quinta-feira, 8 de julho de 2010

O goleiro que lavou as mãos


Como é possível um atleta bem-sucedido jogar fora toda uma carreira, num dos maiores times brasileiros, salário mensal de R$ 200 mil, e uma gama de mordomias de fazer inveja aos mais pernóstico dos playboys? Como um profissional de futebol respeitado por colegas e pela torcida decide se envolver num crime bárbaro, com tamanha crueldade? Como é possível alguém praticar um crime violento envolvendo mais de dez pessoas e acreditar seriamente que o delito permanecerá encoberto e impune?
Essas são algumas das perguntas que nos assaltam à mente, antes mesmo de buscarmos qualquer resposta sobre os responsáveis pelo assassinato e ocultação do corpo de Eliza Samudio, oficialmente desaparecida há cerca de um mês, depois de ter iniciado uma disputa para comprovar a paternidade de uma criança de 4 meses, que seria filho de Bruno. Quando conheceu Bruno numa orgia, segundo a declaração dele, Eliza - que sempre admirou jogadores de futebol - não tinha ideia que tipo de relações perigosas ele mantinha. Mesmo assim teve o filho e depois mandou a fatura pro jogador, que tentou se livrar do problema da pior maneira. Primeiro, reuniu amigos, ameaçou e bateu na moça, obrigando-a tomar um chá abortivo ou coisa que o valha. Mesmo que fosse apaixonada pelo goleiro, Eliza denunciou o caso e registrou queixa na Delegacia da Mulher.
Se a polícia tivesse indiciado logo o goleiro pela primeira violência contra Eliza, muito provavelmente ele não teria ido mais longe. Até onde ele foi exatamente é um terreno pantanoso, que requer todo cuidado, a quem for andar por ele. Embora a polícia tenha fortes indícios de que foi Bruno o mandante do sequestro de Eliza, que resultou em sua morte, ainda não há provas de que ele planejou o assassinato de sua ex-amante. De qualquer forma uma pergunta básica é: o que afinal o primo e os amigos de Bruno queriam fazer com Eliza, ao levá-la do Rio para Minas Gerais? Eliza acreditou que no sítio do jogador o encontraria para fazer um acordo. Mas no meio do caminho, ela foi agredida.
De acordo com o depoimento do adolescente de 17 anos - cúmplice e testemunha-chave do crime - Bruno teria ido ao sítio dele, onde Eliza estava, com a cabeça ferida por coronhadas dadas pelo jovem. Sem falar com ela, Bruno teria se dirigido depois aos companheiros e dito que "resolvessem o problema" sem que desse "m". Essa orientação pode ter sido entendida como uma solução final (extermínio) pelos cúmplices ou aconteceu um acidente de percurso? Apesar do esforço do menor em tirar Bruno da cena do crime, a primeira hipótese parece mais provável porque - segundo o depoimento do adolescente - os acusados levaram Eliza para a casa de um certo Neném, que concluiu o "trabalhando", estrangulando a moça.
Num dos momentos mais dramáticos do depoimento, o menor confessa ter visto um pedaço da mão da moça, que foi atirado aos cães da casa, onde ela foi morta, em Vespasiano (MG). A casa pertenceria a um policial civil ou ex-PM, ainda não há clareza sobre esse ponto. O fato é que, segundo o depoimento do menor, Eliza foi esquartejada e teve as parte do corpo lançadas aos cães, como algumas pessoas eram mortas antigamente, segundo relatos bíblicos. Na hora da morte, estava na casa o filho de Eliza. Desde o início da história, o aparecimento do recém-nascido - em posse da mulher de Bruno, Dayane, foi a prova dos nove de que algo muito estranho havia acontecido com a mãe.
Se Bruno não foi o mentor do homicídio, perdeu a chance de salvar Eliza, quando a viu no sítio, em cárcere privado. Mas, para o diretor da Divisão de Homicídios, Felipe Ettore, Bruno foi o mandante do sequestro executado por Macarrão e pelo menor, com apoio do primo da mulher de Bruno, que estava no sítio, em Minas.
Justamente quando a polícia mineira aumentava o cerco a Bruno, o menor envolvido no crime passou um fim de semana na casa do jogador, em conversa com advogados dele. É claro que o único assunto que não conversaram foi sobre a derrota do Brasil na Copa. É mais provável que tenham oferecido apoio jurídico ao menor, caso ele fosse localizado pela polícia.
Só que enquanto o menor era orientado a lidar com o caso, o tio dele, um motorista de ônibus, morador de São Gonçalo, contou para a Superádio Tupi tudo o que o jovem lhe contara. Essa atitude do motorista de ônibus foi o cartão vermelho, que jogou Bruno dentro da grande área do crime. E os policiais da Homicídios não perderam tempo: com rara habilidade na polícia, interrogaram o menino até arrancar dele a história que pode levar o goleiro à prisão.
Mas OJ Simpson, com muito mais provas, conseguiu ser inocentado na Justiça americana, lembram? Por isso ainda é cedo para dizer o que Bruno fez. Mas podemos dizer com certeza o que ele deixou de fazer. Com base no depoimento do menor de 17 anos, primo de Bruno, é possível afirmar que o goleiro lavou as mãos e deixou Eliza ser levada ao matadouro. A sangue-frio.

Acompanhe a linha do tempo para entender o Caso Bruno.

Jorge Antonio Barros


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