Quem nunca ficou abestalhado frente a uma paisagem deslumbrante e inesperada? Foi com uma dessas situações – quando subi uma duna no deserto e encontrei um oásis aos meus pés – que decidi abrir o texto que escrevi sobre os valores não-materiais da natureza. Escolhi esse momento no mar de areia de Ubari, na Líbia, mas poderia ter sido qualquer outro espetáculo natural: os arco-íris duplos das Cataratas do Iguaçu, os rios amazônicos quando vistos de cima ou as montanhas andinas iluminadas pelo último raio de sol. Essa sensação de integração com a natureza não possui uma etiqueta de preço e, por essa mesma razão, não pode ser dimensionada. Apenas vivenciada.
Foi um desafio muito gostoso escrever o texto da reportagem “A natureza não tem preço”, publicada na Edição Verde de ÉPOCA, que está nas bancas. Entrei em contato com dezenas de pessoas pelo mundo afora que pudessem contribuir com alguma perspectiva. Quando fechei o quebra-cabeça, eu havia conseguido 12 depoimentos de pessoas que representavam nove países diferentes. Gosto muito de dois parágrafos, logo no início do artigo:
Um dos principais valores não monetários da natureza é a sensação de prazer e conforto provocada por sua harmonia estética. “Quando estou dentro de uma floresta, vejo a beleza de tudo e me conecto com o ciclo interminável da vida. Posso entender melhor por que as espécies evoluem e se adaptam”, diz Elda Brizuela, conservacionista e cineasta da Costa Rica. “Destruir esse espaço é como arrasar algo que é parte de minha alma.” A relação entre natureza e alma parece ser óbvia para quem busca inspiração do mundo natural em seu trabalho. “A natureza me traz paz interior e me ajuda a estar mais próximo de mim mesmo”, diz o artista plástico e webdesigner João Makray. “É a melhor forma para esquecer os problemas banais do cotidiano e alimentar minha criatividade.” Makray passou semanas visitando dezenas de cachoeiras, rios e matas para desenhar as gravuras do livro Orixás, no qual as divindades da tradição afro-brasileira são mostradas como forças naturais, e não apenas antropomórficas.
Algumas pessoas desenvolvem suas próprias histórias de amor com o mundo natural. O valor estético e sensorial da natureza é sempre a base para essa relação platônica e contemplativa que cada indivíduo forja. “Na floresta, percebo os aromas e me sinto como um beija-flor”, afirma Luis Fernando Molina, poeta e ambientalista colombiano. “No cume da montanha, vislumbro a paisagem e tenho vontade de voar. No deserto, por ser infinito, me comunico com o divino. Mas, quando estou na cidade, sou apenas um número a mais”, afirma. A empresária Scholastica Ponera, dona da empresa Pongo Safaris, de Dar Es Salaam, na Tanzânia, diz que entrar em um parque nacional lhe dá tranquilidade e harmonia. “Gosto de me sentar no chão, sozinha, procurar uma semente do tamanho de um botão de camisa e meditar como ela se transformará em uma majestosa árvore.”
Se você quiser ler o texto na íntegra, entre em A NATUREZA NÃO TEM PREÇO.
Crianças indígenas Chachi brincam na lama às margens do rio Cayapas, no Equador, e servem como exemplo de uma vida mais integrada com a natureza. Pergunta: as duas meninas são irmãs gêmeas?
Outra tarefa adicional – e também deliciosa – foi selecionar as imagens que comporiam a Galeria de Fotos da matéria. Tentei usar poucas da minha recente viagem à África e isso me obrigou a pesquisar imagens mais antigas, realizadas quando eu ainda usava filmes. Encontrei algumas pérolas (como essa imagem acima das crianças indígenas na lama). Das 80 fotos iniciais, consegui reduzir o pacote para 45. Elas estão na Galeria de Fotos no final da matéria na edição online.
Haroldo Castro
Época
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