quinta-feira, 8 de julho de 2010

Uma história de futebol, traição e assassinato



A história policial no mundo está repleta de crimes, inclusive assassinatos, entre amantes. Aqui no Brasil, alguns casos tornaram-se famosos, como por exemplo o do jornalista Pimenta Neves que matou a namorada em seu sítio em São Paulo. Passados dez anos do crime, Pimenta Neves até hoje não cumpriu um só dia de prisão. Aguarda os intermináveis e benevolentes recursos da frouxa lei penal brasileira. Dias atrás, o corpo da advogada Mercia Nakashima, de 28 anos, foi encontrado mutilado em uma represa em São Paulo . O principal suspeito do bárbaro crime é o ex-namorado.
Bruno, goleiro do Flamengo, é acusado de mandante dos crimes de sequestro e homicídio da ex-amante Eliza Samudio , além de ameaça de morte, lesão corporal e tentativa de provocação de aborto, ocultação de cadáver e formação de quadrilha - haja vista que a trama criminosa envolve vários personagens, inclusive um menor de 17 anos, primo do principal acusado. No país não se fala em outra coisa. Até o fracasso da seleção na Copa foi pro arquivo rapidamente.

A superioridade do homens nas relações amorosas
O que leva um ser humano a ter tal comportamento? O que salta aos olhos é que num relacionamento entre um homem e uma mulher muitos machos continuam, até os nossos dias, acreditando que são seres superiores, sendo a mulher um simples objeto de satisfação sexual. Registram-se as absurdas limitações da mulher por questões de doutrina religiosa em algumas partes do mundo. O raciocínio retrógrado é o da valentia e agressividade como características próprias da macheza. Ou seja, a mulher deve ao homem se subordinar, inclusive na vontade determinante da concepção ou não de um filho, caso contrário "mato, esfolo, arrebento".
Ainda que a geração de um novo ser, pelo caminho natural, dependa de um ato físico de prazer entre um homem e uma mulher, cabe principalmente à futura mãe desejar ou não aquela gravidez, que independe, após a concepção no útero materno, da vontade do homem. A partir daí, passa a ser determinante a vontade da mulher em prosseguir ou não com a gravidez. Se o macho não desejava aquela gravidez deveria ter pensado antes e se precavido. Ressalte-se que não há ainda comprovação definitiva se Bruno é ou não o verdadeiro pai do filho de Eliza Samudio.
Ameaçar, sequestrar, mandar matar a amante pelo fato de não querer arcar com o ônus do pagamento razoável de pensão alimentícia, em razão se sua renda, é ato covarde e criminoso que precisa ser punido com o máximo rigor da lei. Uma relação amorosa - ningúém obrigou Bruno a ter relações sexuais com a vítima - traz prazer momentâneo mas também pode gerar ônus que deve ser arcado por ambos, pai e mãe, cada qual dentro do que lhe cabe na formação e guarda do filho, ainda que a gravidez tenha sido indesejada por uma das partes. Diga-se de passagem que jogador de futebol, jovem rico e famoso, precisa conhecer quem dele se aproxima e com que intenções. Todo cuidado é pouco. Depois pagará pela imprudência, o que não significa que está autorizado a se transformar num cínico, prepotente e covarde criminoso.
O lamentável caso também envolve um menor de 17 anos, devidamente resguardado pela inimputabilidade penal. Podemos observar o quanto é defasada e ancrônica a idade biológica mínima de 18 anos estabelecida pela ONU no pós-guerra para possibilitar a responsabilização penal. Não é mais possível que o critério psicossocial não seja parâmetro para orientar o julgamento de crimes cometidos por adolescentes. Quem vota aos 16 anos e influencia os desatinos de um país, na escolha de seus governantes, tem plena capaciddade para entender o caráter criminoso de um ato praticado. Estamos no mundo da internet, da informação e do conhecimento.
O grande problema do arrependimento é que ele surge depois. "Agora Inês é Morta", ou melhor, tudo indica que Eliza Samudio, a ex-amante do goleiro Bruno, esteja morta. Aos assassinos e sequestradores, o rigor da lei. A fama e a fortuna de quem quer que seja não estão acima da Constituição. Bruninho, um bebê de apenas quatro meses, que não pediu para vir ao mundo, é a mais nova vítima de uma relação extraconjugal litigiosa, da macheza inconsequente e da monstruosidade humana.

Artigo do leitor Milton Corrêa da Costa


O Globo

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