sábado, 19 de junho de 2010

Docente é despreparado para lidar com diferenças


Para presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, falta de preparo, de incentivo e esgotamento fazem professor ultrapassar seus limites

Sem jamais justificar a agressão de um professor contra um aluno, especialistas acreditam que muitos docentes estão despreparados para reconhecer doenças e lidar com as diferenças de comportamento em sala de aula.
"A falta de preparo, de incentivos e o esgotamento às vezes fazem com o que o professor ultrapasse seus limites", afirma Quézia Bomnonato, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia. "Mas nada justifica que um adulto, sobretudo um professor, amarre uma criança."
Quézia alerta ainda que alguns professores mal preparados, apesar de não amarrarem as crianças, acabam usando de violência verbal, exclusão e rótulos para aprisionar emocionalmente os estudantes. "É muito grave, mas difícil de medir."
Segundo ela, a melhor forma de lidar com um aluno muito agitado é lhe passar tarefas como apagar a lousa e distribuir material aos colegas, fazendo com que fique ocupado e se sinta útil. "O professor precisa entender as diferentes necessidades e possibilitar que a criança dê vazão a sua hiperatividade", diz.
A psicopedagoga reconhece que muitos pais não dão limites aos filhos, o que torna seu comportamento mais difícil em classe. "As famílias não estão dando conta de educar e jogam a responsabilidade para a escola. Mas elas têm de ser parceiras."
Nos casos em que a agitação da criança pareça acima do normal para sua idade, o papel do professor é conversar com os pais para que eles procurem um diagnóstico e, se for o caso, tratamento.
A psicóloga Cleide Heloisa Partel, especialista em Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), afirma que muitas vezes o aluno que tem o problema acaba sendo visto como indisciplinado.
"Infelizmente nem todos conseguem saber a diferença entre malcriação e hiperatividade", diz Cleide. De qualquer forma, condena a forma da professora de Brasília de tratar o aluno. "Isso não se faz em caso nenhum. Alguém assim não tem capacidade para ser professor."
Cleide explica que a indisciplina acontece às vezes; já a hiperatividade é constante, porque o aluno não consegue se controlar.
Além da tarefa extra, a psicóloga recomenda que a criança seja colocada na primeira fila, que seus comportamentos positivos sejam elogiados e seus maus comportamentos, ignorados, na medida do possível. "Ninguém gosta de ser ignorado, especialmente as crianças. Dessa forma, ela vai fazer coisas positivas para chamar a atenção." O desafio e a solução, afirma Cleide, são manter esse aluno sempre motivado.

Luciana Alvarez - O Estado de S.Paulo

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