tudo o que você vê é muito bom. Quem não sabe ler parece que vive fora da realidade —, diz.

EM SC, ÍNDICE DE ANALFABETOS ESTÁ 14% MAIOR
Mesmo o Estado sendo considerado um dos mais escolarizados do País, o número de analfabetos catarinenses cresceu 14% entre 2004 e 2009. A análise é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, feita anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No País, o número de analfabetos caiu 7%, segundo a pesquisa. Aproximadamente 1 milhão a menos de analfabetos. No período analisado, as maiores quedas na taxa de analfabetismo foram registradas no Nordeste – de 22,4% para 18,7% –, e Norte – de 12,7% para 10,6%. Com uma redução de 66%, o Amapá passou a ter a menor taxa de analfabetismo do Brasil: 2,8%.
Apesar da queda nacional, cinco Estados tiveram crescimento no número de analfabetos: Rondônia, Acre, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Santa Catarina.
Em 2004, eram 208.874 analfabetos catarinenses. Até o ano passado, o número aumentou em 29.339, totalizando 238.213 pessoas que não sabem ler, nem escrever no Estado. Porém, o crescimento foi registrado somente na faixa de idosos com 65 anos ou mais.
Para o pesquisador do Ipea Paulo Corbucci, há surpresa no fato de o Estado figurar entre os cinco Estados com o maior aumento de analfabetismo no País. Ele explica que nos outros quatro – Rondônia, Acre, Mato do Grosso do Sul e Mato Grosso –, o panorama é compreensível por se tratarem de Estados essencialmente agrícolas e em expansão.
— Santa Catarina remete ao perfil de ser mais escolarizada e esse resultado parece ilógico. Isso só mostra que os programas de alfabetização são ineficazes ou o acesso a essas iniciativas é falho. Quando se tem aumento no número de analfabetos, é preciso aumentar mais o investimento nessa área —, explica.
Segundo ele, dois fatores podem ter contribuído para esse crescimento ter sido maior na faixa etária de pessoas com 65 anos ou mais. A primeira seria o aumento na expectativa de vida da população e o consequente envelhecimento daquelas pessoas que em 2004 estavam na faixa de 60 a 64 anos. Outro motivo seria a migração de pessoas de outros Estados para as cidades catarinenses.

A AVALIAÇÃO DO GOVERNO DE SC
A avaliação da Secretaria de Educação de Santa Catarina sobre o resultado da pesquisa é de que o número de analfabetos idosos aumentou por causa do crescimento na expectativa de vida catarinense.
Para a coordenadora de Educação de Jovens e Adultos do Estado, Maria das Dores Pereira, os catarinenses que não foram alfabetizados estão vivendo mais tempo.
Ela explica que, mesmo com o Programa Brasil Santa Catarina Alfabetizado, a meta de alfabetização – que é de pelo menos 30 mil por ano – está longe de ser alcançada. Em cinco anos, somente 45 mil pessoas concluíram o programa no Estado. O investimento do governo federal para o programa, que atua desde 2003 no Estado, é de R$ 1,5 milhão para 2011.
Maria das Dores argumenta ainda que o resultado da pesquisa apontando o crescimento de analfabetos em Santa Catarina se dá também pelo investimento federal ter sido superior nos Estados com índices mais baixos de escolaridade.
— O investimento foi maior nos Estados mais pobres do País. Por isso, a redução no número de analfabetos foi superior ao nosso —, conta.

Cláudia Morriesen

AN.COM.BR


Zero Hora

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