Conferencista participou de congresso sobre drogas na Capital
Atrair em vez de repelir. Esta é a máxima adotada pelo psicólogo e terapeuta familiar mexicano Ricardo Sánchez Huesca quando o assunto é o trato com os usuários de drogas. Durante o encerramento do 1º Congresso Internacional Crack e Outras Drogas, ontem, em Porto Alegre, Huesca apresentou fatores de risco que levam ao uso de entorpecentes.
O especialista aposta na afetividade para recuperar um dependente químico e diz que a escola pode ser um ambiente de resgate.
– Pais, professores, supervisores escolares devem ser ensinados a acolher o dependente químico, pois o viciado precisa se cercar de coisas saudáveis, se divertir para resistir ao consumo de drogas. Mas, para que isso ocorra, as famílias dos colegas, devem estar bem preparadas para lidar com a situação – diz.
Em contrapartida, o terapeuta relata que é no grupo de amigos que as crianças se espelham. Por isso, os pais precisam ficar atentos aos relacionamentos dos filhos.
Segundo o psicólogo, não é difícil estudar casos graves, pois são minoria.
– É mais do que um problema de saúde. É também um problema econômico e de estrutura social. É preciso ensinar o jovem a dizer não aos amigos e a ter autoestima – afirma.
Especialistas em combate às drogas do México, Colômbia, Argentina e Brasil dividiram experiências com os mais de mil participantes de nove Estados brasileiros durante os quatro dias do evento, que foi realizado no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Redução de danos
A redução de danos ganhou força na década de 1980 por causa do HIV, quando o Estado se sentiu obrigado a tomar alguma atitude para diminuir a epidemia. Com o passar dos anos, a ideia se ampliou e hoje existem vários métodos para fazer com que o usuário de drogas tenha uma vida menos destrutiva, de acordo com o especialista em Direitos Humanos, Domiciano Siqueira, presidente da Associação Brasileira de Redução de Danos:
– Aconselhava-se ao usuário de drogas que trocasse a seringa para evitar o contágio da aids. Por isso, até hoje se tem a ideia de que reduzir danos é apenas trocar o material de consumo da droga.
A opinião também é compartilhada pelo professor de medicina da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Goiás e psiquiatra Luís Gonzalo Gómez Barreto. Ele diz que é importante que os usuários procurem o tratamento o quanto antes para que não se precise atingir o estágio de redução de danos.
Tese gera polêmica
A teoria de que o crack atua no cérebro transformando homem em macaco, do psiquiatra Eduardo Kalina, diretor médico do Brain Center, em Buenos Aires, divulgada ontem, por Zero Hora, causou desconforto em especialistas que defendem o tratamento global do usuário de drogas. Para a psicóloga Sandra Torossian, da coordenação do congresso e integrante do Instituto de Psicologia da UFRGS, o problema não é somente clínico, mas também de saúde pública e de toda a sociedade.
– A dependência é tratável, mas não só com medicação. O tratamento inclui uma mudança de relação, com esse jovem se sentindo bem no seu contexto, tendo relações de saúde, de habitação, de alimentação. A droga não é uma questão moral unicamente – defende Sandra.
ZERO HORA
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