domingo, 6 de março de 2011

O homem separado


Ele não tem compromisso, mas ainda não é livre

Embora muitos não percebam, os homens não se dividem apenas entre casados e solteiros, ou entre aqueles que têm e não têm namorada. Há outra categoria, menor, mas igualmente importante: a dos homens separados. Eles constituem um grupo inteiramente à parte.
Não importa se o sujeito foi casado por dez anos ou se acaba de romper um namoro que mudou a sua vida. Quem terminou uma relação importante vive, por tempo indeterminado, num universo emocional diferente daquele em que vivem as outras pessoas.
A característica essencial desse período é a dubiedade de sentimentos e a indefinição. O homem separado não tem mais compromisso, mas ele ainda não se sente realmente livre. Vive, de forma muito aguda, a euforia de não ter mais laços e a angústia de estar sozinho. Habita, simultaneamente, dois mundos que se afastam um do outro. Num deles é o companheiro de alguém, o pai, o homem da casa. No outro, é um camarada solitário em busca de emoções e sensações reprimidas. Até que esses dois mundos voltem a se encontrar, até que o homem separado recupere a sua identidade, ele tende a viver em desequilíbrio – o que não é necessariamente ruim.
Eu lembro desses períodos de separação de forma muito intensa. Viagens, rostos, conversas na rua tarde da noite. A palavra para esses interregnos é descoberta. Sobretudo, a descoberta de pessoas e seus mundos. Cada um de nós vive num planeta próprio. Explorar esses planetas, entrar na casa e na vida dos outros sem o peso dos compromissos é uma delícia.
Há também os excessos. A gente enlouquece de liberdade e pira de carência. Sem se dar conta, o sujeito começa a agir como cachorro louco. É comum ver homem separado se atirando sobre as mulheres indiscriminadamente. Não é só lascívia. Depois de anos com a mesma mulher, ou meses com a namorada atenciosa, passar um fim de semana sozinho pode ser o inferno – e, para escapar dele, as pessoas fazem qualquer coisa.
Quando se olha de fora, parece que os homens separados estão 100% do tempo atrás de sexo, mas não é bem isso. A grande ausente nos namoros e casamentos falidos é a paixão. Sexo existe, mas não existe mais romance. Ninguém mais suspira no meio da transa, não se tem mais vontade de escrever cartas à mão ou mandar flores. Você não olha mais para a sua mulher como se ela fosse a mais linda do mundo. E isso faz falta para os dois.
O escritor Norman Mailer já dizia nos anos 1960: as pessoas se esfregam nas festas achando que estão em busca de sexo, quando, na verdade, estão procurando amor. Cinquenta anos depois, o diagnóstico ainda vale para boa parte das situações.
Às vezes eu me surpreendo ao perceber que dos meus períodos de homem separado sobraram relações bacanas. Algumas mulheres conseguiram enxergar por trás da máscara de sedutor tragicômico um sujeito com quem se poderia conversar e conviver. Tornaram-se amigas - mas são exceção.
A tendência nesses momentos de tumulto é queimar as oportunidades e o filme. Você conhece pessoas especiais, mas não consegue ver um palmo à frente do nariz. Não as percebe. Age com todas de uma forma padrão, ditada pela particularidade do seu momento. Banaliza sentimentos e possibilidades.

Ivan Martins


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