Acabo de saber que o goleiro Bruno - acusado de uns seis tipos de crime - passou mal na penitenciária de Minas Gerais. Duas coisas são certas de acontecer com personagens que nunca estiveram numa cadeia: aparecer com uma Bíblia nas mãos e necessitar de cuidados especiais. Três são absolutamente normais. E a terceira é pedir habeas corpus. A novidade nesse caso é que o goleiro não está colaborando com a Justiça e o esclarecimento dos fatos, ao se recusar a prestar depoimento na polícia e a ceder material para exame de DNA.
Advogados de gente famosa não custam caro à toa. Diferentemente dos neófitos, eles sabem manejar bem o Código de Processo Penal, que é de 1941 (talvez esteja ultrapassado em vários pontos). E a estratégia deles passa sempre por não produzir provas contra os próprios clientes, algo garantido pelo princípio do Código de Processo Penal, que prevê amplo direito de defesa aos acusados. Nada contra esse princípio, em que todos são inocentes até que se prove o contrário. Mas em termos de aparência a estratégia só mergulha Bruno cada vez mais na figura de culpado, em que pese sua negativa de que participou do crime.
Passar mal em cadeia no Brasil não é novidade. Superlotadas, as cadeias brasileiras são depósitos de pessoas - culpadas ou inocentes - cada vez mais abandonados pelo poder público e pela sociedade, que quer se vingar a todo custo dos criminosos, independentemente do tamanho da pena.
Criminoso aparecer com uma Bíblia logo depois de preso não tem nada a ver com conversão religiosa. Normalmente, religiosos, especialmente evangélicos e católicos, fazem trabalhos assistenciais nas prisões e, sempre que podem, distribuem Bíblias, como forma de proselitismo. E mesmo que toda a penitenciária se converta a qualquer tipo de fé isso não vai em hipótese alguma aliviar as penas determinadas pela Justiça. Os próprios religiosos deveriam se envolver em campanhas defendendo que, crentes ou não crentes, paguem suas dívidas com a Justiça dos homens. Infelizmente ou felizmente, a Justiça de Deus não tem nada a ver com a nossa.
A Justiça de Deus é básica. Se faz primeiro pela luz que é lançada em episódios que, se dependessem dos criminosos e seus cúmplices, ficariam eternamente escondidos. Essa luz vem por meio de pessoas que decidem falar ou são habilmente interrogadas, por investigações policiais eficazes e também pela ação responsável e persistente da imprensa. Como integrante da imprensa, lamento que ela não possa acompanhar de perto, pelo menos, todos os casos de homicídios. Não tenho dúvidas de que a impunidade seria menor.
Se a sociedade criasse redes de proteção mais eficientes, nenhum crime ficaria impune, sobretudo com a internet, em que qualquer pessoa passou a produzir conteúdo até mesmo jornalístico. Hoje não podemos mais dizer que a imprensa é culpada de tudo. Se a imprensa não se apresenta, vamos difundir a informação pelas redes sociais, por exemplo, até que a imprensa perceba a importância do evento.
No momento em que avança o processo penal de Bruno, a sociedade deveria também estar vigilante para não se deixar enganar por teses absurdas, de que Eliza cavou seu próprio destino. Trazer à tona o passado da vítima só contribui para atenuar a culpa de seus algozes. Ninguém tem o direito de tirar a vida de quem quer que seja. Por isso também sou contra a pena de morte, que é apenas a delegação ao Estado de mais um poder sobre nossas vidas.
Para quem quer entender melhor o Caso Bruno, veja a reconstituição do caso com base nos depoimentos de dois cúmplices, exibida no Fantástico de ontem. Me lembrou de um programa que eu gostava muito, mas que acabou - o Linha Direta.
Jorge Antonio Barros
Advogados de gente famosa não custam caro à toa. Diferentemente dos neófitos, eles sabem manejar bem o Código de Processo Penal, que é de 1941 (talvez esteja ultrapassado em vários pontos). E a estratégia deles passa sempre por não produzir provas contra os próprios clientes, algo garantido pelo princípio do Código de Processo Penal, que prevê amplo direito de defesa aos acusados. Nada contra esse princípio, em que todos são inocentes até que se prove o contrário. Mas em termos de aparência a estratégia só mergulha Bruno cada vez mais na figura de culpado, em que pese sua negativa de que participou do crime.
Passar mal em cadeia no Brasil não é novidade. Superlotadas, as cadeias brasileiras são depósitos de pessoas - culpadas ou inocentes - cada vez mais abandonados pelo poder público e pela sociedade, que quer se vingar a todo custo dos criminosos, independentemente do tamanho da pena.
Criminoso aparecer com uma Bíblia logo depois de preso não tem nada a ver com conversão religiosa. Normalmente, religiosos, especialmente evangélicos e católicos, fazem trabalhos assistenciais nas prisões e, sempre que podem, distribuem Bíblias, como forma de proselitismo. E mesmo que toda a penitenciária se converta a qualquer tipo de fé isso não vai em hipótese alguma aliviar as penas determinadas pela Justiça. Os próprios religiosos deveriam se envolver em campanhas defendendo que, crentes ou não crentes, paguem suas dívidas com a Justiça dos homens. Infelizmente ou felizmente, a Justiça de Deus não tem nada a ver com a nossa.
A Justiça de Deus é básica. Se faz primeiro pela luz que é lançada em episódios que, se dependessem dos criminosos e seus cúmplices, ficariam eternamente escondidos. Essa luz vem por meio de pessoas que decidem falar ou são habilmente interrogadas, por investigações policiais eficazes e também pela ação responsável e persistente da imprensa. Como integrante da imprensa, lamento que ela não possa acompanhar de perto, pelo menos, todos os casos de homicídios. Não tenho dúvidas de que a impunidade seria menor.
Se a sociedade criasse redes de proteção mais eficientes, nenhum crime ficaria impune, sobretudo com a internet, em que qualquer pessoa passou a produzir conteúdo até mesmo jornalístico. Hoje não podemos mais dizer que a imprensa é culpada de tudo. Se a imprensa não se apresenta, vamos difundir a informação pelas redes sociais, por exemplo, até que a imprensa perceba a importância do evento.
No momento em que avança o processo penal de Bruno, a sociedade deveria também estar vigilante para não se deixar enganar por teses absurdas, de que Eliza cavou seu próprio destino. Trazer à tona o passado da vítima só contribui para atenuar a culpa de seus algozes. Ninguém tem o direito de tirar a vida de quem quer que seja. Por isso também sou contra a pena de morte, que é apenas a delegação ao Estado de mais um poder sobre nossas vidas.
Para quem quer entender melhor o Caso Bruno, veja a reconstituição do caso com base nos depoimentos de dois cúmplices, exibida no Fantástico de ontem. Me lembrou de um programa que eu gostava muito, mas que acabou - o Linha Direta.
Jorge Antonio Barros
Muito oportuna e criteriosa a postagem com um texto que revela bom senso, algo tão em falta atualmente.
ResponderExcluirabçs
Atena