A autora americana Melanie Thernstrom está longe de ser uma mãe comum, na concepção da biologia. Mas sua abnegação em prol do bem de seus dois filhos – Kieran e Violet – é própria de uma mãe. E das melhores. Melanie conta a história inusitada de sua família na próxima edição da revista semanal do jornal americano The New York Times.
Melanie se casou com Michael, cinco anos mais novo, depois dos 40 anos de idade. A biologia teimava em confirmar o que o casal sentia. Eles acreditavam terem sido feitos um para o outro, mas não havia meio de terem um filho. Melanie se sentia culpada. Achava que sua idade, “avançada para a maternidade”, privaria Michael do sonho de ter um filho. Após seis tentativas de fertilização in vitro – quando o óvulo da mãe é fecundado com o espermatozóide do pai em laboratório e o embrião é implantando no útero materno – o casal desistiu. Da gravidez, não de ter um filho. Melanie diz ter percebido que tudo o que mais queria na vida era um bebê saudável e não ficar grávida. Se era possível conseguir um bebê por outros meios, por que continuar com o desgastante – e caro – processo de fertilização?
O casal pensou em adotar uma criança, mas ficou desanimado com a demora. Um dos médicos sugeriu uma ideia polemica: encontrar uma mulher que se dispusesse a doar seu óvulo (para que ele fosse fertilizado com o espermatozóide de Michael) e achar outra mulher que se dispusesse a carregar o bebê na barriga por nove meses. O objetivo era conseguir gerar uma criança saudável, que será “adotada” pela mãe infértil, sem que a mãe doadora do óvulo e a mãe doadora da barriga se apeguem demais ao bebê (afinal, tem tanta gente envolvida na gravidez que o sentimento de “é meu” se torna menos obsessivo).
A ideia não é exatamente uma novidade, já foi colocada em prática em outros casos. Mas Melanie e Michael resolveram ir além. Quando pensaram em ter filhos e começaram a tentar as fertilização in vitro, eles queriam gêmeos – para que os bebês crescessem juntos e os irmãos fossem companhia um para o outro. Melanie e Michael perceberam que poderiam levar sua ideia adiante mesmo com a barriga de aluguel. Poderiam pegar dois óvulos da mãe doadora, fertilizar com os espermatozóides de Michael e encontrar duas barrigas de aluguel, para gerar os bebês simultaneamente (todo mundo acompanhando a história aí?).
Os papais ambiciosos conseguiram o feito. Encontraram uma doadora de óvulos e duas barrigas de aluguel. Os óvulos foram inseminados no mesmo dia – o que faz que eles tenham tecnicamente a mesma idade (apesar de os bebês terem nascido com cinco dias de diferença). Nove meses depois, Melanie e Michael se tornaram os felizes papais de Violet e Kieran – irmãos do mesmo pai e da mesma mãe biológica (a doadora dos óvulos), gerados por barrigas diferentes, mas que têm a mesma idade. Praticamente irmãos gêmeos (mas não como aqueles originados a partir do mesmo óvulo).
A história é esquisita, Melanie não nega. E, para diminuir a esquisitice, ela achou que era melhor não manter a identidade de nenhum dos envolvidos em segredo. Muitas agências que recrutam doadoras de óvulo e barrigas de aluguel tratam de manter seus clientes e suas agenciadas bem separados – para que não aconteçam situações constrangedoras. Os futuros pais podem se esquecer do processo e se sentir pais por completo. Melanie não quis seguir esse modelo. Optou por escolher outras mulheres com as quais ela se identificava e que poderiam contribuir com a educação (ou com o background genético) das crianças. Melanie permitiu que as duas mães que serviram de barriga aluguel amamentassem as crianças (talvez, um dos momentos que estabeleçam a maior conexão entre mães e filhos). Elas estavam presentes até na festa de um ano das crianças. Melanie também convidou a mãe doadora de óvulos, mas ela não pode ir porque mora em outro Estado. Ainda sim, Melanie sempre manda roupinhas dos bebês para ela ter de lembrança.
Melanie diz não ter nenhum pouco de ciúme – apesar de morrer de raiva de quem diz “a mãe biológica” ou “as mães barriga de alugel”. Mãe é ela e isso não discute. Ela conta que o sentimento de desprendimento veio depois que ela entendeu que esse processo, ainda que confuso, seria a melhor maneira de ter bebês saudáveis. Enfim, era o melhor para as crianças. É claro que sempre resta a dúvida de como as crianças vão reagir ao crescer com uma confusão dessas. Será que elas se sentirão diferentes das demais? Quais seriam os impactos psicológicos disso? Ou elas teriam uma formação mais completa e uma visão mais generosa da vida? Melanie ainda não sabe das respostas. Tudo o que ela diz ter feito foi colocar o bem das crianças acima de seus desejos e de seus sentimentos. Há uma atitude mais típica de mãe do que essa?
Marcela Buscato
Melanie se casou com Michael, cinco anos mais novo, depois dos 40 anos de idade. A biologia teimava em confirmar o que o casal sentia. Eles acreditavam terem sido feitos um para o outro, mas não havia meio de terem um filho. Melanie se sentia culpada. Achava que sua idade, “avançada para a maternidade”, privaria Michael do sonho de ter um filho. Após seis tentativas de fertilização in vitro – quando o óvulo da mãe é fecundado com o espermatozóide do pai em laboratório e o embrião é implantando no útero materno – o casal desistiu. Da gravidez, não de ter um filho. Melanie diz ter percebido que tudo o que mais queria na vida era um bebê saudável e não ficar grávida. Se era possível conseguir um bebê por outros meios, por que continuar com o desgastante – e caro – processo de fertilização?
O casal pensou em adotar uma criança, mas ficou desanimado com a demora. Um dos médicos sugeriu uma ideia polemica: encontrar uma mulher que se dispusesse a doar seu óvulo (para que ele fosse fertilizado com o espermatozóide de Michael) e achar outra mulher que se dispusesse a carregar o bebê na barriga por nove meses. O objetivo era conseguir gerar uma criança saudável, que será “adotada” pela mãe infértil, sem que a mãe doadora do óvulo e a mãe doadora da barriga se apeguem demais ao bebê (afinal, tem tanta gente envolvida na gravidez que o sentimento de “é meu” se torna menos obsessivo).
A ideia não é exatamente uma novidade, já foi colocada em prática em outros casos. Mas Melanie e Michael resolveram ir além. Quando pensaram em ter filhos e começaram a tentar as fertilização in vitro, eles queriam gêmeos – para que os bebês crescessem juntos e os irmãos fossem companhia um para o outro. Melanie e Michael perceberam que poderiam levar sua ideia adiante mesmo com a barriga de aluguel. Poderiam pegar dois óvulos da mãe doadora, fertilizar com os espermatozóides de Michael e encontrar duas barrigas de aluguel, para gerar os bebês simultaneamente (todo mundo acompanhando a história aí?).
Os papais ambiciosos conseguiram o feito. Encontraram uma doadora de óvulos e duas barrigas de aluguel. Os óvulos foram inseminados no mesmo dia – o que faz que eles tenham tecnicamente a mesma idade (apesar de os bebês terem nascido com cinco dias de diferença). Nove meses depois, Melanie e Michael se tornaram os felizes papais de Violet e Kieran – irmãos do mesmo pai e da mesma mãe biológica (a doadora dos óvulos), gerados por barrigas diferentes, mas que têm a mesma idade. Praticamente irmãos gêmeos (mas não como aqueles originados a partir do mesmo óvulo).
A história é esquisita, Melanie não nega. E, para diminuir a esquisitice, ela achou que era melhor não manter a identidade de nenhum dos envolvidos em segredo. Muitas agências que recrutam doadoras de óvulo e barrigas de aluguel tratam de manter seus clientes e suas agenciadas bem separados – para que não aconteçam situações constrangedoras. Os futuros pais podem se esquecer do processo e se sentir pais por completo. Melanie não quis seguir esse modelo. Optou por escolher outras mulheres com as quais ela se identificava e que poderiam contribuir com a educação (ou com o background genético) das crianças. Melanie permitiu que as duas mães que serviram de barriga aluguel amamentassem as crianças (talvez, um dos momentos que estabeleçam a maior conexão entre mães e filhos). Elas estavam presentes até na festa de um ano das crianças. Melanie também convidou a mãe doadora de óvulos, mas ela não pode ir porque mora em outro Estado. Ainda sim, Melanie sempre manda roupinhas dos bebês para ela ter de lembrança.
Melanie diz não ter nenhum pouco de ciúme – apesar de morrer de raiva de quem diz “a mãe biológica” ou “as mães barriga de alugel”. Mãe é ela e isso não discute. Ela conta que o sentimento de desprendimento veio depois que ela entendeu que esse processo, ainda que confuso, seria a melhor maneira de ter bebês saudáveis. Enfim, era o melhor para as crianças. É claro que sempre resta a dúvida de como as crianças vão reagir ao crescer com uma confusão dessas. Será que elas se sentirão diferentes das demais? Quais seriam os impactos psicológicos disso? Ou elas teriam uma formação mais completa e uma visão mais generosa da vida? Melanie ainda não sabe das respostas. Tudo o que ela diz ter feito foi colocar o bem das crianças acima de seus desejos e de seus sentimentos. Há uma atitude mais típica de mãe do que essa?
Marcela Buscato
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