quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella , conversa com CLAUDIA


A guerra que enfrentou durante dois anos por justiça acabou. Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, agora se permite pensar no futuro, em amar, ter filhos. E surpreende: há um alerta do bem na terrível história que viveu

Ana Carolina Oliveira é uma mulher rara. Outras, no seu lugar, seguiriam o modelo do silêncio e da reclusão. Ela fala, divide seu aprendizado doloroso e chama a atenção da sociedade – quase uma cruzada política – para o combate à violência contra a criança.
No mundo privado, tenta voltar à felicidade, a ser o que era. Ao completar 26 anos, no dia 5 de abril, entrou num restaurante em São Paulo e encontrou uma mesa quilométrica. Família e amigos queriam paparicá-la um pouco, beijar, presentear. Era o décimo dia de sua nova vida – o recomeço após a condenação dos algozes de sua filha, Isabella Nardoni, de 5 anos, atirada pela janela dois anos antes. “Nesse período, não fiz outra coisa a não ser lutar por justiça”, diz Ana, que se recusa a pronunciar a palavra morte e o nome dos culpados pela tragédia, o pai e a madrasta da menina. Meu luto foi trabalhoso, não parei um minuto. Falava muito com a delegada. Depois, com minha advogada, segui cada etapa do processo, tinha notícias das ações da promotoria.” Com a missão cumprida, sentiu o vazio: Parecia que tudo tinha acabado, o dia ficou longo e eu meio perdida”. Faz um pausa breve e retoma: “Sei que vou voltar a viver, só não sei ainda de onde tirar o brilho que eu tinha antes”. Leia trechos de seu depoimento.

O futuro, um amor
"Tirei passaporte pela primeira vez. Não estou muito convicta de que vou viajar porque não quero me afastar da terapia. Quando tudo aconteceu, não pensei em me matar, mas tive vontade de desaparecer, de ficar quieta na cama, sem ouvir nem falar. Meus pais e eu mudamos de casa e doei roupas e brinquedos. Guardei os ursinhos, e algumas meias dela ainda se misturam às minhas na gaveta. A terapia me ajuda a digerir o trauma e outras dificuldades pessoais. Não faço planos, mas seria bom voltar a ter desejos banais, de me maquiar, emagrecer, colocar uma roupa, sair para dançar... Nunca mais dancei e adoro samba. Não estou namorando, o que não significa que me negue ao amor. Mas espero que desta vez seja diferente – quando a Isabella nasceu, eu era adolescente e solteira. Agora quero alguém só para mim, casar, ter filhos... São projetos ainda sem data, para a hora em que estiver totalmente pronta. Também não sei se esse alguém vai tirar de letra a minha história.

Fogos e santidade
"A condenação me trouxe alívio. Mas minha filha não voltará, então jamais soltaria rojões. Muitos soltaram e não os critico: no país da impunidade, se identificaram com o caso. Podem ter vivido uma dor que ficou sem justiça e, ali, ganharam um alento. Não é confortável quando me param na rua e dizem que estou famosa. Respondo que não é nada disso, sou apenas uma mãe que perdeu a filha e que preferiria mil vezes viver anônima com ela. Outros elogiam o equilíbrio, a calma. Pelo contrário, sou nervosa, às vezes grito. Precisei me equilibrar para sair do choque. As reações populares são curiosas. Às vezes exigem de mim atitudes santificadas, de mulher pura. Também fui tida como fria, me cobraram que chorasse, sempre. Não é porque contenho as lágrimas que me recuso a lamber as feridas. Enfrentei um intensivão de vida, amadureci e isso deixou uma dor profunda. Mas ela é particular.

Medo de pôr tudo a perder
"Ao ficar trancada naquela sala abafada do fórum aguardando a acareação, tive medo de pôr tudo a perder. Sempre acreditei no trabalho dos peritos e do promotor Francisco Cembranelli, a quem sou eternamente grata. Mas três dias ali, sem celular, internet, sem saber como andava o julgamento que escancarava a minha vida e a da minha filha... entrei em stress. Tive queda de pressão, dor de cabeça, puxava a pele dos lábios sem parar. Um psiquiatra atestou que eu estava sem condições e o juiz me mandou para casa. Foi melhor: temia que, na hora H, cara a cara com eles (o casal Nardoni), eu perdesse o controle, desse um murro ou algo assim. Até sair a sentença, fiquei inquieta. Lembrava que a Suzane von Richthofen tinha planejado a morte dos pais, confessado e ainda conseguido três votos do júri a seu favor.

Os filhos dos Nardoni
"Tenho vontade de encontrar o Pietro e abraçá-lo bem apertado. Hoje, ele está com 5 anos e o irmãozinho, Cauã, com 3. Convivi mais com Pietro, que dois dias antes do episódio foi à minha casa brincar com Isabella. Cuidei dele, dei banho, comprei a pizza de que gostava. Infelizmente, a vida não será fácil para os garotos, sem pai nem mãe por muitos anos. Para evitar a discriminação na escola, os dois usam o primeiro sobrenome da mãe, mas levarão a marca do episódio para o resto da vida. Pietro sabe que a irmã se foi, não imagino em que medida ele registrou cenas daquela noite. Se pudesse estar mais próxima, faria tudo para ajudar os irmãos da minha filha com o meu amor e minha educação, mas há muitas implicações, não é tão simples. Espero, de verdade, que os avós – que já educaram dois adultos complicados – saibam dar a essas crianças uma base muito diferente, de carinho e respeito.

Sonho com Isabella
Algumas vezes sonho com ela. Minha filha aparece linda como na época em que partiu. Fica de longe, sorrindo, não fala nada. Só uma vez me abraçou, ficamos agarradinhas um tempão. Sua morte inaceitável trouxe pelo menos um alerta: de que os pais precisam aprender a respeitar as crianças e a ter mais tolerância com elas. Está todo mundo estressado demais e, com um tapinha hoje, outro amanhã, a família inaugura um ciclo de violência: vai produzir adultos perdidos, com péssimas referências, e agressivos também. Depois do caso da Isabella, aumentou o número de denúncias. Descobri que, a cada dez horas, uma criança morre em casa, no Brasil. A maioria vítima de abusos e maus-tratos. Todos nós passamos a prestar mais atenção nessa enorme brutalidade, ocultada em quatro paredes. O julgamento, que terminou com a condenação dos responsáveis, foi exemplar. A sociedade precisava disso. E eu espero, com todas as minhas forças, que os tribunais superiores não anulem o julgamento nem revejam as penas. Não só eu ficaria indignada e perplexa, mas o país inteiro. Tenho falado sobre violência contra crianças por onde vou e apoiado mães como a Kátia, que perdeu o seu Pedrinho como eu perdi a minha filha (em novembro passado, o ex-marido da médica Kátia Regina Dias Couto atirou o filho deles, de 2 anos, do 18º andar e depois se jogou). Se houve alguma luz em tudo isso, ela iluminou as famílias que andavam descrentes de valores como acompanhar os filhos, cuidar deles, ensinar quanto vale a vida do outro e que são essas coisas que dão sentido à nossa existência.

A condenação de Alexandre Nardoni e Anna Carolinna Jatobá
O pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, foram condenados no dia 27 de março à prisão (pena de 31 anos para ele e de 26 anos para ela). O júri concluiu que Isabella sofreu esganadura e foi atirada do apartamento do pai, no 6º andar do prédio. A defesa tentou, sem sucesso, anular o julgamento e recorrerá ao Tribunal de Justiça do Estado e ao Superior Tribunal de Justiça.

Fonte:Revista Claudia


6 comentários:

  1. (...)os pais precisam aprender a respeitar as crianças e a ter mais tolerância com elas(...)Precisamos refletir e praticar essa verdade.

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  2. Sua história me faz chorar até hoje. Força menina e Deus a abençõe!

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  3. Ana Carolina Oliveira... sinônimo de mulher forte, com caráter e coragem!
    FORÇA! que Papai do Céu derrame suas bençãos sobre você!

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  4. Ana Carolina Oliveira... sinônimo de mulher forte, com caráter e coragem!
    FORÇA! que Papai do Céu derrame suas bençãos sobre você!

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  5. ana deus esta sempre com vc quero que vc seja muito feliz e por favor quando vc estiver gravida deixa a gente lhe ver viu linda

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  6. Que Deus te abençoe hoje e sempre ,e saiba q vc vai ser muito feliz ainda ,vc é iluminada Força!

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