Escolas ensinam alunos a usar internet para aumentar produtividade agrícola
Quando as professoras e irmãs Andrea e Edilene Rodrigues criaram o projeto Campo Sustentável, há quase dois anos, para ajudar seus alunos a usarem informações da internet para melhorar o aproveitamento da terra, não imaginavam que a ideia iria cruzar o Oceano Atlântico e ser adotada por um colégio sul-africano.
A iniciativa ganhou destaque internacional graças a um concurso de educação da Microsoft e chamou a atenção de Warren Sparrow, coordenador de comunicação da escola pública Rondebosch, na Cidade do Cabo. Apesar de ensinar em uma realidade bem diferente da escola rural brasileira, o sul-africano tem esperança de alcançar envolvimento e resultados semelhantes, quando o projeto começar a tomar forma, no início do ano que vem.
O Centro Estadual Integrado de Educação Rural de Vila Pavão, no Espírito Santo, tem uma grande área para plantio experimental e alunos cujas famílias vivem do campo. Já os recursos tecnológicos são escassos: a escola conta com um laboratório e apenas 15 computadores.
Mas ao mostrar para os adolescentes como buscar na internet dados como previsão do tempo, cotação para venda de cada produto e técnicas de enriquecimento do solo e plantio, o projeto pedagógico extrapolou os muros do colégio. Os alunos produzem um programa de rádio, que veicula às sextas-feiras as principais informações da semana. O programa é voltado aos agricultores da região que, em sua maioria, não têm acesso à internet.
Outra conquista do projeto capixaba foi trazer alguns dos parentes dos alunos da escola de volta aos bancos escolares. Eles estão aprendendo a usar o computador - e são os próprios estudantes que os ensinam, sempre no período noturno.
"Hoje tem alguns agricultores se juntando para comprar um computador, algo que jamais víamos antes. Eles não achavam que tecnologia era para eles", diz Andrea. "Com tudo isso, houve uma aproximação entre pais e filhos. Os filhos aprenderam a valorizar o trabalho dos pais."
Diferenças. A escola sul-africana é só para meninos e fica na zona urbana da Cidade do Cabo. Ela é também uma das mais antigas do local - existe desde 1897. A escola brasileira tem apenas 27 anos de existência.
Localizada em um subúrbio elegante, a Rondebosch recebe dos pais cerca de R$ 5 mil ao ano por aluno, apesar de ser pública. Além do laboratório de informática, há um computador com projetor em cada sala de aula.
O interesse de uma escola com tantos recursos surpreendeu as professoras brasileiras. "Quando visitei a escola, tão linda, eu não acreditava. A gente achava que seria uma escola rural, nem imaginava que uma escola com tanta infraestrutura usaria nosso projeto", conta, surpresa, Edilene.
Em Rondebosch, porém, a escassez é outra: a de espaço para cultivo. "Levei um mês para conseguir liberação de uma área para virar horta. O espaço é pequeno, então tem de ser bem aproveitado. Para estudar isso, vamos usar a internet", afirmou Sparrow.
Alunos de 5.º e 6.º ano, que já participavam de um projeto escolar de alimentação saudável, agora vão plantar seus próprios legumes e verduras. Essa parte se parece com a realidade brasileira: tudo o que os alunos plantam no campo experimental vai para a merenda.
A iniciativa sul-africana tampouco vai ficar restrita aos muros da escola. Mas se no Brasil o projeto aproximou pais e filhos, na Cidade do Cabo a intenção é aproximar jovens de realidades sociais bem diversas. "Eles vão produzir uma série de vídeos, ensinando tudo o que aprenderem na internet e na prática. Isso vai ser divulgado para uma escola próxima, só que com um público carente", explica o educador.
PARA ENTENDER:
Rede pública sul-africana é desigual
Como no Brasil, há escolas públicas e particulares oferecendo o ensino básico na África do Sul. A principal diferença é que a rede pública também cobra mensalidade dos alunos - o valor corresponde a cerca de R$ 5 mil ao ano. Quem não tem condições de pagar esse valor recebe reduções proporcionais à renda familiar, podendo chegar à isenção total.
Esse sistema resulta em grandes desigualdades até mesmo dentro da rede pública. Colégios em bairros nobres são frequentados por alunos de famílias com mais recursos e, portanto, recebem além da verba governamental as mensalidades. Com o dinheiro extra podem ter mais professores e melhor infraestrutura. Já as escolas em regiões mais pobres, onde a maioria das famílias são isentas, contam apenas com os recursos do governo.
E, apesar do fim do apartheid, as escolas públicas continuam praticamente separadas entre as que acolhem brancos e negros. Pela lei local, toda criança deve ser matriculada na escola mais próxima a sua casa. As periferias - e suas escolas - continuam povoadas majoritariamente pelos negros e os bairros ricos, por brancos.
Luciana Alvarez ENVIADA ESPECIAL CIDADE DO CABO
Estadão
Quando as professoras e irmãs Andrea e Edilene Rodrigues criaram o projeto Campo Sustentável, há quase dois anos, para ajudar seus alunos a usarem informações da internet para melhorar o aproveitamento da terra, não imaginavam que a ideia iria cruzar o Oceano Atlântico e ser adotada por um colégio sul-africano.
A iniciativa ganhou destaque internacional graças a um concurso de educação da Microsoft e chamou a atenção de Warren Sparrow, coordenador de comunicação da escola pública Rondebosch, na Cidade do Cabo. Apesar de ensinar em uma realidade bem diferente da escola rural brasileira, o sul-africano tem esperança de alcançar envolvimento e resultados semelhantes, quando o projeto começar a tomar forma, no início do ano que vem.
O Centro Estadual Integrado de Educação Rural de Vila Pavão, no Espírito Santo, tem uma grande área para plantio experimental e alunos cujas famílias vivem do campo. Já os recursos tecnológicos são escassos: a escola conta com um laboratório e apenas 15 computadores.
Mas ao mostrar para os adolescentes como buscar na internet dados como previsão do tempo, cotação para venda de cada produto e técnicas de enriquecimento do solo e plantio, o projeto pedagógico extrapolou os muros do colégio. Os alunos produzem um programa de rádio, que veicula às sextas-feiras as principais informações da semana. O programa é voltado aos agricultores da região que, em sua maioria, não têm acesso à internet.
Outra conquista do projeto capixaba foi trazer alguns dos parentes dos alunos da escola de volta aos bancos escolares. Eles estão aprendendo a usar o computador - e são os próprios estudantes que os ensinam, sempre no período noturno.
"Hoje tem alguns agricultores se juntando para comprar um computador, algo que jamais víamos antes. Eles não achavam que tecnologia era para eles", diz Andrea. "Com tudo isso, houve uma aproximação entre pais e filhos. Os filhos aprenderam a valorizar o trabalho dos pais."
Diferenças. A escola sul-africana é só para meninos e fica na zona urbana da Cidade do Cabo. Ela é também uma das mais antigas do local - existe desde 1897. A escola brasileira tem apenas 27 anos de existência.
Localizada em um subúrbio elegante, a Rondebosch recebe dos pais cerca de R$ 5 mil ao ano por aluno, apesar de ser pública. Além do laboratório de informática, há um computador com projetor em cada sala de aula.
O interesse de uma escola com tantos recursos surpreendeu as professoras brasileiras. "Quando visitei a escola, tão linda, eu não acreditava. A gente achava que seria uma escola rural, nem imaginava que uma escola com tanta infraestrutura usaria nosso projeto", conta, surpresa, Edilene.
Em Rondebosch, porém, a escassez é outra: a de espaço para cultivo. "Levei um mês para conseguir liberação de uma área para virar horta. O espaço é pequeno, então tem de ser bem aproveitado. Para estudar isso, vamos usar a internet", afirmou Sparrow.
Alunos de 5.º e 6.º ano, que já participavam de um projeto escolar de alimentação saudável, agora vão plantar seus próprios legumes e verduras. Essa parte se parece com a realidade brasileira: tudo o que os alunos plantam no campo experimental vai para a merenda.
A iniciativa sul-africana tampouco vai ficar restrita aos muros da escola. Mas se no Brasil o projeto aproximou pais e filhos, na Cidade do Cabo a intenção é aproximar jovens de realidades sociais bem diversas. "Eles vão produzir uma série de vídeos, ensinando tudo o que aprenderem na internet e na prática. Isso vai ser divulgado para uma escola próxima, só que com um público carente", explica o educador.
PARA ENTENDER:
Rede pública sul-africana é desigual
Como no Brasil, há escolas públicas e particulares oferecendo o ensino básico na África do Sul. A principal diferença é que a rede pública também cobra mensalidade dos alunos - o valor corresponde a cerca de R$ 5 mil ao ano. Quem não tem condições de pagar esse valor recebe reduções proporcionais à renda familiar, podendo chegar à isenção total.
Esse sistema resulta em grandes desigualdades até mesmo dentro da rede pública. Colégios em bairros nobres são frequentados por alunos de famílias com mais recursos e, portanto, recebem além da verba governamental as mensalidades. Com o dinheiro extra podem ter mais professores e melhor infraestrutura. Já as escolas em regiões mais pobres, onde a maioria das famílias são isentas, contam apenas com os recursos do governo.
E, apesar do fim do apartheid, as escolas públicas continuam praticamente separadas entre as que acolhem brancos e negros. Pela lei local, toda criança deve ser matriculada na escola mais próxima a sua casa. As periferias - e suas escolas - continuam povoadas majoritariamente pelos negros e os bairros ricos, por brancos.
Luciana Alvarez ENVIADA ESPECIAL CIDADE DO CABO
Estadão
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