segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Meditação ajuda idosos a tratar doenças crônicas e a transformar suas vidas

Meditação diária acaba com problemas de hipertensão,
diabetes, depressão, dores físicas e outras doenças crônicas

Pesquisa da Unifesp mostra melhoras também na postura, disposição, sono, entre outros

Primeiro passo:
recuperar a percepção sensorial. Não sinta apenas os pés sobre o chão, mas, sim, sinta os pés, perceba-os separadamente. Segundo passo: respirar profundamente. Leve o ar até o baixo-ventre, movimentando o músculo do diafragma. Valorize as pausas após a inspiração e a expiração, fazendo uma respiração em quatro tempos.
Essa receita fez com que idosos da periferia de São Paulo melhorassem a qualidade do sono e se curassem de problemas como hipertensão, diabetes, depressão, dores físicas, entre outras doenças crônicas. A prática da meditação interferiu não apenas na saúde, mas transformou a vida dessas pessoas, trazendo outro benefício: qualidade de vida.
Um projeto desenvolvido pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) no Hospital Geral de São Mateus, na zona leste da capital paulista, está acompanhando 140 idosos que adotaram técnicas de meditação para alterar o estilo de vida. Após dois meses de acompanhamento em um primeiro grupo de 70 pessoas, 59 deles (84%) afirmaram praticar meditação ao menos uma vez por dia. Os 11 restantes disseram meditar ao menos uma vez por semana.
Nesse grupo que manteve o hábito diário, resultados preliminares mostram que 71% melhoraram a postura e o humor (42 pessoas), 64% a respiração (38), 62% a disposição (37), 57% o sono e a alimentação (34) e 45% acusaram melhora em relação a suas doenças crônicas (27). Uma parte deles melhorou ainda o hábito intestinal, dores físicas e a memória. Já no grupo que afirmou fazer meditação apenas uma vez por semana, houve melhora em relação à postura, alimentação, respiração, hábito intestinal, respiração, sono e humor – porém, em percentual mais baixo. Não houve alteração em relação a disposição, memória, dores físicas e doenças crônicas.
De acordo com os pesquisadores, coordenados por Fernando Bignardi, médico homeopata, geriatra, gerontólogo e coordenador do Centro de Estudos do Envelhecimento da Unifesp, “a meditação tem se mostrado um importante recurso de promoção de saúde e transformação de vida". Bignardi conta que, "com a prática da meditação, observou-se um resgate do sentido da vida e da libido, acarretando saúde e bem-estar”.

Quarto nível
Segundo Bignardi, a meditação é um recurso que permite ao ser humano atingir um quarto estágio de consciência, reconhecido pela neurociência. Os três primeiros níveis são: a vigília, o sono e o REM (sigla em inglês que significa movimento rápido dos olhos; é o sono dos sonhos).
Além da percepção sensorial e da respiração profunda, quem medita tem mais outros dois passos. O primeiro é reconhecer sua verticalidade. Ou seja, a prática é feita na postura vertical: sentado, em pé ou até andando, só não deitado (existem exceções). E, por último, diz Bignardi, a formação de uma âncora: toda vez que um pensamento roubar sua concentração, é preciso trazê-la de volta para o ato meditativo.
- Na meditação, o cérebro está funcionando em ondas cerebrais mais lentas, que normalmente se apresentam em sono profundo. Só que, na meditação, as pessoas têm essas ondas cerebrais em estado de alerta.
Nilda Maria de Jesus, de 64 anos, é uma das participantes do projeto no Hospital Geral de São Mateus. Ela pratica meditação uma vez por dia, pelas manhãs, desde abril deste ano. Nilda conta que o hábito fez com que ela diminuísse a quantidade de remédios que precisa. Ela continua tomando diariamente um remédio para diabetes, mas diminuiu de cinco para quatro o número de comprimidos para hipertensão, e de dois para um o recomendado para as dores.
- Eu fiquei mais ativa, mais disciplinada e mais criativa. Não tenho mais dores nas costas e nas pernas. Não sinto mais falta de ar por causa do diabetes. Hoje faço tudo com mais tranquilidade, sou mais firme nas minhas decisões.
Segundo Bignardi, a partir da meditação (que foi a única intervenção nos participantes), observou-se mudanças na atitude mental.
- Isso era seguido de alinhamento postural, mesmo sem prática de fisioterapia. Essas pessoas passaram a respirar conscientemente ao longo do dia. Passaram a ter um sono reparador. Houve grande resposta no ritmo da vida.
Nilda conta que a meditação também provocou mudanças nos hábitos alimentares. Sua dieta hoje se compõe de leite desnatado, arroz integral, frango, lentilha, grão de bico e frutas. Antes da meditação, ela já vinha fazendo uma dieta alimentar, mas, com a prática, ela conta que ficou mais rigorosa. Resultado: dona Nilda emagreceu oito quilos em dois anos.
- Agora tenho mais responsabilidade comigo mesma. Se não fizer direito, eu acabo doente.

Missão de vida
A explicação para o potencial da meditação, segundo o professor da Unifesp, tem a ver com a missão que cada um tem na vida. Desviar desse caminho, diz o médico, é abrir as portas para as doenças.
- Todos nós temos uma razão para nossa vida, uma razão essencial. E, muitas vezes, as intempéries do cotidiano nos desviam disso. Nesse processo, o organismo reage com uma doença, que é um mecanismo para alertar a pessoa que ela precisa voltar para seu caminho original. A meditação possibilita a reconexão com a sua dimensão essencial.
Bignardi explica que, ao se trabalhar o homem num modelo quântico, e não mecânico, o humano é compreendido em cinco dimensões: física (em que se manifestam as doenças crônicas e dores físicas); metabólica (alimentação); vital (hábito intestinal, respiração, sono e disposição); mental (memória e humor, além da postura, que está na transição com a dimensão vital); e a supra-mental (em que age a meditação).
O que o hábito meditativo faz, diz o médico, é agir na última dimensão, a supra-mental, e, com isso, passa a agir nas outras dimensões por efeito cascata, interferindo, portanto, na memória, humor, postura, respiração, sono, disposição e assim por diante, até chegar ao começo, onde se encontram as dores físicas e doenças crônicas.
É por esse motivo que, no projeto na zona leste de São Paulo, aqueles que praticaram meditação todos os dias conseguiram modificações nas doenças crônicas, enquanto que os que só praticaram uma vez na semana não foram tão longe. O efeito cascata não alcançou as doenças crônicas.
Dona Nilda diz que 2010 foi o ano de mudança em sua vida, quando aconteceu “muita coisa boa”.
- Antes eu era a coitadinha, queria que meus filhos tivessem dó de mim. Não de propósito, mas lá dentro, sabe?
A razão da mudança, diz, é a sua calma e tranquilidade para resolver os problemas. Ela afirma até que voltou a realizar atividades que antes não fazia. Há quatro meses, ela foi à praia e voltou com muitas conchinhas. Mas, ao chegar em casa, não sabia o que fazer com aquilo.
- Fazia dois anos que eu não trabalhava com artesanato. E, quando vi as conchinhas, comecei a pintar dentro delas. Já até comprei mais tinta. É uma criatividade que estava se apagando e que agora está florescendo. São coisas simples que estão reativando. Vontade de viver e coragem.

Dona Nilda já ensinou a filha a meditar.

Diego Junqueira


R7

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