RIO - Difícil imaginar que o mico-de-cheiro, o sagui-estrela, o gato e o coral-sol (comum na Ilha Grande) representem perigo a animais e plantas que vivem ao seu redor. Mas eles e outras 11 mil espécies, quando fora de seu habitat, representam a segunda maior ameaça à biodiversidade mundial (a primeira é a destruição de habitat), segundo um relatório da ONU.
Combater as espécies invasoras, como são conhecidas, é uma missão árdua. Levadas para ambientes onde não têm predadores, elas proliferam e se tornam um pesadelo para plantas e animais nativos - inclusive espécies ameaçadas de extinção. Os invasores caçam espécies nativas e competem com elas por alimento e espaço.
É difícil controlar as espécies invasoras. Elas quase sempre são introduzidas - inadvertidamente ou não - pelo homem. E a maioria das pessoas desconhece que aquelas plantas e animais tão bonitos tenham se tornado uma ameaça ambiental. Não são todos que entendem, por exemplo, que no Rio saguis precisam ser capturados e removidos para locais onde não representarão uma ameaça a outras espécies. Ou que gatos domésticos não devem andar por florestas.
Terror no paraíso gelado: Sagui invasor coloca em risco ave nativa do Rio
Maio trouxe boas notícias para o formigueiro-do-litoral, a quarta ave mais ameaçada de extinção da Terra. Dois de seus maiores predadores, o mico-estrela e o sagui-de-tufo-branco começam a ser controlados em Saquarema. Os primatas, originários do Cerrado e da Mata Atlântica nordestina, têm sido removidos das áreas de proteção ambiental por cientistas da Uerj, juntamente com o Inea e apoio da Save Brasil (BirdLife International). A intervenção foi necessária para garantir o futuro do pássaro, cujo habitat é uma faixa com pouco mais de 70 quilômetros, entre Búzios e Saquarema.
- Além dos saguis predadores, o formigueiro-do-litoral também precisa enfrentar a destruição do habitat, decorrente da especulação imobiliária - lamenta a ecóloga Maria Alice Alves, coordenadora de pesquisas. - Levamos os saguis para um centro de primatas mantido pelo governo estadual, onde não representarão mais uma ameaça e serão bem tratados. O mico-estrela e o sagui-de-tufo-branco estão provavelmente se hibridizando na região. As pessoas devem ser alertadas dos riscos da soltura desses animais em áreas onde naturalmente não ocorrem, como é o caso da restinga onde vive o formigueiro-do-litoral. A remoção de um grupo de saguis é o primeiro passo, mas é necessário dar continuidade à remoção dos invasores.
Certas espécies de primatas se tornaram uma ameaça para a fauna nativa do Rio, mesmo aquela supostamente protegida por unidades de conservação. Na Reserva de Poço das Antas, próximo a Silva Jardim, um sagui proveniente do Cerrado compete com o vulnerável mico-leão-dourado, roubando um espaço que seria exclusivo desta espécie.
A remoção de animais e plantas invasoras tem resultados concretos, segundo a Convenção sobre Diversidade Biológica, vinculada à ONU. Livres de seus concorrentes, os mamíferos veem aumentar sua chance de sobrevivência em 5% - entre as aves, este índice é o dobro.
- As espécies invasoras são uma ameaça silenciosa - alerta Helena Bergallo, do Departamento de Ecologia da Uerj. - Quando se adaptam a um ecossistema diferente do seu, elas se desenvolvem sem encontrar limites à sua expansão. Ali não há, como em seu habitat, parasitas nem predadores que contenham aquela população, um desafio com que as espécies nativas precisam conviver.
Combater as espécies invasoras, como são conhecidas, é uma missão árdua. Levadas para ambientes onde não têm predadores, elas proliferam e se tornam um pesadelo para plantas e animais nativos - inclusive espécies ameaçadas de extinção. Os invasores caçam espécies nativas e competem com elas por alimento e espaço.
É difícil controlar as espécies invasoras. Elas quase sempre são introduzidas - inadvertidamente ou não - pelo homem. E a maioria das pessoas desconhece que aquelas plantas e animais tão bonitos tenham se tornado uma ameaça ambiental. Não são todos que entendem, por exemplo, que no Rio saguis precisam ser capturados e removidos para locais onde não representarão uma ameaça a outras espécies. Ou que gatos domésticos não devem andar por florestas.
Terror no paraíso gelado: Sagui invasor coloca em risco ave nativa do Rio
Maio trouxe boas notícias para o formigueiro-do-litoral, a quarta ave mais ameaçada de extinção da Terra. Dois de seus maiores predadores, o mico-estrela e o sagui-de-tufo-branco começam a ser controlados em Saquarema. Os primatas, originários do Cerrado e da Mata Atlântica nordestina, têm sido removidos das áreas de proteção ambiental por cientistas da Uerj, juntamente com o Inea e apoio da Save Brasil (BirdLife International). A intervenção foi necessária para garantir o futuro do pássaro, cujo habitat é uma faixa com pouco mais de 70 quilômetros, entre Búzios e Saquarema.
- Além dos saguis predadores, o formigueiro-do-litoral também precisa enfrentar a destruição do habitat, decorrente da especulação imobiliária - lamenta a ecóloga Maria Alice Alves, coordenadora de pesquisas. - Levamos os saguis para um centro de primatas mantido pelo governo estadual, onde não representarão mais uma ameaça e serão bem tratados. O mico-estrela e o sagui-de-tufo-branco estão provavelmente se hibridizando na região. As pessoas devem ser alertadas dos riscos da soltura desses animais em áreas onde naturalmente não ocorrem, como é o caso da restinga onde vive o formigueiro-do-litoral. A remoção de um grupo de saguis é o primeiro passo, mas é necessário dar continuidade à remoção dos invasores.
Certas espécies de primatas se tornaram uma ameaça para a fauna nativa do Rio, mesmo aquela supostamente protegida por unidades de conservação. Na Reserva de Poço das Antas, próximo a Silva Jardim, um sagui proveniente do Cerrado compete com o vulnerável mico-leão-dourado, roubando um espaço que seria exclusivo desta espécie.
A remoção de animais e plantas invasoras tem resultados concretos, segundo a Convenção sobre Diversidade Biológica, vinculada à ONU. Livres de seus concorrentes, os mamíferos veem aumentar sua chance de sobrevivência em 5% - entre as aves, este índice é o dobro.
- As espécies invasoras são uma ameaça silenciosa - alerta Helena Bergallo, do Departamento de Ecologia da Uerj. - Quando se adaptam a um ecossistema diferente do seu, elas se desenvolvem sem encontrar limites à sua expansão. Ali não há, como em seu habitat, parasitas nem predadores que contenham aquela população, um desafio com que as espécies nativas precisam conviver.
Nas ilhas, onde animais e plantas estão isolados - e, portanto, menos acostumados à competição -, as espécies nativas são mais vulneráveis. Nesses ambientes, invasores são a principal causa de redução da biodiversidade.
Um dos casos mais devastadores é o coral-sol, espécie do Pacífico que chegou à Ilha Grande 20 anos atrás e já é encontrada até em Salvador. Sua reprodução, mais acelerada do que a de espécies nativas, e seus hábitos alimentares deslocam outros animais dos costões.
- É uma espécie com crescimento exponencial, que desestrutura as comunidades de costões rochosos - ressalta Joel Creed, do Departamento de Ecologia da Uerj e coordenador do Projeto Coral-Sol. - O animal, que pegou carona em plataformas de petróleo para chegar à Ilha Grande, tornou-se um problema nacional.
O Projeto Coral-Sol, patrocinado pela Petrobras, quer financiar a coleta dos animais e seu uso como artesanato, e se livrar dos invasores em 20 anos. Além de virem incrustadas em navios, as espécies marinhas podem aportar em áreas desconhecidas misturadas à água de lastro, usada como contrapeso em embarcações. Embora a legislação obrigue a troca desta água antes da chegada ao litoral, a medida não costuma ser seguida - e tampouco fiscalizada.
- Estas espécies, no mar ou em terra firme, são agressivas e colonizadoras de ambientes novos - explica Silvia Ziller, engenheira florestal e diretora-executiva do Instituto Hórus.
Sediado em Florianópolis, o Hórus é especializado em traçar iniciativas de combate a espécies invasoras - trabalho que faz, atualmente, para dois governos sul-americanos (Uruguai e Colômbia), seis estados brasileiros e duas prefeituras. E a clientela tende a aumentar. As mudanças climáticas, segundo os pesquisadores, prometem mexer com a distribuição de animais e plantas nativos, dando ainda mais espaço para as invasoras se estabelecerem.
- Alterações de temperatura farão com que as espécies sejam obrigadas a mudar - diz Michele Dechoum, bióloga do Hórus. - Muitas podem concentrar-se em uma área menor à que ocupam atualmente. Todo o espaço vago será ocupado pelas invasoras.
Essas espécies também tomarão posse de regiões degradadas por fenômenos naturais, como furacões e enchentes - que, segundo modelos climáticos, também devem ocorrer com maior frequência nas próximas décadas.
- O planeta vai se tornar ainda mais vulnerável a espécies invasoras - afirma Helena. - Este é um motivo para chamarmos tanta atenção para elas. Pode ser mais difícil combatê-las do que lutar contra o desmatamento, por exemplo, que produz estragos visíveis.
Gatos, indesejados na Ilha Grande
Além do projeto de combate ao coral-sol, a Ilha Grande é um laboratório para outras batalhas pela biodiversidade. Um grupo do Departamento de Ecologia da Uerj monitora os três principais portos de saída de barco para a ilha - Angra dos Reis, Conceição de Jacareí e Mangaratiba - para tentar impedir a chegada de espécies indesejadas. Entre as preocupações, há algumas que causam espanto à primeira vista. Os gatos, por exemplo, são considerados perigosos, por terem se disseminado além da conta. Em certas localidades, é possível encontrar até 1.500 deles em um quilômetro quadrado.
- É sempre um animal problemático - ressalta Helena Bergallo, que está à frente do trabalho na Ilha Grande. - Mesmo sendo doméstico, ele ataca por instinto, e, assim, pode comprometer o futuro de espécies vulneráveis.
Há relatos, segundo Helena, de que apenas um gato, levado a uma ilha junto à Nova Zelândia por seu dono, teria sido responsável pela extinção de uma espécie de pássaro. A ave, acostumada a um ambiente sem predadores, não voava e logo foi caçada e extinta.
Entre as plantas não é diferente. No Rio, a jaqueira é uma invasora nociva para a flora e a fauna nativas. Basta conferir alguns trechos da Floresta da Tijuca e ver que a árvore não divide espaço com qualquer outra espécie.
- Ela parece ter substâncias químicas nas raízes que mudam a composição do solo, inviabilizando o crescimento de outras plantas - revela a pesquisadora. - Quando se instala num local, atrai animais, que, até então, alimentavam-se de insetos. Esse fenômeno provoca um grande descontrole populacional.
A equipe de Helena compara há três anos na Ilha Grande áreas com e sem jaqueiras, registrando animais e plantas presentes em cada cenário. Agora, os pesquisadores, junto com o Instituto Estadual do Ambiente, injetam herbicida para controlar a propagação da jaqueira. Essa é a única forma de reintroduzir espécies nativas em regiões dominadas pela invasora. É, também, um meio de ajustar os hábitos alimentares dos antigos predadores de insetos.
A Ilha Grande não é a única área verde a enfrentar problemas. O mico-de-cheiro, uma espécie ativa na Amazônia, se estabeleceu na Mata Atlântica, inclusive na Floresta da Tijuca.
- É, como em tantos casos, um grupo que foi apreendido e solto onde não devia - lamenta Michele. - Não força o deslocamento de outras espécies, porém come os ovos de aves ameaçadas.
Nos rios de todo o estado é possível encontrar a tilápia africana, introduzida em boa parte da América. Seu ingresso nas Américas, porém, foi feito de forma irresponsável.
- É uma espécie herbívora, e, por isso, não predadora, mas que consome material em suspensão na água e altera a composição da flora e fauna - explica Michele Dechoum, bióloga do Instituto Hórus. - São tantas as mudanças promovidas por ela que outros peixes não conseguem sobreviver.
As invasoras, além do desfalque à biodiversidade, doem o bolso das principais economias do mundo. Segundo a ONU, essas espécies já provocam prejuízos de US$ 1,4 trilhão, o equivalente a 5% do PIB global, em áreas como agricultura, comércio e turismo.
- É sempre um animal problemático - ressalta Helena Bergallo, que está à frente do trabalho na Ilha Grande. - Mesmo sendo doméstico, ele ataca por instinto, e, assim, pode comprometer o futuro de espécies vulneráveis.
Há relatos, segundo Helena, de que apenas um gato, levado a uma ilha junto à Nova Zelândia por seu dono, teria sido responsável pela extinção de uma espécie de pássaro. A ave, acostumada a um ambiente sem predadores, não voava e logo foi caçada e extinta.
Entre as plantas não é diferente. No Rio, a jaqueira é uma invasora nociva para a flora e a fauna nativas. Basta conferir alguns trechos da Floresta da Tijuca e ver que a árvore não divide espaço com qualquer outra espécie.
- Ela parece ter substâncias químicas nas raízes que mudam a composição do solo, inviabilizando o crescimento de outras plantas - revela a pesquisadora. - Quando se instala num local, atrai animais, que, até então, alimentavam-se de insetos. Esse fenômeno provoca um grande descontrole populacional.
A equipe de Helena compara há três anos na Ilha Grande áreas com e sem jaqueiras, registrando animais e plantas presentes em cada cenário. Agora, os pesquisadores, junto com o Instituto Estadual do Ambiente, injetam herbicida para controlar a propagação da jaqueira. Essa é a única forma de reintroduzir espécies nativas em regiões dominadas pela invasora. É, também, um meio de ajustar os hábitos alimentares dos antigos predadores de insetos.
A Ilha Grande não é a única área verde a enfrentar problemas. O mico-de-cheiro, uma espécie ativa na Amazônia, se estabeleceu na Mata Atlântica, inclusive na Floresta da Tijuca.
- É, como em tantos casos, um grupo que foi apreendido e solto onde não devia - lamenta Michele. - Não força o deslocamento de outras espécies, porém come os ovos de aves ameaçadas.
Nos rios de todo o estado é possível encontrar a tilápia africana, introduzida em boa parte da América. Seu ingresso nas Américas, porém, foi feito de forma irresponsável.
- É uma espécie herbívora, e, por isso, não predadora, mas que consome material em suspensão na água e altera a composição da flora e fauna - explica Michele Dechoum, bióloga do Instituto Hórus. - São tantas as mudanças promovidas por ela que outros peixes não conseguem sobreviver.
As invasoras, além do desfalque à biodiversidade, doem o bolso das principais economias do mundo. Segundo a ONU, essas espécies já provocam prejuízos de US$ 1,4 trilhão, o equivalente a 5% do PIB global, em áreas como agricultura, comércio e turismo.
Renato Grandelle
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