sábado, 19 de fevereiro de 2011

SP: Professor de Matemática é afastado sob suspeita de fazer apologia ao crime em prova


SÃO PAULO - Um professor de Matemática da Escola Estadual João Octávio dos Santos, no Morro do São Bento, em Santos, litoral de São Paulo, foi afastado do cargo pela Secretaria Estadual de Educação sob suspeita de fazer apologia ao crime. Numa prova aplicada a alunos, havia questões sobre a prática de crimes, como prostituição, tráfico de drogas e roubo de veículos. Uma aluna do 1º ano C, do Ensino Médio, não entregou o teste ao professor e, de posse do conteúdo, revelou o teor aos pais.
A prova foi levada ao conhecimento da direção da escola e, posteriormente, à Polícia Civil. A Secretaria de Estado da Educação informou que afastou o docente para investigar o caso.
A polêmica avaliação continha problemas matemáticos, com questões que abordavam o tráfico de drogas, receptação de carros roubados, homicídio qualificado mediante pagamento e prostituição. Os resultados das equações sempre apontavam vantagens para os criminosos. Foram seis questões escritas na lousa, para que os estudantes copiassem e respondessem em uma folha à parte.
Em um dos problemas, o docente perguntou quantos carros teriam de ser roubados por um indivíduo para ele receber R$ 2 mil, já que para cada veículo o pagamento era de R$ 500,00. Em outro teste, ele deu detalhes de uma mistura de cocaína com bicarbonato para os traficantes aumentarem sua margem de lucro, e questionou qual o percentual da droga pura na receita. Em outra questão, era dito o seguinte:
- Pipoco está na prisão por assassinato, pelo qual recebeu R$ 5 mil. A mulher dele gasta R$ 75 por mês.Quanto dinheiro vai restar para Pipoco quando ele sair da prisão daqui a quatro anos?
No momento da prova, o professor, identificado como Lívio, teria dito aos estudantes que o teste era uma "avaliação diagnóstica", para analisar o conhecimento da turma sobre a matéria.
- A escola está ali para recuperar e não para 'jogar' para o tráfico, ou receptação e prostituição - disse a mãe da aluna que fez a denúncia e prefere não se identificar.
Outra mãe que viu a prova, Ana Silva, disse que ficou hororrizada.
- Não meu tempo não tinha disso não.
O jornal A Tribuna, de Santos, conseguiu falar pelo telefone com o professor. Aparentemente abalado, ele não quis entrar em detalhes sobre o caso e a forma como obteve ou elaborou as perguntas. Segundo ele, as mesmas questões são encontradas em sites de humor, alguns lançados em 2009.
Alegando ter sua "carreira destruída pela exposição exagerada" do fato, Lívio disse que foi "mal interpretado", e que explicou aos pais da aluna o motivo da aplicação do teste, inclusive pedindo desculpas. Mas ele não justificou a razão de optar por tais questões. Lívio afirmou que "a ficha ainda não caiu" e, portanto, não sabe o que poderá acontecer com sua carreira.
- Acabou - disse o professor, encerrando a conversa.
Investigadores da Delegacia de Investigação sobre Entorpecentes (Dise) tentaram localizar o professor, mas não o encontraram em sua residência.
O delegado da Dise, Francisco Garrido Fernandes, instaurou inquérito para apurar a suposta apologia ao crime. Ele disse que, durante a investigação, serão ouvidos o docente, os pais, a aluna e a diretora da escola, Maria Madalena de Almeida Serralva, que prestará depoimento nesta segunda-feira.
- Os pais foram ouvidos, a Delegacia de Ensino notificada. Também foram notificados a diretora e esse professor - disse o delegado.


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