segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Ana Moser é tirada de Heliópolis por lideranças locais


Nem no auge da carreira, a ex-jogadora de vôlei da seleção brasileira Ana Moser esperava levar uma cortada como essa nas quadras.

Há oito anos e meio com um projeto para ensinar o esporte a crianças de Heliópolis, ela foi expulsa do bairro pela associação de moradores em meio a acusações.
De um lado da rede, a poderosa Unas -a união das associações dos moradores de Heliópolis- acusa Moser de jogar a comunidade contra as lideranças do bairro.
Do outro, a ex-atleta diz que a insatisfação com o trabalho social é geral, que não se envolve politicamente nas questões da favela e que a força que sua ONG tem na região incomoda a diretoria.
No meio de campo, alunos dizem que material de campanha do candidato a deputado do bairro foi achado na entidade, a contragosto de Moser. Os moradores souberam e se mobilizaram a favor da ex-jogadora.
Em três dias, 2.000 assinaturas foram coletadas a favor da permanência de Moser. Na última sexta, uma passeata reuniu 300 moradores.
Para a Unas, Moser descumpria acordos, abriu o espaço para outras entidades e cobrava R$ 5 para aulas de ginástica, musculação e yoga, atividades não previstas.
Numa carta distribuída aos moradores, a agremiação diz não ver "transparência, honestidade e ética" na ex-jogadora de vôlei e, por isso, rompia relações.

BARRACO
Malcontente por ter sido tirada da quadra da favela sem consulta às famílias atendidas, Moser convocou reunião na última quinta-feira com os moradores e a associação. Terminou em barraco.
Em meio à troca de acusações, a presidente da Unas, Antonia Cleide Alves, disse que a maioria dos usuários da quadra faz ginástica e yoga, em vez de jogar vôlei.
Moser diz atender 420 crianças e 40 jovens nas aulas de voleibol e 280 mulheres na de musculação.
Cleide, então, pediu para quem fizesse ginástica levantasse a mão. Toda a quadra -havia uns 300 moradores- se manifestou. Depois, perguntou quem tinha filho nas aulas de vôlei. Umas 30 mulheres estenderam o braço.
"No nosso trabalho não há envolvimento político então acaba dando um pouco de choque. Não sei se eles têm condições de tocar um projeto lá para suprir o trabalho que fazemos", afirma Moser.
"Em vez de jogar vôlei, ela está jogando a comunidade contra nós", diz Cleide.
Problema: a ex-jogadora diz ter, por meio da sua ONG, o Instituto Esporte e Educação, orçamento público comprometido até abril de 2011.
A Unas convocou uma reunião amanhã para fazer uma auditoria na aplicação do balanço de R$ 7 milhões do IEE, que diz serem recursos públicos captados através da Lei de Incentivo ao Esporte.
A discussão foi parar na prefeitura, dona do terreno. A Secretaria da Habitação diz não poder arbitrar no conflito nem retirar o direito de uso da Unas, concedido no passado. A solução, diz, é achar um novo espaço para Moser.
O bate-boca na reunião terminou aos gritos, lado a lado, de "a quadra é nossa". A ex-jogadora tem até amanhã para deixar o espaço. Esse primeiro set ela perdeu.


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