terça-feira, 31 de agosto de 2010

Parentes de brasileiro assassinado recebem ameaças


Tia de imigrante natural de Minas Gerais diz que recebeu ligações anônimas

Mal teve tempo de absorver a notícia do assassinato do lavrador Juliard Aires Fernandes, de 19 anos, confirmada na noite do último sábado (28), a família do brasileiro, natural de Minas Gerais, enfrenta um novo drama: ameaças que estariam sendo feitas pelos responsáveis pela chacina, que vitimou outros 71 imigrantes em um sítio do norte do México, na semana passada.
Parentes de Fernandes que moram nos Estados Unidos teriam recebido o telefonema de um homem que advertiu que "falassem pouco ou nada", se quisessem continuar vivendo.
A informação é da tia do imigrante, a aposentada Maria da Glória Aires, de 48 anos, que na noite do último domingo (29) também teria recebido uma ligação suspeita. Segundo ela, um homem com "sotaque diferente" ligou questionando o que sabiam sobre o caso e a família.
- Estranhei porque nosso contato vem sendo feito pelo Itamaraty [Ministério das Relações Exteriores do Brasil]. Disse que estava ocupada e desliguei, mas fiquei apreensiva.
Titico, como Aires era conhecido entre amigos, guardava dinheiro e telefone de contato de parentes, no Brasil, dentro da meia. O papel envolvido em plástico pode ter dado aos bandidos os números de telefone da família.
A preocupação teria aumentado na manhã desta segunda-feira (30), após um telefonema feito pela Polícia Federal do Rio de Janeiro. O policial teria perguntado se a família havia recebido alguma chamada ameaçadora e avisou que, se isso acontecesse, as autoridades deveriam ser alertadas.
- Também achei estranho. Não tenho como saber se era mesmo um policial. Desconfiamos de tudo e todos.

Governo de Minas vai pagar despesas
A notícia de que o governo do Estado de Mingas Gerais vai arcar com as despesas de traslado e sepultamento trouxe alívio para os parentes de Aires. Maria da Glória diz que, até agora, ninguém na família teve tempo para pensar nisso.
- Precisamos chorar a morte do meu sobrinho e não tivemos tempo para isso, tamanha a nossa preocupação.
A aposentada morou por seis anos nos Estados Unidos, onde entrou ilegalmente pela fronteira do México. Ela voltou ao Brasil em 2008, depois de comprar uma casa e abrir um pequeno negócio. Também conseguiu bancar as despesas de viagem da filha, que ainda vive em solo americano.
- Tenho pelo menos 20 parentes nos Estados Unidos. Não temos outra opção, senão emigrar em busca de uma melhor qualidade de vida.
Embora a família more em Santa Efigênia de Minas, em uma comunidade rural conhecida como Córrego do Tronqueirinha, o corpo de Aires será sepultado no Cemitério Municipal de Sardoá, a 6 km de distância.
O objetivo é enterrá-lo no mesmo lugar onde Hermínio Cardoso dos Santos, de 24 anos, será sepultado. Morador de Sardoá, Santos - que era amigo de infância de Aires - também pode estar entre as vítimas do massacre, pois documentos dele foram encontrados junto aos corpos dos 72 imigrantes assassinados.

Ana Lúcia Gonçalves, do jornal Hoje em Dia


R7

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