quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Estado de espírito ou doença? O mau humor pode acabar com a sua rotina

Fernanda perde totalmente o humor na hora de fazer o trabalho de conclusão de curso
Foto: Susi Padilha

O diagnóstico depende da frequência e diversidade de motivos que levam à cara feia

Ei... Dá para desmanchar essa cara fechada aí? Essa matéria é sobre mau humor, mas não é mal-humorada. O quê? Não dá? Então bem-vindo ao mundo dos mal-humorados. Time do qual fazem parte as irmãs Fernanda, 23, e Marina de Souza, 17 anos.
Fernanda bem menos que Marina. O mau humor da mais velha é pontual. Basicamente quando está com fome, com o trabalho de conclusão de curso da faculdade de Direito e com o namorado:
— Quando ele deixa a toalha molhada em cima da minha cama e também porque ele é muito calmo. Às vezes, a gente está atrasado, mas ele continua dirigindo na mesma velocidade. Ah... Me dá uma raiva!
Com Marina, a cara feia perdura por mais tempo, pelos motivos mais diversos e aparece diariamente. De manhã, não fale com ela. Se és muito queridinha também não se aproxime muito da moça, que ela não gosta. Às vezes, finge que não viu alguém que conhece na rua só para não ter que parar e conversar.
— Não é pessoal. Mas é que não tô afim de falar — explica-se.
Escolher roupas é outro problema para ela. Nunca sabe qual colocar, e só pensar em escolher já a deixa de mau humor.
Apesar da fama de mal-humorada, Marina não está no grupo de pessoas que podem ter o mau humor diagnosticado como doença pelos psiquiatras, a chamada distimia. Primeiro, porque ainda é muito jovem e, principalmente, porque tem inúmeros momentos diários em que está bem humorada. É alguém que gosta de dançar e criar designers para as unhas, por exemplo.
De acordo com o psiquiatra Antonio Egidio Nardi, um dos coordenadores do livro Distimia - do Mau Humor ao Mal Humor e que há 15 anos pesquisa transtornos do humor, o distímico é alguém que não vê graça em praticamente nada. É muito pessimista.
— Até se ganhar na loteria, achará um problema. Vai pensar que pode ser roubado — afirma o médico.
Nardi pondera que o mau humor ocasional — provocado por fatos como o time do coração perdeu ou porque não dormiu muito bem — é normal e faz parte do cotidiano das pessoas. Também há aqueles que são mais bem humoradas do que outros, o que é uma questão de personalidade.
— Não podemos medicalizar o mau humor — completa.
Segundo Nardi, 3% da população brasileira tem distimia. A doença ataca mais mulheres do que homens. A proporção é de 2 mulheres para cada 1 homem.

Escala de humor
Uma única pergunta: como você se sente agora? A partir dela, são apresentadas 24 possibilidades de respostas. Elas compõem a Escala de Humor Brasileira (Brams), trabalho de mestrado desenvolvido na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). A dissertação de Izabel Rohlfs, orientada pelo professor Tales de Carvalho, é aplicada principalmente a atletas profissionais ou grupos de pacientes que usam treinamento físico.
A escala funciona como um instrumento, que aliado a outros dados, como frequência cardíaca e pressão arterial, podem indicar a Síndrome de Excesso de Treinamento (SET), que provoca baixo rendimento nos atletas.
— A gente tem uma visão do desportista como alguém relaxado e de bem com a vida. Mas o excesso de atividade pode ter reações adversas, como mau humor e depressão.
A escala foi desenvolvida dentro do núcleo de medicina do esporte da Udesc, mas pode ser usada para identificar alteração de humor em qualquer pessoa que está com sobrecarga, inclusive no trabalho.
— O mau humor coexiste com a sobrecarga, que pode ser física, no trabalho ou na vida social — afirma o professor.
O teste é simples. A pessoa dá uma nota de 0 a 4 para cada uma das 24 sensações propostas. Os números são somados e cruzados. Cada uma das sensações está relacionada com um dos seis tipos de estados de humor, identificados pela escala. São eles: tensão, depressão, raiva, vigor, fadiga e confusão.
Ao somar as notas, chega-se a um gráfico que identifica em qual das categorias está o entrevistado.
Segundo Carvalho, o mau humor também pode interferir na saúde. Substâncias relacionadas ao prazer, como endorfina e serotonina, melhoram o perfil cardíaco e vascular das pessoas.
A Escala de Humor Brasileira é uma tradução e adaptação da Escala de Humor de Brunel, usada por clubes do mundo inteiro para monitorar o treinamento dos atletas. Quando é verificado o humor alterado, a carga de treinamento é mudada.
A pessoa deve assinalar, em cada linha, o número que melhor descreve como se sente. O professor Carvalho explica que ela precisa ser aplicada por um especialista e dentro de um contexto para servir de subsídio a um diagnóstico.


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