terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Exposição britânica mostra carta de amor de mais de 530 anos


Neste mês em que boa parte dos países do mundo comemora, no dia 14, o Dia dos Namorados, a Biblioteca Britânica de Londres está expondo o mais antigo documento contendo a palavra Valentine ("namorado", em tradução livre) de que se tem conhecimento na língua inglesa.

Trata-se de uma carta de amor enviada em 1477 por Margery Brews a John Paston. Nela, a remetente pede ao destinatário que não desista dela, apesar da recusa, pelos pais de Brews, em aumentar o dote da filha.
Como parte da exposição, os pesquisadores da Biblioteca Britânica localizaram os descendentes de Brews e do seu amado.
Em mensagem ao seu ryght welebeloued Voluntyne, em inglês arcaico, (right well-beloved Valentine, em inglês moderno, ou “querido namorado”, em tradução livre), Brews promete ser uma boa esposa.
"Yf that ye loffe me as Itryste verely that ye do ye will not leffe me" (If you love me, I trust (...) you will not leave me, ou “se você me ama, sei (...) que não vai me deixar”), diz Brews.
Na carta, ela também promete amor eterno e verdadeiro acima de todas as coisas terrenas e fala do sofrimento do seu corpo e do seu coração diante do contínuo silêncio do noivo.

Dinheiro x amor
Segundo o curador da exposição, Julian Harrison, a carta revela que, se por um lado o pretendente à mão de Brews aparenta ter considerações financeiras em mente, a remetente revela, claramente, inclinações românticas.
"Não quer dizer, necessariamente, que ninguém tenha usado a palavra Valentine em qualquer contexto antes, mas esta foi, provavelmente, uma das primeiras vezes que ela foi escrita".
E para a historiadora Helen Castor, da Universidade de Cambridge, a importância da carta de Margery Brews para a compreensão de como eram os relacionamentos no período é imensa.
"Uma das coisas maravilhosas em relação a esta carta em particular é que ela é tão pessoal", disse Castor.
"Ela dá uma ideia muito verdadeira do como era o relacionamento entre um jovem e uma jovem que querem se casar."
"Sem esta carta, não saberíamos que este foi um casamento por amor."
"Nós partimos do pressuposto de que, nessa classe social e nesse período, os casamentos eram feitos por conveniência, por razões dinásticas", explica a historiadora. "Mas as cartas de Margery mostram que tudo se encaixa em torno do fato de que esse era um casal que realmente amava um ao outro."

534 anos depois
O arqueólogo Rob Edwards, de 38 anos, um descendente do casal, considera a carta de Margery um vínculo precioso com o passado.
"Ela é um lembrete de que as pessoas que você estuda são como nós, têm os mesmos sentimentos. E o fato de que são meus parentes acrescenta uma nova dimensão."
A jovem medieval tinha outras coisas em comum com apaixonados do século 21.
Ela usava abreviaturas - wt em vez de with (a preposição “com”), por exemplo. Muitos jovens, na internet ou em mensagens de celular, também encurtam as palavras.
Uma peculiaridade da carta é que ela não foi escrita pela mão de Margery. Segundo o curador Julian Harrison, a remetente provavelmente ditou a carta para que um homem a escrevesse.
"O fato de que ela não está escrevendo a carta não quer dizer que ela não sabe escrever, quer dizer que pode pagar a alguém para escrever para ela."
"As pessoas tendem a pensar que o povo no passado era analfabeto, mas na verdade os índices de alfabetização podem ter sido mais altos do que pensamos."
A história de amor de Margery e John teve um final feliz. Os dois se casaram e, em 1479, tiveram um filho, William. Margery morreu em 1495. John, em 1503.

Arquivo Paston
Para historiadores britânicos, o arquivo com mais de mil cartas da família Paston - a maioria delas aos cuidados da Biblioteca Britânica - oferece pistas fascinantes sobre as vidas da pequena nobreza durante a Idade Média.
São as mais antigas correspondências pessoais de que se tem registro na Grã-Bretanha.
Grande parte da documentação que sobreviveu desse período são documentos legais, registros governamentais, documentos financeiros e títulos de propriedades.
As cartas dos Paston foram escritas entre 1422 e1509 por três gerações da família, proprietária de terras na região de Norfolk, cidade no leste da Inglaterra.
Elas descrevem brigas de família, pais que reclamam, confrontos com a aristocracia e festas feitas na ausência das mães.
Mas a carta de Margery, a primeira Valentine inglesa, tem significado especial para os especialistas.
Ela é destaque na exposição Evolving English, da Biblioteca Britânica, que traça a evolução da língua inglesa.

Margery e John
Até os 33 anos de idade, John Paston 3º tentou encontrar a esposa certa: ela tinha de ser de boa família, bonita e, acima de tudo, rica.
Entretanto, com o passar do tempo, cartas escritas por John ao irmão mais velho mostram que seus critérios foram sendo reavaliados - ele se contentaria com menos, desde que ela tivesse dinheiro.
Tudo isso mudou quando ele conheceu Margery, a filha de 17 anos de Thomas Brews. Embora ela fosse de uma boa família, não era uma herdeira e seu pai tinha outras filhas, portanto seu dote era pequeno.
Apesar de John estar apaixonado, a família Paston exigiu um dote maior. A situação parecia ter chegado a um impasse até que as mães do casal intervieram e o casamento aconteceu, em 1477


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Verbratec© Desktop.