quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Brasileira encontra pedaço de paraíso em Nuarro, Moçambique

Laura Carneiro saiu de Curitiba aos 23 anos para descobrir o mundo. Estudou artes plásticas no sul da França, fez os mais diversos cursos na Inglaterra e acabou sendo instrutora de mergulho no Mar Vermelho, no Egito. Sua paixão pelo mundo marinho aumentou, resolveu aprender a velejar e foi para a África do Sul. “A África me pegou pelos cabelos e me chacoalhou”, diz Laura – ou Lóla, como é conhecida pelos amigos. “A África não foi uma opção, mas um chamado. Por isso, resolvi fincar raízes nessa parte do mundo.”
Durante sua peregrinação, Lóla buscava inspiração para uma “missão” ainda por ser descoberta. “Queria encontrar algum lugar mágico no litoral do sul da África onde eu pudesse criar um projeto de turismo ecológico, sustentável e justo”, afirma. Ao conhecer Steve Hodges, um engenheiro inglês que trabalhava na Rolls Royce e que (também) largou tudo para ser instrutor de mergulho, Lóla encontrou sua alma gêmea. “Em 2005, decidimos viajar juntos para conhecer toda a extensão do litoral moçambicano. A busca pelo paraíso começava a tomar forma”.
O casal de mergulhadores percorreu as mais belas praias do litoral de Moçambique (que tem quase 2.500 km de extensão), da fronteira com a África do Sul até a da Tanzânia, no norte. “Acampávamos uma noite na areia debaixo de uma casuarina, dormíamos a seguinte, rodeados de crianças, em um vilarejo macua (ou Macwa, em Moçambique) e a próxima em uma pousada cinco estrelas”, diz a aventureira. “Um dia chegamos em Baixo do Pinda e foi amor à primeira vista.”


A 3 km do farol, Laura e Steve encontraram uma praia deserta, de areia branca, e contataram as autoridades do vilarejo. “Nossas reuniões aconteceram – e ainda acontecem – sob a sombra de um frondoso cajueiro, no coração da pequena vila de Nanatha”, diz Laura. “Nosso projeto foi recebido com curiosidade e gerou um sentimento de esperança de um futuro melhor. Aos poucos, começamos a conquistar a confiança dos macuas e resolvemos construir a pousada Nuarro”.
Como parte do ideal de Laura e Steve, a pousada deveria ser o mais sustentável possível, a começar pelo material – que deveria ser todo encontrado na região. As paredes foram levantadas com barro, o teto é de folhas de palmeiras e a madeira é local. “Como escolhemos uma tecnologia conhecida pelos macuas, conseguimos empregar cerca de uma centena de pessoas que estavam com tempo ocioso”, afirma Laura. Por outro lado, para que a pousada pudesse estar na altura dos padrões internacionais, Laura contou com o apoio de um arquiteto francês, radicado há muitos anos em Moçambique, para incluir os toques “cinco estrelas” em seu estabelecimento.
As tecnologias modernas de sustentabilidade também foram incluídas por Laura e Steve. Toda a pousada funciona com eletricidade gerada por 50 painéis fotovoltaicos. “É raro precisarmos colocar o gerador movido a diesel em andamento. Precisamos de vários dias nublados para ter de ativá-lo”, afirma a brasileira.
“Teria sido mais fácil e até mais barato construir uma pousada tradicional. Foi uma questão de pura ética que nos fez seguir o caminho da sustentabilidade”, diz a brasileira. “É a melhor forma de começar um empreendimento. Precisamos respeitar a vida – tanto a natureza como os habitantes locais.”



Mikael e eu chegamos em Nuarro para passar dois dias. Ficamos uma semana. Nem preciso explicar por quê! Além de ter conhecido um pedaço do paraíso, encontramos pessoas como Steve, Laura e sua irmã Heloísa, que realmente acreditam no que fazem. Mikael já fez até um pedido a Omega Megog, nossa divindade das viagens: “se um dia eu me casar, quero passar minha lua-de-mel em Nuarro!”


Viajologia

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