domingo, 2 de janeiro de 2011

Gays correm mais risco de serem expulsos nas escolas

Professores e diretores de escolas punem gays por se beijarem
ou se abraçarem, coisa que não acontece com os heteros

Punições são mais severas contra estudantes homossexuais, segundo pesquisa dos EUA

Jovens gays estão mais sujeitos a serem expulsos de colégios ou presos pela polícia do que alunos heterossexuais.
A conclusão é de uma pesquisa da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, que analisou dados de mais de 15 mil estudantes norte-americanos entre 12 e 18 anos entre 1994 e 2002, um intervalo de oito anos. Não há uma razão clara para o alto índice de expulsão, mas a pesquisadora Kathryn Himmelstein, que coordena o estudo, levanta algumas hipóteses.
A primeira delas é que atitudes de autopreservação de homossexuais são vistas pela escola como agressivas - o que reflete contra o estudante gay, segundo reportagem do New York Times. Outra hipótese é a de os jovens ficarem "visados" por não se enquadrarem na "normalidade" do colégio, que são namoros e relações entre heterossexuais.
Os beijos e abraços entre jovens gays não são muito tolerados pela direção das escolas, ao contrário de demonstrações de carinho entre estudantes heteros. A afirmação é do diretor do Centro de Combate à Homofobia da Prefeitura de São Paulo, Gustavo Menezes.
Menezes ressalta que as punições severas esbarram quase sempre em valores morais.
- Toda a discussão sobre os direitos dos LGBT [Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros] passam pela avaliação de valores morais. Na escola, às vezes se pune um casal homossexual por um abraço, por exemplo, de forma bem mais severa que o casal hetero. A justificativa é sempre que os jovens estavam se excedendo, mesmo quando os estudantes gays agem de forma bem mais comportada que os heteros.
Existe um quadro de punições desproporcionais contra gays, avalia a pesquisadora Kathryn. O bullying contra estes jovens nas escolas é recorrente, diz ela, mas existem poucas informações sobre as atitudes institucionais (atitudes de diretores, educadores e inspetores de colégio) com relação aos homossexuais.
Outro exemplo que consta na pesquisa é com relação às meninas assumidamente lésbicas ou bissexuais. Elas têm 50% mais chances de serem paradas pela polícia na saída da escola do que as outras garotas e correm duas vezes mais risco de serem presas.
As informações do estudo apontam, ainda, que o número de castigos não depende do comportamento dos jovens - o fato de os gays sofrerem mais punições, em geral, não significa que eles estejam quebrando regras do colégio.

Educadores
Vice-presidente da ONG Campanha dos Direitos Humanos, Betsy Purcell afirma que os profissionais atuando em escolas muitas vezes rotulam os estudantes ou compactuam com ofensas já existentes.
- Eu acho que adultos que trabalham com jovens costumam categorizá-los. Nem sempre eles rotulam os meninos como pertencentes à comunidade gay, mas acabam os colocando à margem [da sociedade], os deixando de fora do grupo principal de estudantes. Dessa forma, os classificam como potenciais causadores de problemas.

Estudar com gays
No Brasil, um estudo feito em 2009 pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) aponta que 40% dos meninos não gostariam de estudar com gays ou lésbicas. O número se estende aos pais - 35% deles não gostariam que o filho dividisse a sala com um homossexual.
Travestis e transexuais são os que mais sofrem, pois além de serem provocados pela opção sexual também sofrem humilhações. Usar um nome que não equivale à sua imagem - por exemplo, um travesti com nome masculino - também é um fator que leva os estudantes "trans" a abandonarem o colégio.
Para diminuir a evasão escolar de travestis e transextuais, a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais) já conseguiu fazer com que 14 Estados aprovassem uma lei que garante a eles o direito de usar o nome que quiserem no colégio, ao invés do nome original.

Luísa Ferreira e Rafael Sampaio


R7

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