quarta-feira, 20 de outubro de 2010

TCE: Estado tem 258 mil crianças sem acesso a educação infantil

Enquanto a maior parte das cidades gaúchas não cumpre as metas, Muçum atende 88,6% das crianças e não sofre com falta de vagas - Caco Konzen, Especial

Levantamento do Tribunal de Contas do Estado (TCE) revela desempenho gaúcho ruim na oferta de creche e pré-escola
Um levantamento elaborado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) revela dados preocupantes sobre os rumos da Educação Infantil no Rio Grande do Sul. De acordo com a radiografia, 96,1% dos municípios gaúchos oferecem menos vagas em creches do que a meta estabelecida pelo Plano Nacional de Educação (PNE), criado em 2001. O mesmo vale para as vagas na pré-escola, que em 77,2% das cidades também estão abaixo do alvo.
Para chegar a esse diagnóstico, o TCE comparou dados do Censo Escolar 2009 e do IBGE com as diretrizes do PNE. A ideia, segundo Hilário Royer, coordenador da pesquisa, foi avaliar até que ponto os objetivos estão sendo cumpridos. A partir daí, foi possível elaborar um ranking, baseado no total de matrículas na Educação Infantil e no número de habitantes de até cinco anos de cada município. Além de identificar 141 cidades onde simplesmente não há registro de matrículas em creches, o TCE chegou a uma estimativa de vagas que precisam ser criadas para atender à exigência mínima. Os dados assustam.
Ao todo, o PNE prevê que pelo menos 50% das crianças de até três anos tenham acesso a creche. No Estado, só 19 municípios passam dessa marca. Seriam necessárias mais 174,1 mil vagas do tipo para atingir o mínimo desejado. Na pré-escola, o PNE estabelece a meta de 80%, mas 383 cidades estão abaixo. Seriam necessárias mais 84,4 mil vagas. Ao todo, faltam 258,6 mil vagas no Estado.
– Temos uma das menores taxas de natalidade do país e, ainda assim, as prefeituras, principais responsáveis, não dão conta – avalia Royer.
Para o presidente da Federação das Associações dos Municípios (Famurs), Vilmar Zanchin, os prefeitos estão trabalhando, mas haveria uma questão cultural, principalmente em cidades menores, que levaria casais a optar por deixar os filhos em casa, com avós.
Cidades como Muçum, no Vale do Taquari, mostram que é possível universalizar o acesso. Lá, 88,6% das crianças são atendidas, o melhor índice do Estado, e não faltam vagas. A preocupação com a educação levou o prefeito Tarso Bastiani a aumentar de 25% para 27% o investimento na área.Vice-presidente do TCE, Cezar Miola espera que outros administradores sigam o exemplo e aumentem os recursos voltados à Educação Infantil – cuja oferta é considerada obrigatória pelo Supremo Tribunal Federal.

"A escolinha é fundamental para o desenvolvimento da criança"

Entrevista Tania Beatriz Marques, professora da UFRGS
Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Tania Beatriz Iwaszko Marques é uma defensora da Educação Infantil. Para a educadora, os benefícios para as crianças que desde cedo frequentam creches e escolinhas são muitos: da convivência com os colegas aos estímulos para o desenvolvimento físico e mental. Ela concedeu a seguinte entrevista a Zero Hora:
Zero Hora – Qual é a importância da Educação Infantil?

Tania Beatriz Iwaszko Marques – A escolinha é fundamental para o desenvolvimento das crianças. Porque essa é uma fase em que o cérebro está em plena formação. É nessa época que elas começam a se relacionar com o mundo ao seu redor e a se situar nele. Por isso é tão importante que sejam estimuladas de diferentes formas, com brincadeiras, canções e conversas, por pessoas com formação adequada.

ZH – Muitos pais creem que podem cuidar melhor de seus filhos em casa, em família. Estão certos?

Tania – Na escolinha são construídas as primeiras noções de respeito ao outro, por exemplo. Entre crianças que ficam apenas em casa, cuidadas por avós ou familiares, esse processo muitas vezes não acontece. É importante essa relação próxima com a família e com o carinho dos pais e avós, mas também é importante que as crianças frequentem a Educação Infantil.

ZH – Muita gente associa creche a assistencialismo. Como a senhora avalia isso?

Tania – Muita gente pensa assim e acredita que qualquer um pode cuidar da criança nessa idade. Mas é justamente o contrário.

Na pior colocada, avó terá de deixar emprego
Letícia Barbieri

Em fevereiro, depois de terminado seu período de licença-maternidade, a auxiliar de vendas Chaiane Gomes de Azevedo, 18 anos, terá de voltar ao trabalho sem ter uma escola onde deixar o filho, hoje com 27 dias.
Para que a criança não fique com estranhos, a mãe dela, Maria Inês da Silva Gomes, 44 anos, já decidiu que vai largar o emprego de merendeira para cuidar do neto. A situação ocorre em Jaquirana, município gaúcho com o pior índice de oferta de vagas na Educação Infantil
– A maioria não tem uma mãe como a minha para fazer isso. Ela está abrindo mão do trabalho por causa dessa situação – conta Chaiane.
Com 5 mil habitantes, o município da região serrana tem apenas 19 das suas 445 crianças de até cinco anos atendidas pela Educação Infantil – o equivalente a apenas 4,27%.
As dificuldades financeiras de uma cidade pequena são a justificativa oferecida pelo prefeito Ivanor Rauber (PP) para a falta de uma escola infantil.
Somente agora, com verba do Ministério da Educação, o primeiro estabelecimento do tipo começa a ganhar forma. Até junho do ano que vem, Jaquirana espera inaugurar o prédio. O investimento é de cerca de R$ 1,5 milhão. A promessa é de 120 vagas para as crianças de até cinco anos.
– Aqui, as mães que trabalham em firmas são poucas. A maioria mora no interior. As famílias vivem da pecuária, e as crianças ficam em casa – diz Rauber.
O prefeito promete traçar um plano para criar novas vagas.

Juliana Bublitz


ZERO HORA

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