quinta-feira, 16 de julho de 2009

Cadeirante salta de pára-quedas


Acometido pela paralisia infantil, Seninha realizou o sonho de voar e saltar de pára-quedas com ajuda de instrutor
Luciana La Fortezza

Se a vida cumprisse o roteiro exato das expectativas individuais, Walmi Silva Coelho, o Seninha, seria piloto de aviões. O destino, porém, é (quase) imprevisível. Com 1 ano e 6 meses, ele foi acometido por paralisia infantil. Mas o problema não lhe alijou de conquistas e da realização de sonhos. Ontem, aos 39 anos, Seninha matou o desejo de andar numa aeronave e de saltar de pára-quedas.Passou pelas duas experiências num dia lindo, na companhia de amigos que trabalham com ele num posto de combustível em Bauru. Seninha é frentista, famoso pelo bom humor. “Meu avô contava do bisavô dele, durante a guerra. Um dia, viu um zepelim passar à noite. E eu ficava só imaginando”, comenta. Desde criança, Seninha admirava as conquistas de Santos Dumont. Muitos anos depois de divagar nas histórias ouvidas na infância, encontrou na colega de trabalho Elaine Kato o respaldo que precisava para se jogar em queda livre.Aventureira como ele, decidiram que fariam o salto – acompanhado ontem por um dos proprietários do posto, Luciano Tane, e do filho dele, Thiago Tane. A ansiedade, porém, começou bem antes do avião decolar. A emoção assaltou o sono do frentista, que não fazia questão de escondê-la. Medo, no entanto, era mais fácil identificar na expressão dos outros. Seninha fez o salto duplo (com um instrutor) com a equipe de Paulo Assis da Sky Radical, o primeiro a saltar com uma pessoa com deficiência na América do Sul, em 1997.Diferencial“A experiência foi mais um estímulo para ele”, conta. Como Seninha não tem controle das pernas, elas foram amarradas para evitar que se chocassem e provocassem contusão. Presas, também facilitaram a navegação do pára-quedas por parte do instrutor. O frentista saltou de uma altura de 3,5 mil metros. Foram 45 segundos de queda livre e mais cerca de cinco minutos com o pára-quedas aberto. “Esperamos outros cadeirantes, além dos interessados em geral, para o Festival de Pára-quedismo nos dias 1 e 2 de agosto, em comemoração ao aniversário de Bauru”, acrescenta Assis. De acordo com ele, outro diferencial do salto de ontem foi o momento do pouso. Seninha foi orientado e erguer as pernas com as mãos para cair sobre as pernas do instrutor. “Recomendo a todos”, disse o frentista já em terra firme. As palavras, porém, não seriam necessárias. Seu rosto bastava. Pura satisfação. Como se as dificuldades nunca tivessem existido.“Hoje em dia levo melhor (as restrições da vida de um cadeirante). Não fico mais revoltado. Tem limitação, mas dá para superar. Trabalho, pago meus impostos, vou para os lugares de van, ônibus, de cadeirinha mesmo. Quem gosta de mim tem que gostar assim”, afirma. Seninha, no entanto, não gosta de ser considerado exemplo. “Porque é muita responsabilidade. O que eu gosto de dizer é corra atrás do seu sonho. Quem não tenta, não consegue”, finaliza.

Fonte: JCNet

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