Rio - Suzana estava completando 20 anos de casada quando seu marido quis a separação. Apaixonado por outra mulher, arrumou as malas e foi embora. Atônita, ela chorava muito, sendo consolada pelos três filhos adolescentes. Com grande esforço, tentava reagir e recomeçar a viver. Cuidar sozinha da casa e dos filhos, procurar um trabalho, descobrir com quem podia contar e, o mais difícil de tudo, responder a uma pergunta que a atormentava agora, após tanto tempo à sombra do marido: quem sou eu?
Pouco depois da separação, foi passar um fim de semana no sítio de uma amiga. Voltou mais infeliz ainda. Na despedida, a amiga abraçou-a e, num tom de cobrança carinhosa, disse-lhe: “Da próxima vez quero te ver com um namorado!”
Os dias foram passando e nada do namorado aparecer. Suzana começou a ficar aflita. Passou a se sentir desinteressante. As tentativas para viver um romance se intensificavam. Saía com frequência com três amigas, também separadas. “Sempre saímos juntas. Vamos a algum lugar no meu carro. Procuramos uma vaga, estacionamos, sentamos num bar ou restaurante, onde todas sondam o ambiente. Até que uma diz: ‘Não tem homem’. Levantamos, tiramos o carro da vaga e procuramos outro lugar para ir. Às vezes, mudamos de bar quatro ou cinco vezes numa mesma noite.”
No mundo ocidental, as pessoas amam estar amando. Apaixonam-se pela paixão. Estamos aprisionados pelo mito do amor romântico e pela ideia de que só é possível haver felicidade se existir um grande amor. Principalmente as mulheres. Não importa muito se a relação amorosa seja limitadora ou tediosa. Qualquer coisa é melhor do que ficar sozinha. Fundamental é ter um homem ao lado, o resto se constrói — ou se inventa. Busca-se, portanto, desesperadamente, o amor. Acredita-se tanto nisso que a sua ausência abala profundamente a autoestima de uma pessoa e faz com que se sinta desvalorizada. O caso de Suzana ilustra bem como, ainda hoje, muitas mulheres se sentem quando não têm um parceiro amoroso.
E quando começam o namoro com um homem, depositam nele a expectativa de nunca mais ficar sozinhas, de se sentir completas, estabelecendo então uma relação de dependência. Concordo com a escritora canadense Bonnie Kreps quando diz que nessa busca incessante do amor romântico, a mulher, na nossa cultura, quando encontra um par, se torna a Bela Adormecida ao avesso. “Quando é beijada pelo homem (príncipe) não é despertada, ao contrário, adormece para quem é, para quem ele é, para a realidade. Adormece e se esforça para ficar adormecida.”
REGINA NAVARRO LINS
O DIA ONLINE
Pouco depois da separação, foi passar um fim de semana no sítio de uma amiga. Voltou mais infeliz ainda. Na despedida, a amiga abraçou-a e, num tom de cobrança carinhosa, disse-lhe: “Da próxima vez quero te ver com um namorado!”
Os dias foram passando e nada do namorado aparecer. Suzana começou a ficar aflita. Passou a se sentir desinteressante. As tentativas para viver um romance se intensificavam. Saía com frequência com três amigas, também separadas. “Sempre saímos juntas. Vamos a algum lugar no meu carro. Procuramos uma vaga, estacionamos, sentamos num bar ou restaurante, onde todas sondam o ambiente. Até que uma diz: ‘Não tem homem’. Levantamos, tiramos o carro da vaga e procuramos outro lugar para ir. Às vezes, mudamos de bar quatro ou cinco vezes numa mesma noite.”
No mundo ocidental, as pessoas amam estar amando. Apaixonam-se pela paixão. Estamos aprisionados pelo mito do amor romântico e pela ideia de que só é possível haver felicidade se existir um grande amor. Principalmente as mulheres. Não importa muito se a relação amorosa seja limitadora ou tediosa. Qualquer coisa é melhor do que ficar sozinha. Fundamental é ter um homem ao lado, o resto se constrói — ou se inventa. Busca-se, portanto, desesperadamente, o amor. Acredita-se tanto nisso que a sua ausência abala profundamente a autoestima de uma pessoa e faz com que se sinta desvalorizada. O caso de Suzana ilustra bem como, ainda hoje, muitas mulheres se sentem quando não têm um parceiro amoroso.
E quando começam o namoro com um homem, depositam nele a expectativa de nunca mais ficar sozinhas, de se sentir completas, estabelecendo então uma relação de dependência. Concordo com a escritora canadense Bonnie Kreps quando diz que nessa busca incessante do amor romântico, a mulher, na nossa cultura, quando encontra um par, se torna a Bela Adormecida ao avesso. “Quando é beijada pelo homem (príncipe) não é despertada, ao contrário, adormece para quem é, para quem ele é, para a realidade. Adormece e se esforça para ficar adormecida.”
REGINA NAVARRO LINS
O DIA ONLINE
Que texto poderoso !!!
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