sábado, 20 de novembro de 2010

Promotor vê omissão de pais de agressores da avenida Paulista, em SP


O promotor Tales Cezar de Oliveira, da Infância e Juventude da capital, critica os pais dos adolescentes envolvidos na agressão contra outros jovens na avenida Paulista, em São Paulo, na manhã de domingo (14). Primeiro, por permitir que estivessem numa balada até as 6h. Depois, por defendê-los. "Bom pai é o que diz "não'", disse ele. Leia trechos abaixo.

Folha - Qual foi a sensação do sr. ao ver as imagens?
Tales Cezar de Oliveira - A sensação, como cidadão, assim como provavelmente deve ter sido com 99% das pessoas, de absoluta repulsa ao ato gratuito de violência.
Isso mostra que a violência urbana está chegado a um ponto extremamente complicado. Nós, cidadãos de bem, estamos ilhados. Por quê?
Porque o Estado está fraco. Ele não tem uma política pública social de prevenção. E, ao mesmo tempo, o Estado repressor é fraco.
Nós, cidadão honestos, estamos entregues à própria sorte.
No lugar desse cidadão agredido poderia ter sido eu, você, minha esposa, meu filho... Qualquer um de nós.
Os pais chegaram a dizer que são meninos de bem, não são violentos, e só reagiram.
Isso só demonstra por que esses filhos chegaram aonde chegaram. Pais omissos, que passam a mão na cabeça dos filhos. Pais que acham que ser bons pais é proteger o filho, não dizer "não" ao filho.
O bom pai é aquele que castiga o filho, desde pequeno, quando faz uma coisa errada. Para ele aprender, quando for grande, os limites das outras pessoas.
O bom pai é aquele que diz "não".
Um bom pai jamais permitiria que o filho menor de 18 anos ficasse até as 6h numa balada.
Isso demonstra claramente que a família falhou em algum momento na educação dos filhos.
O que pode acontecer com esses pais?
Não vou dizer sobre esse caso específico.
Mas, sempre que estivermos diante de um caso de falha do pai ou da mãe na educação do filho, o estatuto [da Criança e do Adolescente] prevê medidas aplicáveis aos pais, como orientação social e psicológica.
Há muita gente com dinheiro sem estrutura psicológica para enfrentar a vicissitude do dia a dia.

ATAQUES
Os jovens suspeitos são de classe média, e, conforme relatos iniciais, as agressões ocorreram sem motivo aparente.
Em dois desses ataques a polícia diz haver indícios de motivação homofóbica. As agressões eram feitas com chutes, socos e até com bastões de luz branca. Duas das vítimas foram socorridas em hospitais da região. Os agressores foram reconhecidos.
Advogados e parentes dos cinco jovens, quatro deles adolescentes de 16 e 17 anos, dizem haver um exagero por parte da polícia e o que houve foi apenas "uma confusão que acabou em agressão".
Dois dos ataques ocorreram por volta das 6h30 próximo à estação Brigadeiro do Metrô, na av. Paulista. Os jovens, segundo a família e advogados, voltavam de ônibus de uma festa em Moema.
De acordo com as vítimas Otávio Dib Partezani, 19, e Rodrigo Souza Ramos, 20, eles estavam próximos a um ponto de táxi quando viram o grupo caminhar na direção de ambos, mas sem demonstrar qualquer agressividade.
Mas quando o grupo chegou próximo aos dois iniciou os ataques. O grupo dizia, segundo as vítimas, "Suas bichas", "Vocês são namorados!". Rodrigo fugiu para o Metrô, quando Otávio foi agredido por três rapazes. Logo após essa agressão, o quinteto atacou outro jovem, Luís, 23, que estava com dois colegas. Ele foi ferido no rosto e na cabeça com lâmpadas de bastão. Os colegas não foram agredidos, segundo a polícia. O sobrenome dele foi preservado a pedido dele.
Testemunhas que viram as agressões chamaram a PM e os jovens foram levados para o 5º DP (na Aclimação). O agressor de 19 anos chegou a ser preso, mas foi liberado para responder em liberdade.

Rogério Pagnan


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