segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Tanzânia: cratera de Ngorongoro é refúgio para 25 mil mamíferos

A caldeira de Ngorongoro e seu lago são um pequeno paraíso para a vida selvagem.

Chegamos à entrada da Área de Conservação Ngorongoro. Estamos na borda de uma imensa cratera circular de quase 20 km de diâmetro. A vista lá de cima é surpreendente, pois o interior do vulcão aparece como um enorme buraco, a 600 metros abaixo de onde estamos. No centro, um lago fornece água aos habitantes do lugar. Cerca de 25 mil mamíferos selvagens consideram Ngorongoro como morada, mas nenhum ser humano – com exceção de alguns pesquisadores –passa a noite na reserva, dentro da cratera. Aliás, esse é o aviso mais importante que recebemos na entrada. “Vocês precisam sair da cratera antes das 17:30. Nesse hora, um guarda-parque coloca um cadeado na guarita de saída e quem ficar para trás vai dormir com os leões – além de ter de pagar uma boa multa”, avisa o guarda-parque.
Ngorongoro é uma das maravilhas naturais do planeta. Há dois ou três milhões de anos, o vulcão teria explodido e seu cone colapsado sobre si mesmo. A caldeira criada acabou formando um ecossistema particular. É a maior e mais completa caldeira existente no mundo, cercada por paredes quase intactas do antigo vulcão. Dentro dessa área espontaneamente protegida, dezenas de espécies de mamíferos proliferaram.
Graças ao apoio que recebemos do Conselho de Turismo da Tanzânia (TTB), da instituição Parques Nacionais da Tanzânia (TANAPA) e da empresa Pongo Safaris, a taxa de 200 dólares por veículo – para descer dentro da cratera – e a de 50 dólares por pessoa foram dispensadas. Ufa, que alívio! Mas a contribuição é importante, pois alimenta os trabalhos de conservação de Ngorongoro com alguns milhões de dólares anuais. O preço alto também inibe um número maior de visitantes, diminuindo o impacto ambiental em um ambiente tão frágil. Na prática, é impossível para mochileiros descerem a Ngorongoro por conta própria.
A primeira surpresa que encontramos é um elefante macho. Ele é o maior elefante que já vi na vida e também o maior dentro da cratera. Sua presa mede quase dois metros e está bem próxima ao solo. Como as presas nunca param de crescer, não é difícil calcular que o gigante também deve ser o mais idoso de todos.

Um gigantesco elefante, com suas presas de quase dois metros, alimenta-se próximo a um dos paredões que limita a cratera de Ngorongoro.

Os leões de Ngorongoro possuem uma história bem particular e nem sempre saudável. Há algumas décadas, devido aos cruzamentos entre o grupo fechado de animais, isolados de seus parentes do parque Serengeti, muitos leões começaram a nascer com problemas de consanguinidade. Além disso, a população foi vítima de ataques cíclicos de moscas do gênero stomoxys. Em 1962, a população de 70 leões teria sido reduzida a 10. Em 2001, um novo surto matou quase uma dezena de animais. Hoje, calcula-se que a população esteja entre 60 e 80 leões, mas os problemas genéticos ainda não foram resolvidos.
Encontramos duas leoas dormindo na savana. Decidimos estacionar e esperar para ver o que pode acontecer. Noto que, a cada 10 ou 15 minutos, uma delas acorda, levanta, boceja, dá uma olhada ao redor e depois volta a encontrar uma relva confortável para dormir. Como a cratera é pequena, passamos pelo mesmo lugar (onde as leoas descansavam) várias vezes, para não perdê-las de vista.
Somente às 17 horas, quando já estava na hora de sair da reserva, é que elas acordaram. As duas amigas dão um delicado banho de língua uma na outra, mas ainda fora de nosso campo de visão. Enquanto isso, o tempo vai passando e nós estamos preocupados com o cadeado da guarita. Tentamos ficar ainda 10 minutos?

Depois de descansar, uma das leoas resolve que a sesta terminou e que está na hora de comer.

Finalmente, uma delas se levanta e começa a caminhar. Ela passa a 10 metros de distância de onde estamos. A amiga segue atrás. Elas cruzam a estrada e seguem em direção a um grupo de gnus. Certamente elas vão esperar escurecer para dar o bote e conseguir o jantar. Os leões de Ngorongoro podem ter problemas genéticos, mas suas dimensões são maiores do que a média, pois aqui a comida é farta e fácil.

Haroldo Castro

Época


Viajologia

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