quinta-feira, 6 de maio de 2010

Professora acolhe três irmãos, 19 anos depois da primeira adoção


Conseguir uma nova família para dois ou mais irmãos mantidos em abrigos representa uma vitória especial. Ainda raras no Brasil, essas adoções dependem de mais que envolvimento emocional e da vontade de manter unido um núcleo familiar. Afinal, receber dois, três ou até quatro moradores na casa de uma vez só exige gastos, espaço e dedicação. Hoje aposentada, a professora da rede estadual de São Paulo Thereza Christina Cardoso de Lima viveu a experiência da adoção pela primeira vez quando tinha 29 anos, com um recém-nascido. Marcos Augusto, hoje com 22 anos, acompanhou a mãe quando, em 2008, ela resolveu novamente acolher desta vez não uma, mas três crianças.
Desde o início estava claro que não queria um só. Já tinha tido um filho único, e desta vez queria e podia fazer mais”, conta Thereza, hoje com 51 anos. A aproximação com os irmãos Leonardo, hoje com 10 anos, Larissa, 8, e Lívia Christina, de 6, foi feita a partir de uma comunidade no Orkut. A mensagem informava o perfil do grupo e a condição para o acolhimento: “Menino de 8 anos e duas meninas de 5 e 4 anos, pardos e saudáveis. Não se separam. Tratar direto com o juizado”, dizia o anúncio. Vencido o ciúme de Marcos Augusto e a viagem de 9 horas até o Rio de Janeiro, a fusão das duas famílias foi quase imediata. “Sequer falamos em adoção no primeiro momento. Mas o Leonardo me pegava pela mão e dizia: ‘Tia, quero ir com você. Podemos ir embora? ’”, conta.
Thereza protagonizou uma exceção no perfil brasileiro de adoções: manteve unido o grupo de irmãos e acolheu crianças fora dos padrões de idade e cor de pele privilegiada pelos pais adotivos. A adovogada Silvana do Monte Moreira, coordenadora de grupos de apoio à adoção e mãe de duas meninas – uma delas adotiva – identifica transformações positivas no perfil de adoções no Brasil. “Está havendo uma mudança de padrão, com aceitação de crianças maiores e grupos de irmãos”, atesta. “Para chegar a esse resultado, os pais precisam ser conscientizados de que não é só um caminho de flores. As famílias vão enfrentar problemas e situações que certamente também enfrentariam com filhos biológicos”, explica.
Apesar do apelo que tem a imagem da atriz americana vencedora do Oscar na capa da revista People com um bebê negro de pouco mais de três meses de idade, é da Europa que vêm as maiores lições de adoção para os brasileiros. Italianos, espanhóis, franceses e portugueses, nessa ordem, têm demonstrado disposição e planejamento familiar para assumir adoções ainda pouco usuais entre os brasileiros, como crianças com necessidades especiais. A desembargadora Mousnier credita o fato a uma visão diferente da adoção. “O brasileiro está desenvolvendo só agora uma mentalidade que possibilita a adoção tardia. A diferença é que o estrangeiro não adota para resolver seu problema de infertilidade, mas para resolver o problema da criança. E a grande maioria, em torno de 90%, é feita por pais que já têm filhos biológicos”, relata.


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