sábado, 22 de janeiro de 2011

Cadeirante diz que foi vítima de preconceito de delegado e pede investigação por crime mais grave


BO registrado em São José dos Campos fala sobre lesão corporal dolosa

A natureza do crime registrada no boletim de ocorrência sobre a suposta agressão cometida pelo delegado de polícia Damasio Marino contra um cadeirante em São José dos Campos, cidade a 97 km de São Paulo, ameniza a pena do suspeito caso ele venha a ser condenado. Esta, pelo menos, é a visão da própria vítima, o advogado Anatole Magalhães Macedo Morandini.
Em entrevista exclusiva ao R7, Morandini contou que o BO registrado no 1º Distrito Policial de São José, na última segunda-feira (17), classifica o suposto crime como lesão corporal dolosa (quando há intenção de ferir), enquanto - na visão da vítima - o caso se configura como preconceito.
De acordo com o advogado, se o suspeito seja condenado por lesão, pode pegar, no máximo, um ano de prisão - pena que geralmente é substituída pela prestação de serviços sociais ou pelo pagamento de cestas básicas. Já o crime de preconceito prevê até cinco anos de prisão em regime fechado.
A suposta agressão ocorreu na última segunda-feira após uma discussão sobre uma vaga de estacionamento reservada para portadores de deficiência. Morandini contou que, por volta das 17h, ele tentou estacionar seu carro em uma vaga especial próxima a um cartório no centro da cidade do interior. Porém, a vaga destinada a deficientes físicos estava ocupada. O advogado parou o carro mais longe e quando estava próximo ao cartório viu que o homem que utilizou a vaga não era portador de deficiência física.
Ele questionou o delegado Damásio Marino, até então titular do 6º Distrito Policial de São José dos Campos. Morandini relata que o delegado o chamou de “aleijado, f.da p.”, enquanto o agredia, denotando tom pejorativo.
– A atitude dele foi agressiva o tempo todo.
Além disso, Morandini afirma que Marino o teria ameaçado com uma pistola.
A reportagem do R7 tentou entrar em contato com o advogado do delegado Damasio Marino, Luiz Antonio Lourenço da Silva, e chegou a deixar recado na caixa postal do celular do defensor, mas até a publicação desta notícia não teve resposta.

Registro
A assessoria de imprensa SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que Morandino consentiu com o que foi escrito no boletim de ocorrência, uma vez que o assinou. A vítima confirma ter assinado o documento, mas justifica:
– Fui sozinho, com a cabeça sangrando. Tive que assinar.
Questionada sobre a motivação da tipificação por lesão corporal, a SSP afirma que a natureza do crime pode mudar ao longo do processo penal. Morandini contou que chegou a pedir a Corregedoria da Polícia Civil a mudança da natureza do crime no BO, e que recebeu uma resposta positiva.

Segunda omissão
Morandini é paraplégico desde os 17 anos. Em 1992, sofreu três tiros durante uma tentativa de assalto em São José dos Campos. Os disparos atingiram o braço, o peito e as costas do advogado.
- Ele [o bandido] surgiu do nada, apontando a arma. Esbocei uma reação, mas não de intimidar e confrontar. Me assustei, ele achou que eu ia tomar alguma atitude e atirou.
Hoje com 35 anos, Morandini diz que a investigação do seu crime ficou parada. Não foi chamado nem para prestar depoimento. A sensação de impunidade foi uma das coisas que o levaram a buscar a carreira de advogado. Ele virou especialista em processos cíveis e trabalhistas.
É comum, segundo Morandini, que pessoas que não são deficientes ocupem as vagas reservadas. Sempre que vê isso, ele toma satisfação.
– Eu sempre chamo a atenção. As pessoas geralmente ficam constrangidas, pedem desculpas e tiram o carro. Jamais tinha me deparado com uma reação tão raivosa e violenta.
Por conta das agressões supostamente cometidas pelo delegado, Morandini teve que interromper um tratamento médico que faria na capital paulista.

João Varella


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