Enquanto os bairros mais turísticos, como o Bairro Francês, já estão completamente recuperados, no Lower 9th Ward, que abrigava uma comunidade pobre e de maioria negra, o ritmo da restauração é lento.
Canteiros de obras se espalham pelo bairro. A pouca distância das novas casas, muitas delas construídas com tecnologia verde e modernos projetos arquitetônicos, ainda é possível ver diversas residências abandonadas, destruídas e tomadas pelo mato.
“Saí daqui um dia antes do Katrina, no dia 28 de agosto, e só voltei há quatro meses”, disse à BBC Brasil a moradora Marion Bryan, 78 anos, em frente à nova residência de dois quartos, alimentada por energia solar.
Brad Pitt
A casa de Bryan é uma das 150 que a fundação Make it Right, criada pelo ator Brad Pitt, pretende erguer no bairro, todas projetadas por arquitetos renomados de diversas partes do mundo.
Em entrevista ao jornal local, Pitt disse que todas as casas construídas por sua fundação são livres de poluição e geram mais energia do que consomem.
O ator é figura muito popular entre os moradores do bairro, mas seu projeto, assim como outros planos de recuperação da cidade, recebe algumas críticas de moradores preocupados com a descaracterização da cultura arquitetônica de Nova Orleans.
Assim como Pitt, centenas de outras entidades e voluntários se mobilizaram desde 2005 para ajudar na reconstrução da cidade, e há vários projetos em andamento.
Mas apesar dessas iniciativas, falta muito a ser feito, e diversos dos antigos moradores do Lower 9th Ward ainda não conseguiram voltar para casa nessa região localizada nas margens do rio Mississippi.
Muitos vizinhos ainda não voltaram”, diz Bryan. “Sabe-se lá onde estão.” Antes do Katrina, a população da região metropolitana de Nova Orleans chegava a 1,313 milhão de habitantes. No ano passado - útlima data com dados disponíveis - viviam na cidade 1,189 milhão pessoas, segundo o Greater New Orleans Community Data Center.
Volta ao lar
A casa de três dormitórios em que Bryant morava havia quase 40 anos ficava no mesmo local da nova residência e foi totalmente destruída pelo Katrina, que arrasou Nova Orleans em 29 de agosto de 2005.
“Eles diziam que o furacão iria atingir esta área em cheio”, diz ela, sobre o momento em que tomou a decisão de abandonar sua residência.
“Peguei apenas alguns documentos e roupas. Perdi tudo.”
Bryant deixou Nova Orleans e foi para Baton Rouge, cidade que recebeu boa parte dos desabrigados do Katrina.
Lá, viveu por quase cinco anos em apartamentos do governo enquanto esperava sua nova casa ficar pronta – assim como os outros beneficiados pelo projeto da Make it Right, ela pagou parte da obra.
“Baton Rouge é uma boa cidade, mas eu simplesmente não gostava”, diz. “Eu via Baton Rouge florescendo, e em Nova Orleans as coisas não andavam.”
Agora, finalmente de volta, ela diz que é difícil descrever o que sente, cinco anos depois da tragédia.
“Estou feliz por estar de volta. Mas fico olhando para os lotes ainda vazios. Sinto falta de tantos amigos antigos que ainda não voltaram”, diz.
Alessandra Corrêa
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