quinta-feira, 22 de abril de 2010

Cembranelli diz não à política após sondagem de três partidos


Promotor fala sobre Justiça, fama, convites para se tornar político e o caso Isabella

Promotor dos bons não perde uma boa oportunidade de conversa. Na segunda-feira (19), após seu retorno aos tribunais depois do caso Isabella, Francisco Cembranelli falou com a reportagem de R7 no seu “campo de jogo”: o tribunal da sala de júri número três do Fórum de Santana. Falou da fama repentina, do reconhecimento, do problema que fecha parcialmente seu olho esquerdo, da existência e da falta de provas, do seu time do coração, o Santos, e – é claro – do caso Isabella Nardoni. Veja principais trechos da entrevista.

R7 – Quanta diferença deste julgamento [em que o estudante Márcio Vanny de Almeida foi acusado de tentar matar o policial militar Marcos Eduardo Pinheiro com um revólver calibre 38, na tarde de 30 de março de 2001] para o último em que você atuou [do caso Isabella].
Francisco Cembranelli – Pois é, rapaz... O portal de notícias R7 é o único veículo de comunicação presente hoje, se não me engano. Acho ótimo que vocês estejam aqui para mostrar às pessoas que nossa realidade, na suprema maioria do tempo, é essa: trabalho determinado, em silêncio, sem badalação ou explosão de mídia. O caso Nardoni gerou para mim uma fama e uma repercussão que eu jamais pedi ou quis. Falo isso com toda a sinceridade que posso ter. Quero ajudar a sociedade a se aprimorar no diz respeito à Justiça, e não ter glória, holofote, essas coisas. Esse aqui foi o julgamento número 1.079 de minha carreira como promotor. O do caso Isabela foi o 1,078º. Mas, na verdade, o centro das atenções, no momento, é o que virá a ser o número 1080. Porque tem que ser assim: prioridade sempre para o futuro.
R7 – Mas nada será exatamente igual na sua vida a partir de agora...
Cembranelli – Bom, isso é fato. Por mais que eu não dê importância a isso, trata-se de uma realidade. Muito mais pela ação das pessoas do que pelas minhas. A visão de grande parte da sociedade em relação ao meu comportamento, ao meu trabalho e até mesmo à minha personalidade mudou. Para você ter uma idéia, até convite para entrar em partido político e disputar eleição eu recebi nestes últimos dias.
R7 – Aceitou?
Cembranelli – Claro que não. O que é isso? Uns três partidos me procuraram, dois deles grandes. Mas é o seguinte: a única relação que admito ter com político é a de promotor, caso algum deles venha a sentar no banco dos réus de um julgamento em que eu for atuar. Fora disso, só no voto, como você ou qualquer outro cidadão. Na saudável distância que, quando necessário, separa a sociedade dos políticos.
R7 – Em alguns momentos do julgamento de hoje, do estudante Márcio Vanny de Almeida, eram visíveis as expressões de admiração dos jurados ao vê-lo defender suas ideias. O sr. acha que, a partir de agora, depois de seu sucesso no caso Nardoni, uma parte do júri pode vir ao tribunal predisposto a seguir seus pedidos apenas por essa admiração, independentemente das provas ou do poder de convencimento da defesa? Cembranelli – Em algum nível, e em algumas vezes, isso até poderá ocorrer. É natural que o ser humano tenda a apoiar com maior naturalidade ideias vindas de pessoas que admiram ou passaram a admirar. Agora, se um jurado me parece predisposto a absolver, eu normalmente veto. E o mesmo ocorre com a defesa. Ninguém vive em redoma. Então, quem seria isento para fazer o caso Nardoni? Teríamos que ir para a Lua ou Marte?
R7 – O que o sr. quer dizer?
Cembranelli - O sentimento negativo em relação ao casal Nardoni era importante em parte da população. Mas, naqueles cinco longos dias em que ficamos aqui, os jurados balançaram, pediram esclarecimentos da acusação e da defesa. Ou seja: aqueles sete jurados, como todos nós, foram antes bombardeados pela mídia com reportagens sobre o caso. Mas isso não impediu que, no julgamento, eles se informassem com os esclarecimentos da defesa, o que fiz nos dois anos anteriores e também com o primoroso trabalho da perícia técnica, que produziu provas claras. Por isso, fiquei contrariado quando o doutor Roberto Podval [advogado de defesa do casal Nardoni] disse, num encontro recente na faculdade em que estudamos, que o caso já estava julgado pela condenação antes do julgamento começar.
R7 – O sr. realmente acha que o casal Nardoni, dependendo das situação, poderia receber uma pena menor ou mesmo a absolvição?
Cembranelli – Estou absolutamente convencido disso. As penas que o casal recebeu foram fortes porque esta força foi sendo construída pelos argumentos e provas cristalinas apresentadas nos cinco dias de julgamento. Coisas como a prova de que eles estavam lá no momento em que a menina foi jogada da janela, de todas as marcas, passos e caminhos mapeados, enfim, da combinação do trabalho da promotoria com a ação brilhante da polícia científica. Essa pena foi construída, em sua parte fundamental, no julgamento. Acredite nisso. Agora, é fácil para a defesa chegar em público, dizer que ninguém absolveria os réus e sair de herói.
R7 – Como assim?
Cembranelli - É um comportamento confortável, que revela generosidade da defesa na atitude de defender o supostamente indefensável. E, ao mesmo tempo, anula o questionamento de que aquela ou qualquer outra defesa poderia convencer ou não os jurados. Por outro lado, foi também uma atitude indelicada e imprópria, para dizer o mínimo, em relação aos trabalhos da promotoria e da perícia. A afirmação do doutor Podval, um profissional competente, pode sugerir que o meu trabalho e o da polícia técnica jamais foram necessários, ou mesmo importantes, porque o casal Nardoni estava condenado de qualquer jeito, desde o início dos tempos, a uma pena pesada. Foi muito, muito infeliz. Por isso, vou lutar, com todas as forças que eu tiver, para que nada neste julgamento seja anulado ou modificado no futuro. Tenho certeza: o que temos hoje permanecerá.
R7 – Por falar em hoje, o sr. acaba de pedir a absolvição deste estudante. Cembranelli – Não havia provas. Já pedi a absolvição de criminosos pesados, de membros do PCC com, por exemplo, 60, 80, cem anos de penas acumuladas. Mas que, naquele julgamento em que eu participava, não merecia condenação por falta de prova. No universo das provas não cabe espaço para dúvida. Ou é prova ou é dúvida, chance, suposição. Foi o caso desse rapaz de hoje. Pedi a absolvição. Não foi o caso dos Nardoni. Pedi a condenação. Não sou promotor de acusação. Sou promotor de Justiça.
R7 – O jornalista Milton Neves revelou que o problema que fecha parcialmente seu olho esquerdo foi provocado por queimadura com o cloro acumulado no fundo de uma piscina. Foi isso mesmo?
Cembranelli – Não foi bem assim. O Milton Neves é simpático, santista e conselheiro do Santos como eu. Mas se confundiu ao contar algumas partes. Na verdade, caí num desses poços de cal diluído em água usados para fazer composições e ligas na contrução civil. Tinha quase três anos, e não oito, como ele disse. Estava lá, brincando, rolando na areia, e caí. O poço tinha cerca de um metro quadrado e, provavelmente, um metro de profundidade, pois afundei até a parte da cabeça em que está meu olho esquerdo. Um pedreiro me resgatou. Não fosse ele, sei lá o que teria ocorrido. Virei praticamente um boneco de gesso. Eu todo branco e minhã mãe lá, me lavando. Para me alegrar, meu pai me deu um carrinho bacana, desses que batem na parede e voltam. Mas eu ficava com os olhos fechados e não adiantava nada. O Milton disse que tenho cerca de 40% da visão do olho esquerdo. Na verdade, tenho bem mais. A visão teve algum comprometimento, é verdade, mas não foi tudo isso.
R7 – O sr. é conselheiro e torcedor apaixonado do Santos. Quem perderá primeiro: o sr., um julgamento, ou os novos Meninos da Vila, um jogo?
Cembranelli – Existem três tipos de promotores: os que perdem muito, os que perdem e os que perdem muito pouco. Luto para permanecer na terceira categoria, a dos que perdem muito pouco. Agora, promotor que não perde não existe. Quem não perde, na quase totalidade dos casos, na verdade escolhe processos em que a vitória é certa ou, se ela não ocorrer, o ambiente para um acordo com a defesa para evitar a derrota é fértil. Assim, ou ganha ou faz acordo. Nunca perde. Eu não escolho processo. Se fosse da minha natureza, esse reconhecimento atual poderia até me permitir isso. Mas não. De jeito nenhum. Nunca escolhi, não escolho e jamais escolherei processo. O que a sociedade e a necessidade profissional colocarem no meu caminho eu encaro. Em relação ao Santos, tomara que o time e minhas convicções vençam tudo o que for possível.


Um comentário:

  1. SEM PALAVRAS POIS ESSE NOBRE PROMOTOR INDIFERENTEMENTE TER PRESIDIDO O CASO NARDONI MAS SIM O MAIS IMPORTANTE O DE UM RAPAZ QUE PODERIA TER SIDO CONDENADO PORQUE DOIS POLICIAIS QUERIAM VELO CONDENADO POR SER JÁ UM INFELIZ INFRATOR TERIA SIDO IMORAL , DESUMANO SE TIVESSE SIDO CONDENADO INJUSTAMENTE ,POIS DIANTE A CONDUTA DESSES PROFISSIONAIS DA AREA DA SEGURANÇA PÚBLÇICA E EU COMO MEMBRO DA FAMILIA DE MILICIANOS FICO CHOCADA COM ESSES DESVIOS DE CONDUTA E ABUSO DE PODER QUE A MAIORIA AGEM HOJE ,PEDIR PARA POPULAÇÃO NÃO GENERALIZAR É QUASE QUE IMPOSSÍVEL UMA VEZ QUE NA TARGETA NÃO SE VEM ESCRITO POLICIAL BOM OU RUIM, E A FORMA QUE O NOBRE PROMOTOR CONDUZIU ESSE JULGAMENTO ME VALEU A EXPECTATIVA QUE EU ESPEREI AO FINAL DO JULGAMENTO E TER A CERTEZA DE SUA LISURA,IMPARCIALIDADE E CONDUTA PROFISSIONAL CONFIRMADA!!INDIFERENTEMENTE DO CASO,PARABÉNS OS CIDADÃOS DE BEM AGRADECEM E FICO FELIZ QUE AINDA HÁ UMA ESPERANÇA EM NOSSO PODER JUDICIÁRIO!

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