sexta-feira, 23 de julho de 2010

Carro estava pronto para arrancadas

André estava na carona do Siena e, de acordo com o advogado, não usava cinto. ‘O carro estava devagar’ Foto: Fábio Gonçalves / Agência O Dia

Mecânico que consertaria o Siena constatou modificação no sistema de embreagem que permite acelerar mais em menos tempo. Atropelador vai depor no inquérito policial-militar que apura se PMs receberam propina para liberá-lo

Rio - O Siena KXR-0394 que atropelou e matou terça-feira o músico Rafael Mascarenhas estava com a embreagem alta, o que deixa o carro com arrancada mais potente. A informação foi dada na 15ª DP (Gávea) pelo funileiro Paulo Sérgio Gentile Muglia, 48 anos, que trabalha na oficina onde o carro dirigido pelo atropelador Rafael Bussamra, 25, foi deixado. O motorista foi convocado a depor no inquérito policial-militar que apura por que o veículo, destruído, foi liberado por PMs instantes após o acidente. A ele será perguntado se pagou propina aos policiais.
Afastados das ruas, o cabo Marcelo de Souza Bigon e o sargento Marcelo Leal de Souza Martins, do 23º BPM (Leblon), prestaram depoimento ontem na 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar. Eles insistiram que não perceberam as avarias do Siena e que por isso liberaram o condutor. “Peço desculpas pela nota, que foi precipitada”, disse o comandante-geral da PM, Mário Sérgio Duarte, em referência à informação divulgada pela corporação, antes de ver o carro, dando crédito à versão dos PMs.
O estudante André Liberal, 19, que estava no carona do Siena, depôs ontem na 15ª DP. Segundo o advogado dele, Paulo Márcio Ennes Klein, não houve pega e o tamanho do estrago no veículo deve-se ao fato de ele “não ser um carro forte” e não por estar em alta velocidade. Segundo André, Rafael chegou a avistar os skatistas no túnel e ouviu gritos, mas só viu a vítima quando ela atravessou de repente na frente do carro. Ele disse que não sabia que o túnel estava fechado.
“Ele (Rafael) buzinou, piscou o farol e conseguiu frear, mas só viram o rapaz quando ele passou na frente do carro. Ainda que ele tivesse devagar, teria batido, poderia não ter matado, mas teria batido”, contradisse-se o advogado.
“Os carros eram diferentes. Um é 1.0 e o outro é 1.8, mais potente. Não faz sentido essa questão do pega. E se eles estivessem em alta velocidade, teriam se machucado, porque André estava sem cinto de segurança”, disse Klein.

Pressa no Conserto
André disse aos policiais que não ouviu a conversa do atropelador com os PMs. “André estava atrás do veículo guardando as coisas na mochila que havia sido revistada. Rafael disse apenas para ele que os PMs o aconselharam a ir para a delegacia”, contou Klein, informando que os rapazes ligaram para a polícia e a ambulância pedindo socorro.
Hoje, o pai e o irmão de Rafael Bussamra vão depor na 15ª DP. O pai, Roberto Martins Bussamra, pedira ao mecânico pressa no conserto do carro.

Especialista da Fiat afirma que impacto no carro é sinal de alta velocidade

Engenheiro de automóveis e consultor técnico da unidade da Fiat em Betim (MG), Carlos Henrique Ferreira contestou o advogado de André. Pelo estado em que ficou o Siena preto do atropelador, Ferreira afirma que ele dirigia, sim, em alta velocidade pelo Túnel Acústico.
Segundo o especialista, o estrago no veículo indica um impacto forte. O engenheiro lembrou que os projetos modernos de carros presumem áreas de deformação na frente e traseira para a proteção dos ocupantes em caso de batidas. Estas áreas deformam progressivamente conforme a energia (velocidade) do automóvel no momento do acidente. A frente do Siena indica que a energia do impacto era bem alta, embora Ferreira não consiga revelar qual era a velocidade do carro naquele instante.
Os modelos modernos evitam também os cantos vivos e os faróis de vidro, para minimizar danos a atropelados. Alguns têm até o capô ativo para ‘abrigar’ uma pessoa e reduzir a possibilidade de lesões em acidentes de trânsito deste tipo.

Reportagem de Christina Nascimento, Marcellus Leitão, Maria Inez Magalhães, Ricardo Albuquerque e Sara Paixão


O DIA ONLINE

2 comentários:

  1. Por esse exemplo podemos ver que a violência começa em casa.
    Esse pai levou o carro, já modificado pra correr, para o conserto pedindo pressa para livrar o filho desse crime.

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  2. Não fez o filho assumir o erro e isso deve ter acontecido em outras ocasiões menos graves e a coisa foi crescendo até chegar onde chegou.

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