quinta-feira, 3 de junho de 2010

Acolher - Por Sanny Lemos*


Acolher...Recolher...Desproteger...

As diferenças sociais escancaradas nos quatro cantos do mundo, nos remete a um estado de desesperança e nos leva a pensar nas imensas lacunas do poder e do querer dos poderosos e na avalanche de porquês contida no silêncio da infância sofrida desse país, que ainda teima e espera um milagre ou um gesto por parte de poucos, mas comprometidos promotores de igualdade, que incansavelmente ainda lutam para devolver aos pequenos cidadãos do mundo, os seus direitos violentados todos os dias.

E é nesse silêncio profundo que agonizam as nossas crianças, vítimas maiores de uma política perversa, desumana e miserável, que se apodera da miséria alheia com promessas milagrosas, e os transforma em degraus para a sua escalada de horrores.

Muito se discute sobre o que fazer para resolver a situação dos nossos pequeninos que agonizam enquanto “eles” assistem tudo lá do alto sem prestar socorro.

Dizer o que?
Tem que engolir o choro e sofrer em coro
Tem que obedecer ao homem mau que criou
O Acolher
Recolher
Desproteger

Mais um novo modelo indecente de proteção
E na cabeça do menino
É só confusão
Solidão

Acolher ou Recolher
É tirar o único direito que ainda lhe resta
O direito de ir e vir
Sem nada pedir
sem nada exigir

E chora baixinho
Com medo que lhe tirem até o direito de chorar
Porque o resto? Já lhe tiraram tudo

Olha em volta e só vê ao longe a velha amiga esperança
Que também agoniza ao anoitecer
Acolher
Recolher
Desproteger

Se encolhe num canto e treme de frio
Que vazio!
Segue adiante pois no banco da praça não podes ficar
Para o TOQUE não te levar

O cansaço e a fome, o faz dormir e sonhar
E o sonho do menino levantou o dia
A fome do menino escrava da dor
E o que é a dor? Anônima como as estrelas cativas
No céu do menino uma lua pálida – a mãe que sumiu
No chão do menino um homem mau – o senhor

Convém procurar seus pais
Nunca os viu, nem sabe se existiu
Só sabe que sente falta de amor
De carinho
De comida
De família

Amanhece e é hora de levantar
O chão duro e frio da calçada deixou de ser seu por mais uma noite
É hora de levantar

Abre alas menino
Para a multidão passar
Para o homem mau não te pisar
Não te xingar
Não te cuspir
E para o TOQUE não te levar


* Sanny Lemos é Assistente de Prevenção Social, atuando na Vara da Infância e Juventude de Feira de Santana e Conselheira Nacional e Mediadora de Conflitos

Foto: Olhares.com

5 comentários:

  1. Maravilhoso, verdadeiro, profundo e triste, mas a realidade do pais.
    Carina
    Bahia

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  2. Parabéns a vocês desse blog pelo alto nível das matérias publicadas.
    Carlos Henrique

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  3. Os autores dessa lei, devem tomar cuidados para o feitiço não virar por cima do feiticeiro,pois qualquer dia e noite dessas, seu filho poderá ser acohido também....

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  4. Parabéns Ssnny vc escreve com uma competência com uma clareza que nos envolve tanto que a cada dia me apaixono mais pela causa bjs amiga te amo.

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  5. Olá, sou a menina que você conheceu na estação de transbordo dia 07.03.12, disse que ia acessa seu blog e estou aqui. Vi algumas coisas muito interessantes, mas retornarei a visitar pois são muitas coisas. Que Deus abençoe sempre você e a todos que com você tem feito estes excelentes trabalhos. Ah!! Continue aquele projeto que você me falou, no que eu puder, desejarei ajudar. Um abraço.

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